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Não custa dinheiro aos contribuintes? Então é mau!

Enervo-me quando leio que em Sintra "não há lugar para a memória nacional, para a educação, para o usufruto da cultura". Todos os anos 280 mil portugueses insistem em contrariar a tese destes escribas.

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Sem querer bolçar para cima dos que vieram para a praça pública e para as páginas dos jornais afirmar que a política de António Lamas queria privar o povo dos seus monumentos, e muito menos habilitar-me a umas bofetadas do ex-ministro da Cultura, sinto-me na obrigação de dizer que como sintrense as considero insultuosas e ofensivas (num plágio indecente de um post de João Soares).

 

Mas esperem, esperem,  primeiro o "disclaimer", que nos tempos que correm ninguém acredita que alguém expresse a sua opinião porque a sente e pensa mesmo assim: declaro que só vi ao longe o senhor António Lamas uma vez, não tenho quota na Parques de Sintra, e nem sequer vendo queijadas, não tendo por isso qualquer interesse pessoal em que o número de visitantes a Sintra aumente ou diminua. Também aproveito para deixar claro que o combustível que me faz escrever não é o azedume contra ninguém, nem tão-pouco o consumo de álcool (mais um repugnante plágio, o ex-ministro que me desculpe!)

 

Uf, posso agora continuar ao que aqui me traz? Como dizia, moro em Sintra há quase meio século e, durante este tempo, visitei mil vezes, por razões pessoais e profissionais, os monumentos desta terra que, por sorte, também é minha. E é nessa qualidade que digo que nunca o Palácio da Vila e o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros e Monserrate estiveram tão bem preservados, tão cuidados, num esforço constante para que tenham mais para oferecer a quem os visita. Isto  para não falar nos "novos" lugares, como o Chalet da Condessa D'Edla, a Vila Sassetti, os percursos pedestres na serra e nos jardins que estavam em ruínas, ou ao abandono.

 

Constantemente abrem-se novas salas que permaneciam fechadas há anos, ou são atualizadas com novos objetos as que existiam, como aconteceu recentemente com a "reposição" do escritório da rainha D. Amélia, no Palácio da Pena, e nos paços acontecem atividades, como concertos, recriações de época, observação de estrelas (mais provavelmente do nevoeiro!), ou conquistas ao castelo, só para falar nalgumas. E sim, é bom ter onde beber um café e apreciar ao sol a paisagem, e sim, é bom ter casas de banho em ordem, e mesmo uma loja onde comprar um "recuerdo" que se espera que envie mais umas moedas para os cofres.

 

E porque a injustiça me enerva, enervo-me quando leio que em Sintra "não há lugar para a memória nacional, para a educação, para o usufruto da cultura", ou que a única política que por aqui foi feita foi a de depenar turistas estrangeiros e privar os nacionais de terem acesso ao que lhes pertence, de forma a encher os cofres de uma empresa gestora de cultura. Tendo em conta que o dinheiro que resulta dos ingressos é reinvestido na preservação e reabilitação do património, o que já terá custado mais de 40 milhões de euros, não sei onde é que estes críticos queriam que se fosse buscar o dinheiro? Mais impostos?

 

É verdade que os bilhetes são caros - 14 euros por adulto para a Pena, com os 23% de IVA - mas não sendo, por lei, permitido discriminar preços para cidadãos da União Europeia, também não parece fazer sentido cobrar um valor muito mais reduzido aos turistas que vêm de fora e que, nos seus próprios países, pagam muito mais (Versalhes, 25 euros, Buckingham Palace, 27 euros, Torre Eiffel, 17 euros, Alhambra de Granada, 32 euros), e que os portugueses desembolsam alegremente quando por lá andam.

 

Mas a desonestidade intelectual ainda é mais dolorosa de suportar. Quando se escreve que a política da Parques de Sintra afastou os portugueses dos seus palácios era o mínimo procurar sustentar as afirmações. E como é, sobretudo, o Palácio da Pena que tem estado sob a artilharia dos que para defenderem a opção de João Soares em Lisboa, se sentem na necessidade de derrotar o que foi feito aqui, fui perguntar, e aqui ficam: em 2011 foi visitado por 45 mil nacionais, número que em 2013 chegava aos 59 mil, e em 2015 rondava os cem mil. No conjunto dos monumentos de Sintra, parece que 280 mil portugueses insistem, todos os anos, em contrariar a tese destes escribas.

 

Por isso não conheço o que é que Lamas previa para o eixo Ajuda-Belém e CCB, mas duvido de que João Soares receba, como defende o subdiretor do Público, uma medalha por "ter salvo Lisboa e o país de mais um desses planos nos quais o Estado age como um explorador colonial do património público".

 

Jornalista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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