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05 de Julho de 2013 às 10:02

A esquina do Rio

A única coisa que me ocorre é que os senhores políticos, além de escangalharem o país, tramaram a vida dos comentadores - uma opinião não se aguenta meia dúzia de horas, e eu estou aqui, quinta de manhã, sem saber que dizer.

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Uma observação atenta revela que a maior parte das situações de crise geram a oportunidade para que tudo fique na mesma.
Maxwell Maltz

 


Xadrez
A única coisa que me ocorre é que os senhores políticos, além de escangalharem o país, tramaram a vida dos comentadores - uma opinião não se aguenta meia dúzia de horas, e eu estou aqui, quinta de manhã, sem saber que dizer. Poucos serão os que percebem o que se passou nos bastidores desde o fim-de-semana passado, mas há campo para fazer perguntas: porque é que Passos Coelho persistiu no nome de Maria Luís Albuquerque, apesar de saber que o líder do outro partido da coligação discordava fortemente da escolha? Como é que o Presidente da República não usou os mecanismos à sua disposição para perguntar ao líder do segundo partido da coligação se estava confortável com a situação? Porque é que Paulo Portas agiu, aparentemente, sem falar com os seus mais próximos?


Tenho várias teorias sobre o assunto e algumas delas não são novidade: a primeira é que inabilidade política, teimosia, desfasamento da realidade, arrogância e sobranceria têm sido linhas mestras de Passos Coelho e elas estiveram sempre presentes nestes dias; a segunda é que o Presidente da República já não sabe como há-de exercer o seu cargo - é caso para se perguntar onde está o Wally?; e a terceira é que Paulo Portas decidiu jogar um jogo de xadrez em simultâneo, abrindo vários tabuleiros ao mesmo tempo - o do Governo, o do seu partido e o de eventuais futuras coligações em caso de eleições antecipadas, nomeadamente com o PS. O tema das coligações - que tem a ver com o funcionamento do sistema partidário e político que temos - é aliás central em toda esta história. Temos uma fraca cultura política de negociação, indispensável em coligação. Os líderes partidários estão habituados a ser obedecidos e não a fazer compromissos - querem o poder, ponto. Não é preciso ser-se analista para perceber que, desde há muitos meses, o PSD anda a esticar a corda na relação com o CDS, e um dia ela havia de se partir - rebentou no pior momento possível. As jogadas politiqueiras sobrepõem-se a acordos políticos sérios e isso tem os elevados custos que estamos a ver - e devo dizer que, nesta matéria, Passos Coelho, num primeiro momento, e Paulo Portas, num segundo, estiveram-se nas tintas para as dificuldades do País e para as consequências dos seus actos. A verdade é que a direita e o centro direita não têm sido capazes de levar um governo até ao fim - lembram-se de um conselho coordenador da coligação, anunciado a 20 de Setembro do ano passado, e de que nunca mais se ouviu falar?


A crise não vem de agora, foi-se agudizando, muito graças ao facto de o Governo ter sido conduzido, na prática, por Vítor Gaspar - a sua carta de demissão é clara sobre isso e é exemplar sobre a sua noção de política e compromisso nas referências que faz, de novo, ao Tribunal Constitucional. Não arrisco prever o que se irá passar, mas admito que Paulo Portas, com o seu xeque ao rei, conseguirá cedências de Passos Coelho, reforçando o seu papel no Governo, ultrapassando dificuldades no seu partido e forçando uma remodelação maior do que se imaginava há uma semana. Por quanto tempo se aguentará esta situação?


Não faço ideia das consequências dentro do PSD - mas não me custa imaginar Rui Rio, no Porto, a afinar o motor de um carro de corrida antigo, daqueles de que tanto gosta, para fazer a antiga Nacional Um, rumo à sede do PSD em Lisboa, talvez com paragem prévia em Belém, vestido com a armadura de Salvador da Pátria. Como um amigo meu dizia por estes dias, preocupo-me ainda mais quando me parece também ouvir o silvo de um jacto privado, com Sócrates lá dentro, a levantar vôo de Paris, rumo a Lisboa. João Quadros, com o seu humor corrosivo que todos conhecemos, quarta à noite, no twitter, imaginava Jack Bauer, a personagem central da série "24 Horas", a olhar para Portugal e a dizer "Isto já não faz sentido: não é possível acontecer tanta coisa em 24 horas!".

 


Arco da velha
Em 2012, o fisco deixou prescrever mais de 900 milhões de euros de dividas fiscais e a dívida à Segurança Social aumentou quase 1,3 mil milhões de euros. Fisco e Segurança Social têm 28 mil milhões de euros por cobrar, ou seja, o equivalente a três défices orçamentais.

 


Ver
Lisboa vive um momento alto em matéria de exposições de fotografia. No Museu da Electricidade inaugurou "Pátria Querida", uma boa amostra do trabalho do espanhol Alberto García-Alix, que se celebrizou a mostrar a movida madrilena. Se o que faz a fotografia é o modo de ver, a maneira de transmitir o que se observa, aqui o objectivo está bem conseguido. Na Gulbenkian, inseridas na programação "Próximo Futuro", estão duas exposições imperdíveis - uma mostra dos Encontros de Fotografia de Bamako, que traça um retrato da África pós-colonial, e "Present Tense", uma mostra comissariada por António Pinto Ribeiro (o mentor do ciclo "Próximo Futuro") e que desbrava caminhos contemporâneos da observação do espaço e das pessoas no continente africano. Finalmente, em "A Pequena Galeria" (24 de Julho nº 4C) está "De Maputo", que agrupa fotografias de José Cabral e Luís Basto, com breves mas importantes evocações de Rogério Pereira e Moira Forjaz.

