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01 de Novembro de 2016 às 18:30

Clinton: a escandalosa

Deslegitimização das instituições e descredibilização da presidência são duas consequências funestas da campanha eleitoral nos Estados Unidos que se saldará pela investidura mais impopular de sempre.

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Clinton poderá obter uma maioria no Colégio Eleitoral, mas dificilmente alcançará uma vitória esmagadora na votação nacional, estando em risco de se confrontar com a hostilidade de um Congresso dominado por republicanos.

 

As polémicas sobre a utilização por Hillary de um servidor privado para correspondência electrónica enquanto secretária de Estado atingiram o paroxismo com as acusações ao director do FBI de ingerência inaceitável e ilegal na campanha.

 

James Comey é condenado por parcialidade ao prosseguir investigações a Clinton abarcando e-mails detectados em dispositivos informáticos de Huma Abedin, sua assessora de confiança, e do ex-marido, o antigo representante democrata de Nova Iorque Anthony Weiner, caído em desgraça por envio de imagens sexuais explícitas e abusivas a mulheres e a uma menor.

 

Atacado por Trump por alegadamente encobrir "comportamento criminoso" de Hillary, pressionado pelo Departamento de Justiça para evitar declarações sobre o assunto durante a campanha, Comey acabou mal com democratas e republicanos que o vinham criticando por complacência ante os Clinton.

 

Nomeado por Obama em 2013, com um mandato de 10 anos, Comey, caso venha a ter de conviver com Clinton, poderá contar com um ambiente de cortar à faca reminescente dos anos em que Edgar Hoover enfrentou os irmãos Kennedy.

 

Hillary é, contudo e notoriamente, política de porte duvidoso.

 

A demonstrá-lo contam-se a incapacidade para sequer entender a gravidade ou tentar esclarecer múltiplos conflitos de interesses provocados pela angariação de fundos da Fundação Clinton, em especial nos anos em que chefiou o Departamento de Estado (2009-2013), e as denúncias de favorecimento e manipulação por parte da liderança do Partido Democrático na compita pela nomeação presidencial contra Bernie Sanders.

 

A péssima imagem pública de Hillary em matéria de "confiança" e "honestidade" pede meças a Trump e faz mossa em segmentos do eleitorado feminino jovem e de maior escolaridade renitente a votar na antiga primeira-dama, apesar do comportamento inaceitável do candidato republicano.    

 

A consternação no partido é, portanto, tanto maior quanto a reentrada em força na campanha dos e-mails da secretária de Estado, que acentuou a quebra nas intenções de voto por Clinton, desmotivando, eventualmente, eleitores indecisos na opção pela candidata ou por candidatos democratas ao Congresso.    

 

Os líderes republicanos que tentaram distanciar-se de Trump podem dar agora por segura a maioria na Câmara de Representantes (247 vs. 188, presentemente), mas no Senado a vantagem de quatro mandatos continua em risco dependendo de votações em Indiana, Missouri, Carolina do Norte, Nevada, Pensilvânia e New Hampshire.

 

Se os democratas não conquistarem maioria no Senado, a presidência de Hillary será à partida um fracasso.

 

De Donald Trump, caso falhe a vitória por margem escassa, é de esperar contestação ao processo eleitoral, incluindo votação e escrutínio, num clamor potencialmente mais danoso do que as polémicas provocadas pela viciação dos resultados no Illinois pelo presidente da Câmara de Chicago, Richard Daley, a favor de John Kennedy contra Richard Nixon, em 1960.

 

Hillary é uma mulher assolada por escândalos, condenada justa e injustamente por actos, omissões e mentiras, criticada por gente decente que não se perde em delírios políticos ou nos desvarios de Donald Trump, e se chegar à Casa Branca terá tudo menos credibilidade e voto de confiança que é o pior que pode acontecer a um Presidente.

 

Haja o que houver, estas eleições têm ainda, de resto e desde já, um imenso derrotado e dá pelo nome de Barack Obama.

 

Jornalista

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