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22 de Maio de 2015 às 10:35

A esquina do Rio

Daqui a menos de cinco meses teremos eleições legislativas. Todos conhecemos o nível de abstenção, que tem aumentado, da mesma forma que tem aumentado o número de partidos presentes nos boletins de voto.

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Todos os grandes avanços no conhecimento implicaram a rejeição da autoridade estabelecida.
Thomas H. Huxley


Promessas
Daqui a menos de cinco meses teremos eleições legislativas. Todos conhecemos o nível de abstenção, que tem aumentado, da mesma forma que tem aumentado o número de partidos presentes nos boletins de voto. Em quatro décadas, desde 1974, o regime conseguiu descredibilizar-se e foi progressivamente afastando as pessoas da participação. Chegámos onde chegámos apesar de promessas mirabolantes, de programas político-partidários detalhadíssimos, de proclamações de intenções irrepreensíveis.
Tornou-se um nefasto hábito prometer durante a campanha eleitoral o que se renega quando se chega ao Governo. Tomar uma decisão de voto com base nesses programas e nessas promessas tem-se revelado uma péssima opção. Melhor seria que cada um votasse avaliando o que tem sido a actuação de cada partido, quando tem poder e quando está na oposição, avaliando o comportamento dos seus dirigentes em questões como, por exemplo, a corrupção. Vamos eleger deputados - vigiemos então o que fizeram.
O regime de presenças e faltas da Assembleia da República diz que a palavra do deputado faz fé, não carecendo por isso de comprovativos adicionais. Acontece que, como se tem demonstrado, a palavra dos políticos não é de fiar. A palavra dos políticos faz fé de muito pouca coisa e as faltas dos deputados são caso que merecia ser investigado e divulgado em ano eleitoral. Se a palavra dos políticos fizesse fé, não estávamos na crise em que estamos. Chegámos a um ponto onde o dilema é votar no mal menor - olhar para trás e ver quem perante a realidade criou problemas e quem procurou soluções.


Semanada
• O Estado gasta 3,5 milhões por ano com o policiamento dos jogos da I Liga • a Câmara Municipal de Lisboa ignorou o parecer da PSP sobre os riscos das celebrações no Marquês do Pombal • a ministra da Administração Interna manifestou-se incomodada com as acusações ao oficial da polícia que em Guimarães teve um comportamento selvagem • o próprio oficial da PSP, segundo a imprensa, está consciente que exagerou • o referido oficial da PSP utilizou um bastão de aço que só pode ser utilizado em cenários de grande violência • o mesmo oficial já foi referenciado como um dos envolvidos nos excessos policiais em São Bento, a 14 de Novembro de 2012 • o comandante distrital de Braga da PSP afirmou, já depois dos incidentes, que o oficial em causa nas agressões "é um profissional exemplar" • existem 3.204 processos disciplinares a agentes e oficiais da PSP por motivos que vão da insubordinação ao abuso de autoridade ou uso excessivo da força • Portugal tem três milhões de pensionistas • desde 2010, reformaram-se 3.000 médicos e metade saiu dos centros de saúde • o Governo quer contratar até 400 médicos reformados para o Serviço Nacional de Saúde • faltam 800 médicos de família em todo o país • 90% do investimento privado nas florestas portuguesas é feito em plantações de eucaliptos • 4% da subida das exportações veio de novas empresas • as dívidas incobráveis atingiam 418 milhões de euros no final de Maio • o grupo de trabalho do Parlamento sobre enriquecimento ilícito nunca reuniu • Portugal é o país da União Europeia com maior aumento percentual na venda de carros novos com um aumento de 32,3% nos primeiros quatro meses do ano, contra uma média de 8,2%.


Dixit
As vítimas e os alvos dos conspiradores do Acordo Ortográfico não somos nós, são as criancinhas que não sabem defender-se. Deseducando-as sistematicamente, conseguirão enganá-las facilmente. A ignorância é a inocência. Pensarão, a partir deste ano, que só existe aquela maneira de escrever a língua portuguesa.
Miguel Esteves Cardoso


Folhear
Ansel Adams foi um dos grandes e inovadores nomes da fotografia norte-americana do século XX. Não só criou uma estética própria, como investigou e utilizou técnicas fotográficas, no alquimista tempo da película, que alteraram a maneira de muita gente trabalhar na câmara escura, desde a revelação dos negativos até à sua impressão em papel fotográfico.
Adams, que sempre teve preocupações ambientais bem antes de elas serem moda, foi um dos grandes divulgadores das paisagens americanas - as suas séries de imagens do Yosemite National Park ainda hoje são uma referência; a sua teoria das zonas, na exposição e impressão, proporcionou imagens de uma qualidade rara, baseadas na interpretação e manipulação do negativo através da impressão, em papel.
A sua criatividade, paciência e a sua sensibilidade criaram momentos únicos como uma das suas mais célebres imagens, "Moonrise", feita em 1941, em Hernandez, no Novo México. Mary Street A linder foi sua assistente e, nos últimos cinco anos de vida do fotógrafo, era o seu braço direito. É dela esta biografia de Ansel Adams, originalmente lançada em 1966 e agora revista e reeditada. "Ansel Adams - a biography" é um livro publicado pela Bloomsbury e em Portugal pode ser encontrado na FNAC ou através da Amazon.


