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17 de Março de 2017 às 11:10

A esquina do Rio

Uma das manifestações da esquizofrenia é a dificuldade em distinguir o que é ou não é real. Quando olho para algumas coisas que se passam neste rectângulo à beira-mar plantado, penso que há aqui um ar esquizofrénico que se traduz em dois discursos

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À medida que vamos vivendo, devemos sempre saber porque vivemos e como vivemos.
Séneca

Resistência
Uma das manifestações da esquizofrenia é a dificuldade em distinguir o que é ou não é real. Quando olho para algumas coisas que se passam neste rectângulo à beira-mar plantado, penso que há aqui um ar esquizofrénico que se traduz em dois discursos: de um lado, o Governo, que destaca as "boas notícias", um discurso emocional destinado às famílias e que tem por efeito estimular o consumo e criar um ambiente despreocupado; do outro, estão empresas que convivem com a economia real, que se preocupam pela demora nas decisões, pela dificuldade em decidir investimentos, pela falta de confiança no desenvolvimento da economia. É como se vivêssemos num país a duas velocidades, onde as pedaladas da geringonça de São Bento dão para chegar a Belém, mas não conseguem colocar o resto do país em velocidade de cruzeiro. Há aqui dois discursos, o do Governo e o outro - e este outro não é da oposição, que nem sequer consegue manifestar um discurso coerente. Aqui, o outro é de observadores, especialistas, portugueses que chamam a atenção para os perigos, desde o irrealismo das previsões económicas até ao descontentamento face aos políticos. Nestes tempos, a demagogia e a retórica andam de mãos dadas e raras vezes foram tão dominantes no discurso do poder como agora são. A minha ambição é que se comece a perceber a importância de surgir uma resistência, aquele estado de espírito que surge quando tomamos consciência de que de um lado estamos nós e, do outro, estão eles. E que o que eles fazem não é bom para nós, Portugal.

Semanada
 600 médicos pediram para emigrar em 2016, um aumento de 29% face a 2015; o turismo criou mais de 27 mil novos empregos no ano passado  o Governo anunciou querer duplicar, no espaço de 10 anos, as receitas geradas com o turismo, passando dos 12,7 mil milhões de euros de 2016 para 26 mil milhões em 2026  Assunção Cristas revelou que o Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca  Assunção Cristas afirmou, numa entrevista, que ler o novo livro de Cavaco Silva não está no topo das suas prioridades  segundo o Portal da Opinião Pública, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a percentagem de portugueses que confia nos partidos está abaixo dos 20% desde 2006 e, nesta segunda década do século XXI, o valor médio tem rondado os 15%  os ajustes directos pesam 35% na contratação de obras públicas  os Tribunais são o serviço público dependente do Estado com maior número de reclamações no Portal da Queixa  segundo a Marktest, durante o ano de 2016, os sites de televisão receberam 4,9 milhões de visitantes  o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras deu mais vistos gold a turcos nos dois primeiros meses deste ano do que em todo o ano de 2016  agricultores e empresas espanholas controlam metade da área do olival e três quartos da área de amendoal do Alqueva  o número de casas arrendadas caiu 40% nos últimos cinco anos.

Provar
Os entendidos consideram a galinhola um dos grandes petiscos que a caça de aves proporciona. Oriunda do norte da Europa, a galinhola migra durante o Inverno para zonas menos frias e vêm cá parar algumas. Diz-se que a galinhola é a única ave de caça que é comida sem desperdícios - desde os miolos à tripa. Tem uma carne saborosa, de paladar único, que exige uma confecção simples e sabedora. É preciso provar uma, bem feita, para perceber aquilo de que falo. Um destes dias tive a sorte de o poder fazer num restaurante de que aqui já tenho falado, O Apuradinho, onde o casal que comanda os destinos da casa, a Bé e o Albano, preserva as melhores tradições portuguesas que, nesta época, continuando na caça, inclui um precioso civet de lebre. Estas duas iguarias estão disponíveis mediante encomenda ainda durante algum tempo, até as estações do ano trazerem outra matéria-prima. Da galinhola devem deixar-se apenas os ossos e o bico, grande nesta espécie. É uma ave relativamente pequena que, em Portugal, tem a particularidade de se ter tornado numa espécie permanente nos Açores. Geografias à parte, o que vos quero dizer é isto: com batatinhas e cebolinha, estufada, uma galinhola é um petisco dos deuses. Experimentem-na, enquanto a houver e mediante marcação, n'O Apuradinho, Rua de Campolide 209, telefone 213 880 501.

Gosto
"São Jorge", o filme de Marco Martins com Nuno Lopes, teve mais de 10.000 espectadores no fim-de-semana de estreia.

Não gosto
Em 2016, o Observatório Nacional da Diabetes registou 168 novos casos diagnosticados da doença, que já afecta mais de 40% dos adultos em Portugal.

