Opinião
A esquina do rio
Lembram-se de como era a vida antes da Internet? Qualquer dia, ninguém que seja profissionalmente activo se vai recordar do que era a vida antes dos e-mails, dos motores de busca, das redes sociais, dos smartphones e dos tablets.
Back to basics
A velocidade a que os rios desembocam nos oceanos não é tão veloz como a rapidez com que os homens cometem erros. Voltaire
Semanada
• A nova proposta de Lei da Cópia Privada está feita de tal forma que penaliza os criadores que utilizem sistemas digitais, taxando o equivalente de hoje em dia do papel, das telas, da película fotográfica ou dos instrumentos musicais • a Apple lançou uma campanha de publicidade nalgumas revistas norte-americanas, como a New Yorker, que exemplifica o potencial e a utilização do iPad no processo criativo de músicos, realizadores, coreógrafos e artistas plásticos • o valor dos empréstimos sem garantias feitos pelo Montepio ascende a dois mil milhões de euros • o número de vítimas mortais de acidentes de viação que consumiram estupefacientes aumentou nos últimos dois anos • Portugal tem o quinto maior défice comercial da União Europeia • a crise provocou um rombo de 14% no PIB português • o PS tem menos simpatizantes que militantes - de acordo com os números divulgados após um mês de angariação, o número de simpatizantes do PS não ultrapassa um terço do número de militantes • na distrital de Braga do PS verificou-se um surto de pagamentos de quotas em atraso que até pagou as quotas de pessoas entretanto já falecidas • uma mulher de 64 anos, de uma povoação perto de Ferreira do Zêzere, recebeu uma carta do Ministério da Defesa a convocá-la para o dia da Defesa Nacional, o equivalente à antiga inspecção militar • o Ministério da Educação colocou, nos seus quadros, uma professora que completa 70 anos no dia do arranque das aulas, o mesmo em que, por força da sua idade, terá obrigatoriamente que se reformar • dois em cada três portugueses aposta na lotaria e em jogos de sorte, revela um estudo da Marktest • no primeiro semestre de 2014, mais de três milhões de portugueses acederam a "sites" de rádio a partir de computadores pessoais.
Dixit
"Ou os administradores do BES eram nabos e incompetentes ou eram mentirosos".
Domingos Azevedo, Bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e ex-deputado do PS
Viver
Lembram-se de como era a vida antes da Internet? Qualquer dia, ninguém que seja profissionalmente activo se vai recordar do que era a vida antes dos e-mails, dos motores de busca, das redes sociais, dos smartphones e dos tablets. Hoje podemos comunicar, trabalhar, estudar, escrever, ter música, imagem e texto em qualquer local num pequeno aparelho. Podemos ouvir uma selecção de canções em streaming ou numa rádio online, ou percorrer a nossa própria colecção de discos na cloud do iTunes. Podemos fotografar e partilhar instantaneamente a imagem em diversos sistemas, a começar pelo Instagram. Temos livros digitais e podemos viajar com uns quilos a menos. Podemos ler a nossa revista preferida mesmo num local recôndito sem ir à procura de um quiosque bem fornecido de imprensa internacional. Podemos percorrer de forma virtual uma exposição num dos grandes museus internacionais. Tudo isto faz diferença na maneira como trabalhamos mas também como vivemos os nossos períodos de descanso e como procuramos aprofundar o nosso conhecimento. Em 1994, há 20 anos, a Internet dava os primeiros passos, não havia Google, nem iPhone, nem Dropbox, nem muitas das outras coisas com que hoje convivemos em tablets e smartphones. Mas, enquanto tudo mudou nas nossas vidas, na nossa aprendizagem, no nosso trabalho e no nosso lazer, pouco - muito pouco - mudou na forma de os políticos fazerem política, de os partidos funcionarem e do sistema político organizar e mediar o exercício do poder. Estamos numa época em que coexistem dois mundos diferentes - um que faz parte do nosso dia a dia e outro, antigo, que nos governa. Ou, como dramaticamente se tem visto, nos desgoverna.
Gosto
Da divulgação da Acta da Reunião Extraordinária do Banco de Portugal que criou o Novo Banco pelo advogado Miguel Reis, que a obteve utilizando apenas informação disponível na net.
Não Gosto
O horror criado pelo chamado Estado Islâmico é um exemplo de barbárie pura, que aproveita a destruição da vida humana de forma selvática para fazer propaganda.
