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11 de Junho de 2014 às 19:15

A esquina do rio

Um amigo meu, do PS, dizia-me logo após as Europeias, quando as intenções de Costa despontaram, que o candidato teria dificuldades porque Seguro controlava bem o aparelho e as distritais.

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A renúncia é a libertação. Não querer é poder.

Fernando Pessoa

 

Apostas

Um amigo meu, do PS, dizia-me logo após as Europeias, quando as intenções de Costa despontaram, que o candidato teria dificuldades porque Seguro controlava bem o aparelho e as distritais. Escassas semanas passadas, um jornal titulava que "uma a uma, as distritais afastam-se de Seguro e aproximam-se de Costa". Um dos grandes problemas do nosso sistema político é que isto acontece em todos os partidos. Lembro-me ainda dos jantares de Passos Coelho na sua primeira campanha para disputar a liderança do PSD, que perdeu. Tinham mais independentes que militantes e aparelho. Uns anos depois, quando Sócrates já estava em queda e o aparelho laranja cheirava o poder, começou a surgir todo o lastro que andou desaparecido. Esta volatilidade dos aparelhos dos partidos, esta dependência de estruturas desfasadas da sociedade e que vivem em circuito fechado a olhar para o umbigo, tem os nefastos efeitos que conhecemos desde o início do actual Governo - feito de compromissos internos. Hoje em dia acontece o mesmo no PS - o aparelho já acha que com Seguro não lhe sai a rifa e aposta que Costa pode premiar melhor. É uma aposta, não é política. Falamos de coisas venais e não de convicções. Esse é o grande problema dos partidos e dos seus dirigentes, que vivem desse expediente de distribuição de benesses e recompensa de favores. Programa político? Reformas? Esqueçam isso - dá trabalho e não dá votos.

 

Semanada

  • - Marcelo prometeu, a propósito das perguntas enviadas para o Constitucional, dar um raspanete a um assistente seu em Direito, hoje em dia assessor do Governo, quando ele voltar à Faculdade "daqui a uns meses", uma maneira airosa de dizer que não acredita na continuação da coligação o consumo já subiu e os depósitos das famílias caíram em finais de Abril para mínimos de um ano numa sondagem recente, 56% dos inquiridos consideram o actual Governo pior do que esperavam - a Câmara de Sintra conta com cinco mil processos parados no seu Departamento de Urbanismo, vários deles há mais de uma década, e o atraso agravou-se no período em que Fernando Seara foi presidente da autarquia - esta semana, Fernando Seara não conseguiu chegar à fase final das eleições para a Liga de Futebol porque a candidatura da sua lista foi apresentada incompleta - nos últimos cinco anos, perderam-se 372 postos de trabalho por dia - 28% dos salários em Portugal foram congelados entre 2012 e 2013 O Governo, através do Ministério da Administração Interna, deve meio milhão de euros a agentes policiais por serviços gratificados, que não estão a ser pagos desde há oito meses o fisco já vendeu 23 mil carros penhorados este ano a economia portuguesa caiu 0,6% no primeiro trimestre de 2014 o Estado paga, em média, 20 milhões de euros por ano a cidadãos prejudicados por erros judiciáriosos seguranças de Cavaco Silva impediram a obtenção de imagens em local público e mandaram mesmo apagar as fotografias a alguns repórteres fotográficos que estavam mais perto no local onde o Presidente se sentiu indisposto nas comemorações do 10 de Junho.

 

Dixit

Necessitamos de política e de jornalismo mais reflexivo... Ser moderno não é utilizar correctamente e eficazmente o Twitter ou dar bons "sound bites". Ser moderno é ter coragem de pensar, discutir e falar acertadamente.

João Adelino Faria

 

Gosto

Do regresso de Pedro Rolo Duarte à televisão, pela mão da RTP2 e do programa "Tanto Para Conversar", ao fim da noite das terças-feiras.

 

Não gosto

Do abuso de poder, completamente ilegal, da segurança de Cavaco, ao ordenar a um fotojornalista que apagasse a fotografia do desmaio presidencial.

 

Folhear

Nos últimos anos, fui assistindo ao lento declínio da Newsweek, uma revista que leio há umas boas três décadas. De repente, há pouco tempo, a Newsweek reapareceu com um novo grafismo e um conceito editorial diferente, baseado numa edição fotográfica sólida e naquilo a que se tem chamado "long stories", com um pé na actualidade e com outro na reflexão sobre os acontecimentos. Tenho na mão a edição com a data de 13 de Junho, na capa está o título
"Finding The Next Facebook - Meet The Tech Investors With The Midas Touch". Neste novo formato, fotografias de página inteira são frequentes (a Livraria Lello, do Porto, está numa delas num artigo sobre as livrarias que tentam novos modelos de negócio). Aliás, as primeiras páginas da revista funcionam sob o título "Big Shots" e são fotos em página dupla de temas da semana. Há um ângulo diferente nas coisas - por exemplo, o Mundial de futebol é olhado do ponto de vista da equipa da Bósnia, que chega à competição pela primeira vez. O artigo sobre as "startups" surge como um verdadeiro manual, de tão bem informado que é. E, contrariando o habitual comportamento politicamente correcto, a revista dá conta de como o cientista que chamou a atenção para o degelo na Antártica considera que o aquecimento global pode ter vantagens.

