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O coração das palavras

Pode uma máquina entender o coração humano? Afinal, o que nos realmente torna humanos? Estas são algumas questões do livro “Máquinas como eu”, do escritor Ian McEwan. Como está a inteligência artificial a mudar as nossas vidas e as nossas maneiras de ser, pergunta também o psicólogo Tomas Chamorro-Premuzic, autor do livro “Eu, Humano”. Num universo em rápida mudança, o que significa amar? Na obra “Klara e o Sol” (2021), Kazuo Ishiguro, Prémio Nobel da Literatura, olha para o mundo através de uma Amiga Artificial (AA). A temática não é nova - em 1950, Isaac Asimov já lançara o livro “Eu, Robô”, mas os últimos anos acentuaram a vida dos algoritmos - e deram novo fôlego ao mundo dos livros sobre inteligência artificial.

29 de Maio de 2024 às 15:00
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Máquinas Como Eu
Ian McEwan
Gradiva, 2019

O que nos torna humanos? Os nossos atos exteriores ou as nossas vidas interiores? Pode uma máquina entender o coração humano? Estas são algumas questões colocadas no livro "Máquinas como eu", do escritor britânico Ian McEwan. Lançado em 2019 pela Gradiva, o romance, redigido num tom audaz e divertido, questiona os limites entre o humano e o artificial num mundo distópico, tendo como pano de fundo uma "Londres alternativa" dos anos oitenta. Charlie, narrador-protagonista, herda uma fortuna inesperada e decide comprar um exemplar do primeiro lote de seres humanos sintéticos. "O Adão custava oitenta e seis mil libras. Levei-o para casa, um apartamento nada agradável no Norte de Clapham, numa carrinha alugada. Tinha-me decidido sem pensar muito, encorajado pelas notícias de que Sir Alan Turing, herói da guerra e génio destacado da era digital, tinha encomendado o mesmo modelo". Assim começa uma história que nos fala sobre ética, moralidade, justiça, sonhos. "Era dar esperança a um desejo religioso, era o Santo Graal da ciência. As nossas ambições iam de um extremo ao outro - pela concretização de um mito da criação, por um monstruoso ato de amor próprio. Mal se tornou exequível, não tivemos outra opção senão seguir os nossos desejos e aguentar as consequências".


Emoção Artificial 
Jorge Gomes Miranda
Gradiva, 2023 


Qual o lugar da inteligência poética num mundo feito de inteligência artificial? Quais as consequências da presença hegemónica do algoritmo nas nossas vidas? Jorge Gomes Miranda faz um convite à reflexão no seu livro de poemas "Emoção Artificial" (Gradiva, 2023), onde nos transporta para um espaço habitado por robôs sensíveis e delicados. Fala-nos do robô que assiste a um concerto de Sigur Rós ou do androide que encontra cadernos da escola primária dentro de um armário. Nestes poemas, os robôs têm dúvidas, incertezas e também compaixão. "Muitos dos personagens do livro evoluem de visita a lugares e personalidades em risco num tempo vindouro, mas cujo tumulto interior é posto em cena quotidianamente hoje", destaca a sinopse do livro. Estas máquinas são seres belos e imperfeitos. "Observadores do homem no tempo presente e prenunciando o incerto novo mundo, estes corpos e máquinas conceptuais como que nos interpelam para esta distópica possibilidade: e se, sem absurdo, na sociedade do futuro os robôs forem mais emotivos, compreensivos, compassivos do que os próprios humanos?". 


"Eu, Humano" 
Tomas Chamorro-Premuzic
Ideias de Ler, 2024 


Bill Gates já se mostrou "preocupado com a superinteligência". O próprio Stephen Hawking disse que uma IA superinteligente será extremamente boa a atingir os seus objetivos, mas se esses objetivos não estiverem alinhados com os nossos, vamos ter problemas". Apesar das previsões sobre inteligência artificial - tanto por parte de utopistas tecnológicos como dos ludistas -, "há um tópico que tem sido estranhamente negligenciado: como está a IA a mudar as nossas vidas, os nossos valores e as nossas maneiras fundamentais de ser", aponta o psicólogo Tomas Chamorro-Premuzic, autor do livro "Eu, Humano", publicado este ano em Portugal pela Ideias de Ler. "É tempo de se olhar para a IA a partir de uma perspetiva humana, que deverá incluir uma avaliação de como a era da IA está a influir no comportamento humano. Quais são as principais diferenças sociais face aos anteriores capítulos da civilização humana? E como é que a IA está a redefinir as principais formas em que exprimimos a nossa humanidade?". 


