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João Carlos Barradas - Jornalista 28 de Junho de 2016 às 20:30

Ponto de ordem ao Brexit 

O demagogo Nigel Farage vingou-se de anos de ostracismo ao proclamar no rancoroso debate do Parlamento Europeu sobre a saída do Reino Unido da UE que os seus opositores teriam de amargar o fracasso de projectos de união política e monetária.

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Cumpre admitir que o independentista inglês tem toda a razão, apesar de melhor sorte não ser de esperar para os seus concidadãos arrastados pelo turbilhão do Brexit que estraçalhará pífias lideranças políticas.

 

As divisões no seio de conservadores e trabalhistas obrigam os sucessores de David Cameron e Jeremy Corbyn a ter de se legitimar através de eleições antecipadas que serão dominadas pela gestão da saída da UE e a integridade do Reino Unido.

 

O executivo que sair dessas eleições dificilmente conseguirá mais do que um mandato para mitigar os efeitos negativos para o Reino Unido da ruptura com a UE, sem renegar a retórica soberanista de controlo sobre fluxos migratórios de países comunitários.

 

Antes do final de 2016 não há qualquer possibilidade de se impor um consenso político em Westminster capaz de gerar uma estratégia face aos 27, contemplando, ademais, as consequências de negociar tratados comerciais com outros Estados anteriormente cobertos pelos acordos em vigor da UE. 

 

O modelo do Espaço Económico Europeu, que agrega Noruega, Islândia e Lichenstein, é inviável ao estatuir, designadamente, livre circulação e estabelecimento de pessoas e contribuição para o orçamento comunitário.

 

Salvaguardar interesses da City ou a liberdade de circulação de pessoas com a República da Irlanda implica um tratado concebido de raiz que terá de ser aceite por todos os Estados da UE.

 

É improvável, ainda, que Londres consiga acomodar os interesses de nacionalistas escoceses, católicos virados para Dublin e protestantes unionistas na Irlanda do Norte, e, nesse contexto, um referendo sobre a independência da Escócia terá fortes possibilidades de revogar a União firmada em 1706.    

 

Dois anos serão insuficientes para definir os termos da ruptura que se complica pelas pressões que independentistas escoceses farão pesar e o calendário que tentarão definir após eleições gerais no Reino Unido ao que acresce o quadro de crise institucional da UE. 

 

As negociações vão, portanto, abrir num cenário favorável para a extrema-direita parasitar reivindicações soberanistas democráticas nas eleições em França e na Alemanha.

 

O espartilho do euro, por outro lado, demonstrou a inviabilidade de manter unidade monetária sem orçamento comum e transferências compensatórias numa zona com acentuadas assimetrias de balanças de transacções correntes, níveis de produtividade e concorrência.

 

A manutenção do euro passa por integração política inviável nas presentes circunstâncias ao obrigar a cedências de soberania para entidades federais remotamente sufragadas e vagamente controladas pelo Parlamento Europeu e os parlamentos nacionais.

 

Na ausência de tudo isso, os conflitos na Zona Euro, que não podem ignorar interesses de suecos ou polacos, valem-se de expedientes e estatutos de excepção.

 

A integração adiada de estados dos Balcãs e adesão da Turquia, a revisão de estratégia de política externa e de segurança ante Moscovo, para não falar do impasse nas questões de emigração, constam, ainda, do cardápio de crise.

 

A manutenção do euro passa por integração política inviável nas presentes circunstâncias.

 

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