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Opinião
27 de Janeiro de 2015 às 21:05

O escorpião grego

A aliança de esquerda radical e direita xenófoba entrou em rota de colisão com os credores estrangeiros de Atenas e vai com toda a probabilidade provocar uma crise política e financeira capaz de levar à saída da Grécia do euro.

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A fuga de capitais, estimada pelo Barclays em 20 mil milhões de euros desde Dezembro, e a quebra de receitas fiscais vão acentuar-se ante as péssimas expectativas quanto às negociações para conclusão até final de Fevereiro do segundo plano de ajuda.

 

As promessas de investimento estatal e os apoios sociais, estimados pelo Syriza em 11,382 mil milhões de euros com cobertura de receitas de 12 mil milhões de euros, são irrealistas e inaceitáveis para os credores que serão confrontados de imediato com medidas como o aumento do salário mínimo de 684€ para 751€ (contra 505€ em Portugal) à revelia da negociação com a troika.

 

Entra Dragasakis

 

Tal como os governos conservadores e socialistas, o executivo de Alexis Tsipras, carece de condições políticas internas para negociar um programa viável para manutenção da Grécia na moeda única promovendo simultaneamente o emprego e crescimento económico.

 

O vice-primeiro-ministro Yanis Dragasakis ao assumir a negociação com a troika para evitar que o BCE se veja obrigado a cortar em Março o financiamento à banca grega vai a jogo praticamente com o trunfo único de arriscar a bancarrota.

 

Alargar os prazos de maturidade da dívida pública (em média 16,5 anos), baixar as exigências de 4,5%  de saldos orçamentais primários (excluindo serviço de dívida), reduzir ainda mais os juros, financiar um programa social de emergência (cheques-alimentação, subsídios pagamento electricidade, assistência médica a desempregados, etc.), são comportáveis para os demais estados do euro.

 

Reestruturar a dívida grega que ascende a 177% do PIB - cabendo 60% aos países da eurozona (cerca de 1.100 milhões de euros em empréstimo bilateral a Portugal), 10% ao FMI e 6% do BCE - implica, contudo, transferir custos para os estados da eurozona, salvaguardando o FMI e o BCE por motivos estatutários.

 

O ministro das Finanças do Syriza, Yanis Varufakis, opta, no entanto, por ignorar que para Berlim ou Helsínquia não é politicamente aconselhável admitir um estatuto privilegiado para Atenas, sobretudo depois de terem sido criadas salvaguardas para o sistema bancário, apesar do risco de trepidação populista contra políticas de acumulação de excedentes orçamentais e comerciais que acentuam as assimetrias nacionais na zona euro.      

 

Em Espanha, Itália, França ou Reino Unido, cedências à retórica antiausteridade sem alternativas de promoção de crescimento económico sustentado, financeiramente equilibrado e criador de emprego, ameaçam, por seu turno, levar a água ao moinho de movimentos contestários como o Podemos, Cinco Estrelas, Frente Nacional ou soberanistas britânicos do Partido da Independência. 

 

As rãs de Esopo 

                                              

A desgraça de Tsipras e dos gregos é não conseguirem apresentar um programa credível de reformas que possa sustentar a reestruturação da dívida.

 

A coligação de Tsipras é só por si exemplo claro do caos político em que caiu a Grécia depois da implosão do sistema de clientelismo de Estado que conservadores e socialistas tinham explorado desde a queda da Junta Militar em 1974.    

   

Pannos Kammenos, líder dos Gregos Independentes, pretende inverter a tendência de decréscimo das despesas militares (de 3,2% do PIB em 2009 para 2,3% em 2013) e não serão de esperar da banda da direita nacionalista radical iniciativas para desanuviamento das relações com a Turquia.  

 

O cadastro de propriedades da Igreja Ortodoxa (o maior proprietário imobiliário da Grécia) e a revogação de isenções fiscais dos interesses do clero tão pouco terão o apoio de Kammenos, pondo em causa a seriedade das promessas do Syriza de aumento de impostos sobre grandes propriedades.

 

Radicais de esquerda e direita esperam, ainda assim, levar os parceiros europeus e o FMI a cedências que lhes permitam reivindicar triunfo na obtenção de um perdão de dívida, enterro da austeridade e expansão económica.

 

Está na natureza das coisas que Tsipras e Kammenos, para não falar de outros intratáveis sacos de lacraus credores, nunca venham a chegar à outra margem do rio e sejam os primeiros a matar e a morrer.

 

Jornalista

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