Gosto
O português Cláudio Fontes foi eleito o investigador do ano por cem mil engenheiros químicos de toda a Europa.


Não gosto
Os taxistas de Lisboa querem estabelecer um preço fixo de 20 euros desde o aeroporto até qualquer destino no centro de Lisboa, em média o dobro do que era até aqui.


Provar
Estamos quase no Verão, época de saladas, peixes grelhados, refeições simples e frescas. Para tudo isto se exigem vinhos leves mas coerentes, vinhos que sejam frescos mas não sejam vazios. Vinhos destes, exemplares, são os brancos e rosés da Quinta do Monte d'Oiro, vinhos da região de Lisboa, em vinhas feitas por José Bento dos Santos. Uma das marcas da casa é a Lybra, que serve de ponto de entrada na extensa gama disponível. Para estes dias quentes recomendo duas opções da colheita de 2014: o Lybra Rosé, elaborado a partir da casta Syrah, levemente rosado, seco, boa acidez e frescura com 12.º; e o Lybra Branco, 13.º, feito a partir das castas Viognier, Marsanne e Arinto, aromático, fresco, a acompanhar muito bem carnes brancas e peixe. A relação quaildade-preço é muito boa.


Ouvir
Tó Trips é hoje em dia sobretudo conhecido pela sua vertente Dead Combo - mas tem boa discografia a solo e é nela que o seu talento de guitarrista mais se faz sentir. Confesso-me fã de Tó Trips desde que, há muitos anos, o ouvi pela primeira vez. É dos poucos músicos portugueses que, vindos da área do rock, tem uma abordagem virtuosa e pessoal com a guitarra, primeiro a guitarra eléctrica, mas também a clássica, acústica. Não é só o facto de ser um virtuoso: o mundo está cheio de virtuosos, malabaristas sem imaginação nem talento criativo.
Tó Trips tem esse talento, essa explosão de ideias que se traduz nas cordas de uma guitarra - sobretudo numa guitarra eléctrica. Em Janeiro deste ano, gravou o disco que agora está em distribuição nos formatos de CD e vinil - "Guitarra Makaka - Danças A Um Deus Desconhecido". Nas 12 faixas do disco faz questão de mostrar, em duas, que se sente tão à vontade com a guitarra clássica como com a guitarra eléctrica. Todas as composições são originais seus e permito-me destacar "Danças", "Baía das Negras", "Briza" ou "Makaka" - mas sei estar a ser injusto porque neste disco não há maus temas. Para quem gosta de guitarra, de a sentir tocada, este é um trabalho incontornável. Edição Mbari Música.


Arco da velha
Segundo um estudo da Entidade Reguladora da Comunicação, apenas 14% dos portugueses se afirmam muito interessados em notícias de política, mas nunca estiveram registados tantos partidos como para as próximas legislativas - pelo menos 22.


Ver
Aproveitando as viagens "low cost" aos Açores, começo por uma galeria em Ponta Delgada, a Fonseca Macedo, um exemplo do que se pode fazer longe dos grandes centros. Os seus responsáveis cultivam uma relação próxima com os artistas que expõem e são incontornáveis na vida cultural dos Açores - até 4 de Julho lá estará a "Inquietação" de Ana Vieira.
Passando para a Madeira, destaque para a exposição de desenhos de Teresa Gonçalves Lobo no Museu de Arte Contemporânea do Funchal, obras feitas entre 2005 e 2015 sob o título "Parte de Mim". Regressando a Lisboa, destaco, na Galeria João Esteves de Oliveira (Rua Ivens 38), "O Regresso de um Fauve", de André Derain e, na Galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho 71- r/c esq), e até 31 de Julho, duas mostras: o novo projecto SALA, de Teresa Pavão (na imagem), e o lançamento da nova série de múltiplos de Pedro Calapez: "5 Espaços em OPENSPACE", 2015, cinco impressões a cores sobre papel de algodão, em formato A3, numa edição de 20. Hoje em dia, as galerias são lugares vivos que acolhem os artistas contemporâneos, arriscam e dão oportunidade. Mas nem sempre foi assim. Quis o destino que no espaço de menos de um mês desaparecessem dois dos nomes que mais contribuíram para o que hoje achamos natural - descobrir obras novas, bem apresentadas em programações coerentes. Foi o que o Luís Serpa e Maria Nobre Franco fizeram, cada um na sua galeria, a partir da segunda metade dos anos 80, pondo em confronto artistas portugueses novos e consagrados com artistas estrangeiros. Ambos, cada um à sua maneira, desempenharam um papel único que abriu terreno a que outras galerias surgissem e a que novos artistas expusessem.

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