A Revolução do Algoritmo Mestre
Pedro Domingos
Manuscrito Editora, 2024 (reedição) 


Agora não temos de programar os computadores: eles programam-se a si mesmos. A aprendizagem automática está a reconfigurar a ciência, a tecnologia, os negócios, a política e a guerra, sublinha o investigador Pedro Domingos no seu livro "A Revolução do Algoritmo Mestre", reeditado este ano em Portugal pela Manuscrito Editora. Nesta obra, recomendada por Bill Gates e aclamada pela crítica americana, Pedro Domingos, professor de Ciências da Computação na Universidade de Washington, leva-nos em busca do Algoritmo-Mestre, a última coisa que teremos de inventar porque, assim que o deixarmos à solta, ele tratará de tudo o resto, diz. "A existir, o Algoritmo-Mestre será capaz de derivar todo o conhecimento do mundo - passado, presente e futuro - a partir de dados. A sua invenção seria um dos maiores progressos da história da ciência. "(… ) é o nosso portal para a solução de alguns dos problemas mais difíceis que enfrentamos, desde a construção de robôs domésticos à cura do cancro", prevê Pedro Domingos. 


Klara e o Sol 
Kazuo Ishiguro
Gradiva, 2021 


Num mundo moderno em rápida mudança, o que significa amar? No seu livro "Klara e o Sol" (2021), o escritor Kazuo Ishiguro, Prémio Nobel da Literatura, olha para o mundo através de uma Amiga Artificial (AA), uma inteligência artificial regida a energia solar. "Do local onde está exposta, Klara, uma Amiga Artificial com notável capacidade de observação, vê com atenção o comportamento dos que entram na loja para apreciar os artigos e dos que passam na rua e se detêm a olhar as montras. Acalenta a esperança de que entre um cliente que a escolha, mas, quando surge a possibilidade de as suas circunstâncias se alterarem para sempre, Klara é aconselhada a não se fiar muito nas promessas dos seres humanos", descreve a sinopse deste livro lançado em Portugal pela editora Gradiva. Para preparar este romance, Ishiguro conversou com diversos cientistas sobre a temática da inteligência artificial e, mais tarde, durante o Festival literário do Financial Times Weekend em 2021, o escritor japonês mostrou-se preocupado com o impacto tremendo do desenvolvimento da IA e da edição genética nas relações humanas. "Será que de algum modo irá mudar a forma como olhamos para nós como indivíduos? Se olharmos de modo diferente para alguém, isso vai mudar a natureza do amor?".


"Eu, Robô" 
Isaac Asimov
Relógio D’Água, 2002 (reedição) 


Publicado originalmente em 1950, "Eu, Robô" tornou-se um clássico da ficção científica e resulta de uma coletânea literária de contos do escritor e bioquímico norte-americano russo Isaac Asimov, nos quais enuncia aquelas que ainda hoje são consideradas as três leis fundamentais da robótica do ponto de vista humano: um robô não pode ferir um ser humano ou permitir que ele sofra; um robô deve obedecer às ordens que lhes são dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entram em conflito com a necessidade de não lhes causar qualquer mal; um robô deve proteger a sua própria existência, desde que não entre em conflito com as duas primeiras leis. Reeditado em Portugal em 2022 pela Relógio D’Água, o livro serviu como base para o roteiro do filme homónimo de 2004. Doutorado em Bioquímica, Isaac Asimov foi um dos autores mais influentes e reconhecidos na área da ficção científica e da divulgação científica no século XX.
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