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Dez regras para investir melhor

Se está a poupar a pensar no longo prazo, troque depósitos por acções. Se tiver pouca experiência, salte para o comboio dos fundos de investimento

13 de Dezembro de 2010 às 10:28
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Quando os mercados teimam em não recuperar das perdas acumuladas, até parece que é mais difícil investir. O PSI 20, o índice de referência para a praça alfacinha, ainda está ao nível de há cinco anos.

Muitos fundos que seguem de perto este e outros índices não conseguem sair da escuridão. Alguns investidores ainda estão para recuperar o dinheiro que investiram há mais de uma dúzia de anos. Contudo, as regras para investir melhor são as mesmas de sempre.

Muitos investidores, incluindo os profissionais, é que se esquecem delas. Desde que Benjamin Graham, o pai da análise fundamental das acções, começou a publicar livros para investidores, em 1934, que as principais normas para os investimentos saudáveis se mantêm.



1. Esqueça os depósitos a prazo
Se for ao banco constituir um depósito a prazo, é provável que receba uma taxa de juro bruta de cerca de 1,81 por cento por ano, mostram as estatísticas mais recentes do sector publicadas pelo Banco de Portugal. Depois de descontar os impostos sobre os juros, a rendibilidade dos depósitos desce para 1,42 por cento. Isso quer que 1.000 euros transformam-se em 1014,2 euros daqui a um ano. Contudo, para os 1.000 euros iniciais comprarem o mesmo que conseguem hoje, teriam de se capitalizar para 1019 euros, assumindo que a inflação se mantém no seu último valor oficial.

Estas contas mostram que os depósitos dos portugueses não estão a criar riqueza - nem a mantê-la. Na verdade, os depósitos a prazo tradicionais estão a gerar perdas de poder de compra para os seus titulares.





2. Aposte em acções se quer enriquecer
Embora os últimos anos não o corroborem, os mercados accionistas são os que mais rendem no longo prazo, mostram vários estudos académicos. Depois de estudarem um século e uma década de evolução das principais bolsas mundiais, Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton, investigadores da London Business School, concluíram que as acções mundiais ganharam 8,6 por cento por ano, incluindo o reinvestimento dos dividendos, enquanto as obrigações ganharam 4,7 por cento por ano. Esse diferencial pode ser decisivo: 450 mil euros que ganhem 8,6 por cento por ano durante uma década tornam-se em mais de um milhão de euros. Mas, se valorizarem a 4,7 por cento, não vão muito além dos 700 mil euros. Se for partir do zero, aplique 630 euros por mês em acções durante três décadas. No final é provável que tenha o seu milhão.





3. Diversifique as suas apostas
Apesar de as acções serem as líderes dos ganhos de longo prazo, os investidores devem proteger-se da volatilidade do mercado. Os especialistas dizem que a melhor forma está em dividir o património por vários produtos diferentes. Contudo, comprar acções da EDP, da Portugal Telecom e da Galp Energia não é diversificação suficiente. Primeiro, porque são todas acções. Se houver um grande tombo no mercado, em princípio todas elas sofrem. Segundo, porque são todas portuguesas, ou seja, têm exposição ao mercado nacional. Há eventos, como a aprovação do Orçamento do Estado, que têm impacto generalizado nas companhias da mesma nacionalidade. Assim, convém deslocar parte do portefólio para fora de Portugal e para outras classes de activos, como obrigações e imobiliário.





4. Deixe as emoções na cama
A primeira coisa que a maioria dos investidores portugueses fez, quando teve conhecimento dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, foi vender todos os seus títulos. Resultado:
os mercados caíram a pique. Em quatro dias, as acções europeias perderam, em média, 12 por cento. Como sempre, os títulos recuperaram do susto e voltaram à sua trajectória ascendente de longo prazo. Antes de fazer uma operação impulsiva, reflicta: será que um determinado acontecimento altera as razões porque investiu? Nestas ocasiões, há sempre um pequeno grupo de investidores que ganha: os frios e calculistas, que compram os títulos bem baratos. Não seja tolo: guarde as emoções para quem aprecia.





5. Se não percebe, fique quietinho
Já recomendava Peter Lynch, o gestor que levou o maior fundo de investimento do mundo a render 2.700 por cento em 13 anos, a investir apenas no que se conhece e se percebe. Apesar de ser uma regra de bom senso, a maior parte dos portugueses é facilmente levada pela conversa dos vendedores. Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, alertou para as baixas rendibilidades dos produtos financeiros complexos, muitas vezes conhecidos por produtos estruturados. São, na maioria dos casos, produtos que associam elevadas taxas de rendibilidade a alguns cenários como factor de atracção de investidores. Contudo, "frequentemente a probabilidade de sucesso associada a esses cenários é baixa e a rendibilidade esperada dos produtos é usualmente inferior à rendibilidade de aplicações de menor risco", esclareceu o presidente da CMVM numa conferência organizada pela Câmara de Comércio Americana há quase um ano.