 

Ver

Quando lhe apetece ir ver arte e não sabe onde ir, há-de ter uma vida difícil pela frente se seguir apenas os jornais, quer diários, quer semanais.

 

Se existe uma área da actividade cultural que é mal coberta, essa área é a das galerias e das exposições, quer se realizem em pequenos locais ou em grandes museus. Apenas alguns nomes consagrados e mega-eventos conseguem ganhar atenção e espaço mediático. A crítica é cada vez menos crítica e a divulgação pouco existe. E isto acontece apesar de as galerias de arte serem, já o tenho aqui escrito, um importante serviço público - proporcionam-nos, gratuitamente, a possibilidade de nos confrontarmos com a criação contemporânea. É nas galerias que aparecem as obras que significam rupturas, que trazem novidades, que experimentam novos caminhos. E, apesar disto, sabemos pouco delas. Desde há uns anos, existe um site português - www.gategalleries.com - que é um guia precioso para saber o que se passa (na sua secção de agenda) e que tem um directório muito completo de todos os locais que se dedicam a artes plásticas por todo o país. Criado e dirigido por Maria Lacerda, o GateGalleries é de visita obrigatória para quem quer saber onde ir. Foi tecnicamente remodelado há pouco tempo, em visualização fácil nos vários formatos de dispositivos móveis e navegação rápida num grafismo simples. Ali estão todas as possibilidades, cabe-lhe a si decidir.

 

Arco da velha

António Costa, que desistiu de se preocupar com o lixo em Lisboa e já quase deixou de ser visto na capital, anunciou ao país que se orgulha "da estratégia e do impulso reformista dos governos" de Guterres e de Sócrates. 

 

Ouvir

Não é muito frequente encontrar um disco onde mãe e filho se juntam - mas "Childhood Home", de Ben Harper e da sua mãe Ellen, é isso mesmo. Uma visita ao passado, com canções assinadas pelos dois, integralmente acústicas, com forte matriz folk e cujos temas são as recordações e as memórias de tempos que já passaram. Ouvindo Ellen a tocar, e escutando algumas das canções que ela compôs, sobretudo "City Of Dreams" e "Altar Of Love", percebe-se onde Ben foi buscar o seu talento. O disco tem dez canções, seis de Ben Harper e quatro de Ellen, e o tema de entrada, "A House Is A Home", é logo uma bem sucedida declaração de intenções. Outro tema a registar é "Born To Love You". O disco evita pieguices e complacências maternais. Não é por acaso que Ben Harper descende de uma família de músicos - os seus avós fundaram, em Claremont, o California's Folk Music Center and Museum, onde a sua mãe trabalhou toda a vida e onde o jovem Ben se cruzou com nomes como Ry Cooder ou Taj Mahal, que eram visitas habituais.

 

Provar

O "brunch" é essa mistura de "breakfast" e "lunch" que vai ganhando adeptos ao fim-de-semana e feriados. Depois de uma busca pela net, a escolha recaiu no "Pão Nosso", que fica nas Avenidas Novas, na Rua Marquês Sá da Bandeira 46, com uma pequena esplanada em frente ao jardim da Gulbenkian. O seu "brunch" ganhou fama no admirável mundo digital. Há três variedades de "brunch", uma é dupla e foi a escolhida. Inclui um cesto de pão bem aviado e uma tábua com três variedades de queijo, além de presunto, salmão fumado, manteiga, um bom azeite, mel de rosmaninho e doce. Nos quentes, deveria haver quiche com salada, mas como às duas e um quarto já estava esgotada, foi sugerida uma tiborna acompanhada por salada e tomate recheado com queijo de cabra - a tiborna estava apenas um pouco acima de mediana, sobretudo por defeito no corte e preparação do pão. Para rematar, além de um iogurte natural com mel, também já esgotado à mesma hora, vale a pena experimentar a tarte de maça - a salada de frutos, outra possibilidade, é sensaborona. A ementa deste "brunch" duplo inclui bebidas frias e quentes para duas pessoas e, sem extras, fica nos 28 euros. Se não quiser o "brunch", que é servido do meio-dia às quatro, pode sempre optar por uma das sanduíches da casa - estas existem todos os dias da semana. O balanço do "brunch" do Pão Nosso, no dia visitado, foi de 13 em 20. Fraco para os elogios lidos na net. Para informações, o telefone é 210 107 222.

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