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18 de Abril de 2017 às 20:27

O Brexit de May, a legítima

Cedo ou tarde Theresa May teria de legitimar em eleições antecipadas a sua liderança para promover o Brexit a que se resignara ao ascender à chefia dos conservadores após o referendo de Junho.

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As sondagens sorriam e o anúncio de antecipar as eleições de 2020 coincidiu com a revisão em alta pelo FMI das previsões de crescimento da economia este ano para 2% depois de estimativas em baixa pós-referendo que chegaram a uns desapontadores 1,1% em Outubro.

 

A vantagem em intenções de voto frente aos trabalhistas cifrava-se, por sua vez, em 21% (ComRes), 17% (You Gov) ou 11% (Opinium), segundo os últimos inquéritos divulgados este fim-de-semana.    

 

May prometera evitar recorrer a eleições antecipadas, mas, ante sondagens tão auspiciosas, acabou por avançar o argumento de que a oposição tenta bloquear o Brexit, prejudicando a capacidade do governo para levar a cabo uma saída com sucesso da UE. 

 

Os trabalhistas ao proclamarem em Março que só apoiarão um voto parlamentar favorável à ruptura com a UE se, entre outras condições, o Reino Unido mantiver "precisamente os mesmos benefícios" de que goza actualmente na União Aduaneira e Mercado Único adensaram a confusão.

 

O executivo de May continua a alimentar, entretanto, expectativas de um Brexit que garanta soberania plena, controlo da movimentação e residência de pessoas, e, simultaneamente, acesso e privilégios de excepção para empresas britânicas no mercado único dos 27.    

 

A previsível derrocada do Labour, onde a cizânia e a desorientação se agravaram depois de Jeremy Corbin suceder a Ed Miliband - derrotado há dois anos pelo antecessor de May, David Cameron -, redundará, muito provavelmente, numa razia entre os 229 deputados do partido.

 

Os nacionalistas escoceses conseguiram em 2015 vencer em 56 das 59 circunscrições locais e para Nicola Sturgeon, por seu turno, é vital continuar a impor-se a trabalhistas e conservadores para vencer num referendo que ponha termo à União celebrada em 1707.

 

O triunfo de May dificultará, contudo, a obtenção do acordo de Westminster para o referendo vinculativo a que aspira Edimburgo, essencial para Madrid aceitar a eventual negociação da adesão de uma Escócia independente à UE.

 

Em Westminster, onde conta com 330 deputados, May confronta-se, ainda, com os democratas liberais de Tim Farron (nove representantes), apoiantes da permanência na UE, que tentarão recuperar na votação de Junho alguns dos 49 mandatos perdidos em 2015.

 

May vai contar com uma maioria reforçada nos Comuns, mas chegará ao Verão do próximo ano sem um acordo capaz de satisfazer as ilusões de ganhos britânicos, capazes de solidificar a União entre Londres e Edimburgo, e aceitáveis para ratificação unânime pelos 27 e Parlamento Europeu até Março de 2019.

 

Uma prorrogação de prazos para o acordo de saída, que, aliás, de acordo com o Tratado de Lisboa obriga o Reino Unido a ter "em conta o quadro das suas futuras relações com a União", não é de excluir, apesar dos elevados custos políticos.  

 

A vaga soberanista nos estados da UE, sobretudo em França, e a incoerência dos projectos de unificação orçamental e monetária, colide com as aspirações de Londres.

 

May ganhará em 8 de Junho a legitimidade política que lhe faltava para liderar a ruptura com a UE e, depois, terá de arcar pessoalmente com a pesadíssima factura da ruptura.    

 

Jornalista

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