Ver
Graças ao meu iPad, estou a escrever esta crónica em férias, bem a sul, perto de Tavira, e ao mesmo tempo estou a visitar o magnífico site do MoMA - o Museum of Modern Art, de Nova Iorque. Destaco a exemplar exposição virtual dedicada à obra de Louise Bourgeois, que está em contínua construção, e que, quando ficar concluída, terá 3500 imagens do trabalho da artista - só por si vale a pena visitar esta secção do site do MoMA, acessível através da homepage do museu, entrando na área "explore". Delicio-me com o que vejo da exposição, inaugurada há poucos dias, "The Paris Of Touluse-Lautrec: Prints and Posters", que nos permite imaginar como seria Paris no final do século XIX. Noutro local do site do mesmo museu, vejo que quem for a Nova Iorque até 1 de Setembro ainda poderá visitar no MoMA a exposição de Jasper Johns, e quem lá for a partir de 12 de Outubro, poderá já visitar a exposição de colagens de Henri Matisse. O MoMA é um museu sempre surpreendente e o seu site é um exemplo de referência da adaptação de uma instituição à vida no tempo digital - www.moma.org.
Arco da Velha
Um doente do Hospital de Tomar que, por recomendação do médico de família, pediu em Junho uma consulta urgente de cardiologia, recebeu em casa uma carta a marcá-la para Fevereiro de 2016.
Ouvir
A "Íntima Fracção" começou por ser um programa de rádio, evoluiu, a certa altura, para um podcast que vivia no site do semanário Expresso e hoje em dia pode ser encontrada em alguns locais virtuais, indicados no Facebook (www.facebook.com/IntimaFraccao). Francisco Amaral, o seu criador e autor, diz que hoje em dia os arquivos de som que vai publicando se assemelham mais a uma banda sonora de estados de espírito do que à forma original de programa de rádio, baseado numa playlist muito especial, com uma apurada selecção. Na "Íntima Fracção", as palavras têm um peso relevante, directamente ligado à música. Um dia destes, avisa Francisco Amaral, as imagens, como esta que aqui reproduzo, e que foi retirada do seu Facebook, hão-de fazer parte do conceito. A "Íntima Fracção" é um espaço de bom gosto, de descoberta e serenidade musical num mundo em que os sons se tornam, na maior parte das vezes, numa amálgama desconexa. Aborrece-me que nenhum site informativo a aloje e a divulgue como ela merece.
Folhear
A revista The New Yorker é um caso sério de estudo para quem se interessa pela capacidade de adaptação de um título de imprensa, mantendo, no entanto, sempre o essencial das suas características e nunca desiludindo o núcleo duro dos seus leitores. Como o nome deixa antever, a revista é uma espécie de manual de sobrevivência para os nova-iorquinos que prezam um estilo de vida cosmopolita, informado e ligado às artes. A Wikipedia descreve-a como uma revista dedicada à reportagem, comentários, crítica, ensaio, ficção, sátira, cartoons e poesia. É publicada desde 1925 pela Condé Nast 47 vezes por ano (há cinco números duplos). Destaque ainda para a qualidade gráfica da capa, baseada sempre em obras inéditas encomendadas a artistas - entre os quais o português Jorge Colombo. Mesmo para quem está longe de Nova Iorque, a New Yorker tem, pelo menos, dois terços de matérias que podem interessar a quem a quiser ler em qualquer ponto do mundo. E se dantes a revista chegava tarde e cara a Portugal, agora, na sua nova e muito boa edição para iPad, é possível fazer uma assinatura mensal por 5,49 euros. Irresistível.
Provar
Graças à revista Time fiquei a saber que comer manteiga afinal não é um risco para o coração - e assim a torrada matinal com manteiga passou a saber ainda melhor. Vem isto a propósito da variação que, ao longo dos últimos meses, tem surgido sobre o que se deve e não deve comer. Algumas gorduras, em tempos amaldiçoados, são agora toleradas. Dietas que exigiam sacrifícios gigantescos e recomendavam alimentos exóticos vão sendo substituídas por recomendações mais racionais. Vejo um número apreciável de artigos recentes e fico baralhado - o que ontem fazia mal, hoje em dia pode ser ingerido, e aquilo que dantes era recomendado, afinal pode ter riscos. Eu compreendo que a indústria agro-alimentar movimenta milhões, mas gostava que não existissem tantos cientistas a criarem confusão e a promoverem estudos contraditórios de ano para ano, conforme os interesses de quem financia os seus estudos - que, por vezes, me parecem inúteis. Isto deixou de poder ser tratado como ciência, passou a ser roleta russa.