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Prémio da Desobediência 

Distinguir os desobedientes que desafiam o conformismo e mudam o mundo com o seu exemplo, é o objectivo do Prémio da Desobediência, criado pelo MIT.

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Não é piada, nem resquícios da Supernanny, o Prémio da Desobediência existe mesmo e é uma coisa muito séria. Encontrei-o nas páginas do magnífico livro "Nós e os Outros", da psicóloga social Luísa Pedroso de Lima, que conta a história deste galardão de 250 mil dólares, atribuído pela primeira vez pelo MIT em Julho passado. O Media Lab desta universidade norte-americana decidiu que era preciso estimular a desobediência responsável e ética, seguro de que só menos conformismo resultaria numa sociedade melhor. Procuram-se, afinal, desobediências na linha daquelas que marcaram grandes momentos de viragem na história da humanidade, como quando Galileu defendeu o heliocentrismo, Martin Luther King se opôs ao racismo, Malala lutou pelo direito de as meninas irem à escola ou, como lembra Luísa Pedroso de Lima, o nosso Aristides de Sousa Mendes, que ao incumprir as ordens de Salazar, salvou a vida de milhares de judeus.

 

Das oito mil candidaturas recebidas, o primeiro Prémio da Desobediência foi atribuído a Mona Hanna-Attisha, pediatra e professora na Michigan State University, e Marc Edwards, professor de Engenharia Civil na Virginia Tech, pela coragem com que denunciaram os níveis de poluição da água distribuída desde 2014 pelas entidades municipais da cidade de Flint e as consequências que esse facto teve para a saúde da população. Quando durante a investigação científica perceberam a gravidade do que se passava, optaram por divulgar imediatamente os dados do seu trabalho, em contramão com as diretivas universitárias, as regras de validação de dados da comunidade científica, sofrendo por isso as inevitáveis sanções e pondo em risco a sua carreira académica. Na prática, o seu ativismo levou a que, em Janeiro de 2016, Obama declarasse o estado de emergência na cidade, encarregando a Guarda Nacional de distribuir água engarrafada até à regularização da situação. Como sintetizou o MIT, "o seu trabalho mostra que a ciência é uma arma poderosa para a mudança social, e desafia-nos a todos na Academia a usar os nossos poderes para o bem".

 

Luísa Pedroso de Lima não dúvida de que estes exemplos deixam claro que "se a homogeneidade do grupo dá segurança e estabilidade, a desobediência e o inconformismo fazem mudar o mundo". O difícil, reconhece, é aparecer o primeiro com a coragem de se opor à maioria, mas quando alguém se chega à frente torna-se imediatamente mais provável que outras o sigam. E, toca na ferida, quando nos recorda a tentação de "psicologizar a dissidência", ou seja, desvalorizar quem não pensa ou faz como nós, descrevendo-a como tonta, ou insinuando que se limita a procurar protagonismo. E é por isso que quando começam a ser muitos, se torna mais difícil chamar-lhes nomes e começamos a questionar-nos se não terão razão.

 

Além do mais, o inconformismo faz bem a tudo. E até vai dar emprego. Segundo o Fórum Económico Mundial, "o pensamento crítico, isto é, a capacidade de pensar a situação de forma alternativa, identificando falhas na forma como os outros pensam, será uma das aptidões profissionais mais importantes, particularmente na gestão". Ser herói não é tão simples como às vezes pensamos, como conclui quem lê esta incursão no poder dos laços sociais, publicada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, mas há com certeza portugueses dignos do Prémio da Desobediência 2018. Espero que alguém os candidate.

 

Veja o vídeo, e leia mais:

 

https://www.media.mit.edu/posts/disobedience-award/

 

https://www.media.mit.edu/videos/2017-03-03-disobedience/

 

Jornalista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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