Por isso, se persistir alguma dúvida sobre o instrumento financeiro que quer comprar ou subscrever, desista. Há certamente outros produtos alternativos mais simples.





6. Não seja ovelha
Se a vizinha de cima, o senhor do talho e o taxista lhe recomendam aquele mesmo investimento milagroso que só alguns sabem, provavelmente já não vale a pena seguir a ideia.

As boas ideias correm como o vento e, muito rapidamente, deixam de ser boas ideias para serem más apostas. Lembra-se quando o padeiro, o carteiro e a porteira lhe recomendaram acções de várias companhias tecnológicas em Fevereiro de 2000? A maioria desvalorizou-se 75 por cento antes que o ano terminasse.

Não foi a primeira vez que se formou uma bolha que acabou por explodir nos bolsos dos investidores que seguiram a manada. Em 1637, rebentou a bolha das tulipas na Holanda: muitos comerciantes, que seguiram a manada e chegaram a pagar mais de 65 mil euros a preços de hoje por uma flor, perderam 90 por cento dos seus investimentos.





7. Faça o trabalho de casa: informe-se antes de agir
Por que é que muitos investidores compraram acções da ParaRede, a actual Glintt, depois de terem valorizado 390 por cento nos primeiros 40 dias de 2000? Foi porque o padeiro disse que a Sonae ia lançar uma oferta pública de aquisição sobre a ParaRede ou porque a porteira estava confiante que o seu novo "site" ia ultrapassar o Sapo? O que aconteceu depois, já se sabe: Belmiro de Azevedo, o patrão da Sonae, não quis comprar a ParaRede e o terraPortugal.com, o portal da ParaRede, fechou um ano e meio depois de ter sido lançado. Se tivesse feito o seu trabalho de casa tinha percebido que não havia razões para a Sonae lançar uma OPA sobre uma empresa que valia 430 milhões de euros (o que equivale actualmente à Teixeira Duarte) e que o terraPortugal.com não tinha pernas para andar por falta de conteúdos.

É preciso uma postura crítica em todos as vertentes dos investimentos. O investidor potencial deve informar-se das condições do activo que quer adquirir, o que representa e o que pode acontecer no futuro, incluindo a probabilidade de poder perder dinheiro.





8. Tem dúvidas, fuja para os fundos
Comprar acções directamente não é para todos. A volatilidade dos mercados não é propícia aos investidores que sejam cardíacos ou que tenham crises de ansiedade. Além disso, para os pequenos investidores, o impacto no bolso pode ser pesado, mesmo que não registem desvalorizações nas carteira.

É que transaccionar acções comporta vários custos, em resultado das comissões de compra e venda, de guarda de títulos, de pagamentos de dividendos e dos impostos associados. Se quer está exposto ao mercado, mas sem negociar títulos, compre fundos de acções: são baratos, geridos por profissionais, rápidos de movimentar e diversificados. A oferta é muita, mas concentre-se nos que interessam.





9. Corte nas comissões
Pergunta o entrevistador: "Como decide que fundos escolher?" Responde William Sharpe: "A primeira coisa a procurar é a taxa global de custos, a segunda é a rotação da carteira e a terceira é alguma medida de desempenho passado. Mas, se tivesse de olhar apenas para uma coisa, eu escolheria a taxa global de custos." Sharpe sabe do que fala: além de ter sido laureado com o Nobel da Economia em 1990 "pelo trabalho pioneiro na teoria da economia financeira", o professor da Universidade de Stanford está intimamente ligado à prática, nomeadamente através de vários fundos de pensões. Na entrevista, Sharpe queria alertar para os custos que os investidores pagam sem saberem quando apostam em fundos de investimento.

Há dois custos que não podem passar ao lado da maioria dos investidores de fundos: a comissão de subscrição e a comissão de resgate, que reflectem o pagamento feito quando se investe e quando se desinveste. Apesar de a maioria dos bancos portugueses já não cobrar comissões de subscrição, as comissões de resgate ainda estão bastante presentes nos preçários. Normalmente, quanto mais tempo o investidor permanecer no fundo, menos paga no resgate.





10. Não desespere se não conseguir bater o mercado
São muitos os estudos académicos que provam que é quase impossível ter sempre um registo superior nos investimentos. É verdade que há gurus, como o norte-americano Warren Buffett, que conseguiu ganhar 434.057 por cento em 46 anos, o equivalente a 20,3 por cento por ano, mas são casos raríssimos. Se sabe que é improvável que tenha uma valorização superior ao índice de referência todos os anos, por que não compra o índice? Há alguns anos que a gestão de activos está a voltar-se para os fundos de índice, produtos de investimento colectivo que replicam a composição dos índices de referência. Feitas as contas, acaba por ganhar o mesmo que o índice menos uma ligeira comissão, que pode descer até 0,06 por cento do montante investido por ano.



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