 


Ouvir
Estou rendido ao disco de estreia de Gisela João, deslumbrado com esta voz, encantado por estes arranjos, pelo atrevimento na escolha do repertório e pela deliciosa falta de reverência na interpretação. Gosto de iconoclastas e este é um belíssimo disco à margem dos bons costumes, coisa rara no que por aí se edita em nome do fado. Claramente este é o melhor disco de estreia da geração mais recente dos que cantam fado e arrisco dizer que esta é a única grande fadista a aparecer nos últimos anos, em que tantos imitadores têm feito carreira. Não por acaso, a produção executiva é de Helder Moutinho - que confiou a produção musical a Frederico Pereira, que fez um belíssimo trabalho, com a ajuda de Ricardo Parreira na guitarra, Tiago Oliveira na viola, e Francisco Gaspar no baixo. Nascida em Barcelos, Gisela João oscila entre temas populares como "A Casa da Mariquinhas" ou "Malhões e Vira", clássicos como "Maldição", "Sou Tua", "Não Venhas Tarde", ou o extraordinário "Madrugada Sem Sono", que abre o disco num arranjo excepcional. E há novidades, como "Primavera Triste", de Aldina Duarte, ou a maior surpresa do disco, "Vieste do Fim do Mundo", de João Lóio. Nada aqui é gratuito, nem exibicionista. E é isso que me faz ouvir este CD vez após vez. "Não é fadista quem quer/mas sim quem nasceu fadista" - por acaso, são estas as últimas palavras cantadas deste disco. (CD Edições Valentim de Carvalho)

 


Gosto
Da Campanha da Associação Portuguesa de Produtores de Biocombustíveis: "Se não há petróleo em Portugal, planta-se", apelando à plantação de soja e colza para a produção de biodiesel.

 

 

Não gosto
Da revogação pela Secretaria de Estado da Cultura da autorização de venda de uma pintura do século XV, de Crivelli,que é propriedade privada.

 


Folhear
Gosto de romances de estrada e gosto ainda mais de romances de estrada com música. Gosto da escrita de Francisco Camacho e gosto deste seu novo romance, "A Última Canção da Noite".
Há uns anos, Nick Hornby juntou três dezenas de ensaios sobre canções de que gostava e publicou "31 Songs". Primeiro comprei o livro, depois comprei o disco, que juntava 18 dos temas de que ele falava. Se estivesse numa editora discográfica, fazia uma compilação com as canções de Francisco Camacho, aquelas que ele seleccionou recentemente para um artigo, no cada vez mais imprescindível carrosselmag.com sobre o seu livro, e juntava-lhes mais umas tantas de que ele se lembrasse. Lá estariam os Ramones, Clash, Long Ryders, Sonic Youth, mas também Radiohead, Go Betweens ou Madonna. Pela estrada fora e sempre a abrir, ele havia de fazer uma bela compilação. Pelo menos tão envolvente como este "A Última Canção da Noite", de Marrocos a Berlim, uma viagem de liberdade, paixão e imprevistos, acelerada ao som do rock'n'roll, como bem lembra o CarrosselMag.

 


Dixit
"Foi a crise dos partidos (...) - prometendo o que o País não podia dar - que provocou a desconfiança generalizada na capacidade deles para resolverem os problemas do País".

Manuel Villaverde Cabral

 

 

Semanada
 Segunda-feira, o primeiro "briefing" do Governo falhou a demissão do ministro Vítor Gaspar  Maria Luís Albuquerque foi nomeada ministra das Finanças depois de ter desmentido o seu antecessor Vítor Gaspar no caso dos "swaps"  terça-feira, o segundo "briefing" do Governo falhou a demissão do ministro Paulo Portas  Cavaco Silva deu posse à nova ministra das Finanças meia hora depois da demissão de ministro do líder do segundo partido da coligação  quarta-feira, Passos Coelho viajou para Berlim e já não houve "briefing"  foi neste dia, quarta feira, que curiosamente se assinalaram os 130 anos do nascimento de Franz Kafka  na mesma quarta-feira, o CDS mandatou o ministro irregovalmente demissionário, Paulo Portas, para negociar com Passos Coelho a viabilização do Governo  título de uma página de política do "Correio da Manhã" na quarta-feira: "Dois ministros do CDS devem demitir-se hoje"; a Bolsa de Lisboa deu um trambolhão histórico  Jorge Sampaio falou sobre a crise a pedir eleições antecipadas a 29 de Setembro  Seguro foi a Belém pedir eleições antecipadas a 29 de Setembro  José Sócrates demitiu-se do cargo de engenheiro na Câmara da Covilhã, onde estava há 20 anos em regime de licença sem vencimento  Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, desmarcou quarta-feira uma entrevista na TVI devido à grave crise do País, afirmando não ser "tempo de falar de futebol"  Vale a Azevedo foi condenado a mais dez anos de prisão  o Ministério Público contrariou o Presidente da República, que pretendia a manutenção do procedimento criminal contra Sousa Tavares no "caso do palhaço".

 

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