Ouvir
Atirar de repente com 50 canções para cima da mesa nunca é uma atitude rotineira. Mas temos de convir que Stephin Merritt, o homem que personifica The Magnetic Fields desde o início da década de 90, não se enquadra na definição de rotina. A coisa foi feita de forma a que cada uma das 50 canções represente um ano da vida do autor - é, portanto, uma autobiografia escrita em 50 canções. Aqui há de tudo - desde a história de um gato, aos amores vividos pela mãe do autor, passando pelas suas observações sobre o estado do mundo e o seu relacionamento com outras pessoas. "50 Songs Memoir" tem, ainda por cima, uma luxuosa edição, uma caixa com um pequeno livro que inclui uma entrevista com Merritt e reproduções dos 50 manuscritos das canções incluídas em outros tantos CD's, cada um com capa diferente. Já antes, em finais dos anos 90, The Magnetic Fields tinha dado que falar com a edição de "69 Love Songs", um triplo álbum cujo conceito base é, de certa forma, aqui retomado. Neste tempo de música passageira e paisagística, digamos assim, estas são canções que nos encantam como as pequenas histórias. Afinal, cada uma delas conta. "Rock'n'roll will ruin your life and make you sad," - canta Merritt, entre revelações, observações e ironias marcantes - cada uma delas com diferentes arranjos e instrumentações, numa paleta demonstrativa dos seus talentos musicais. Edição Nonesuch, já distribuída pela Warner em Portugal.

Arco da velha
A Comissão Nacional de Protecção de dados entende que a morada única digital, pretendida pelo Estado, potencia o crime informático e gera cruzamento de dados sem precedentes. Entretanto, a informação digital de utentes do Serviço Regional de Saúde dos Açores foi parar ao site da ARS do Alentejo.

Folhear
A editora Guerra & Paz apresenta este livro sem disfarces - trata-se do relato de "um rasto de sangue e morticínio: a França invade Portugal", a história trágica e opressiva da primeira invasão francesa comandada por Junot. O seu autor é Raul Brandão e a edição, disponível nas livrarias na próxima semana, surge por ocasião dos 150 anos do nascimento do escritor. "El-Rei Junot" foi originalmente publicado em 1912 e trata-se de um romance combinado com uma investigação histórica sobre esse negro período do saque de Portugal feito pelos franceses. Tenho para mim que este é um bom livro para oferecer ao Embaixador de França e aos seus acólitos, para que conheçam aquilo que um dos maiores escritores portugueses escreveu sobre o que Portugal sofreu nesse ano de 1807, quando os exércitos francês e espanhol, comandados pelo napoleónico Junot, nos invadiram, provocando um rasto de sangue, violações, mortes e roubos. Com a corte portuguesa fugida para o Brasil, uma revolta popular, apoiada pelo exército inglês, expulsa o invasor e impõe-lhe uma pesada e saborosa derrota. Esta edição da Guerra & Paz, "El-Rei Junot" é um "clássico quase esquecido que importa recuperar, uma obra que nos revela um Portugal a ferro e fogo". A presente edição inclui extratextos da edição de 1919, a cronologia da Primeira Invasão Francesa e apontamentos biográficos das principais personagens.

Dixit
Os partidos políticos deturparam o espírito da democracia republicana e passaram a sujeitar tudo às conveniências dos seus aparelhos.
Nuno Garoupa

Ver
Começamos pela Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens 38, ao Chiado), onde Jorge Nesbitt fez reviver a arte da gravura a linóleo com uma série de obras (cada uma com tiragem de apenas três exemplares no formato 100x70). Estas obras de Nesbitt retomam a tradição das naturezas mortas, com um pequeno desvio tecnológico: Nesbitt encontrou na net as imagens que utilizou, manipulou-as e depois imprimiu-as em papel de fotocópia. E foi a partir dessa imagem que trabalhou o linóleo para as obras que agora apresenta (como a que está na imagem). O formato escolhido evoca os cartazes de rua, remetendo mais uma vez para a obtenção de múltiplos através da gravura, que foi o primeiro método de reprodução a partir de uma matriz, como o linóleo neste caso. Outras sugestões: na Galeria do Parque, em Vila Nova da Barquinha, Valter Vinagre expõe até 31 de Maio fotografias sob o título "A Voz Na Cabeça"; no bairro de Alvalade, abriram quinta-feira três exposições "Fiducia Incorreggibile", de Joana Escoval, na Galeria Vera Cortês, "Restless Until It Becomes Gold", de Edgar Pires, na Appleton Square, e "Wails And Torsos", de Gonçalo Sena, na Galeria Quadrado Azul; do outro lado da cidade, no Beato, na Galeria Baginski, Mariana Gomes expõe "Romanian Dances"; finalmente, no CCB, está uma revisitação da obra de Mário Cesariny, "De Cor e Salteado".



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