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"A indústria transformadora de recursos minerais exporta grande parte da sua produção, 45% para fora da Europa e o restante na Europa, por isso os impactos da crise sanitária foram diferenciados. Nos casos das empresas que exportam para a China o impacto começou logo em janeiro", disse Miguel Goulão, vice-presidente da Assimagra-Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins.
A China, que é o segundo mercado de exportações para o setor, foi a primeira a sentir os efeitos da pandemia e as empresas exportadoras deste setor devem ter sido as primeiras em Portugal a ser afetadas pela covid-19.
Os clientes chineses cessaram a atividade, os processos logísticos com aquele mercado deixaram de existir e "as empresas sentiram dificuldades em escoar os seus produtos mesmo no caso dos clientes chineses que mantinham a atividade, mas não havia logística disponível para fazer chegar os produtos", recorda Miguel Goulão. Depois em março veio o efeito da covid-19 nas empresas que trabalhavam com a Europa, e que teve impacto em termos de colocação da produção.
Neste setor quase todas as empresas estão a laborar. "Há empresas que recorreram a lay-offs parciais, mas em número reduzido", segundo Miguel Goulão. Explica que nesta indústria se planeia com um horizonte de médio e longo prazo. "Não somos um setor que produz para amanhã, normalmente trabalhamos em projetos que demoram algum tempo e têm uma maturidade de decisão. Por isso o maior impacto desta pandemia será em 2021". Por exemplo, projetos em carteira para a área do turismo como hotéis e resorts que "estavam pensados e desenvolvidos, vão ser repensados, e provavelmente uns serão adiados e outros nem sequer vão ser feitos".
Perdas de 400 milhões
A sua avaliação aponta para perdas de 400 milhões de euros em 2020 para indústria transformadora de recursos minerais com o impacto da crise sanitária global.
Segundo Miguel Goulão, há um grande esforço do Governo para, permanentemente, moldar as medidas e as decisões às necessidades e ao pulsar da economia. "Ao longo do tempo as medidas têm vindo a ser alteradas, algumas delas mesmo muito alteradas, o que denota que há um esforço para as adaptar à realidade económica."
Para o vice-presidente executivo da Assimagra, "as medidas são manifestamente insuficientes e as coisas não vão ser iguais ao que eram. As empresas não vão ter produção para poder continuar a empregar as pessoas que empregavam, ficarão com metade e é preciso começar nas soluções e opções a tomar, se as pessoas vão para o desemprego, se ficam em lay-off, como é que isto vai funcionar".
"A indústria não vai ter essa capacidade de retomar todo o emprego", assegura Miguel Goulão. "É impossível pensar que os níveis de produção que tínhamos anteriormente à pandemia vão continuar a existir, isso vai levar o tempo. É preciso ter capacidade para resistir".
Preocupa-o o elevado endividamento do Estado, das famílias, das empresas, "mas as soluções que estão a ser encontradas, com exceção do lay-off, são todas de aumento do endividamento". Por isso considera que são necessários novos modelos de financiamento.
"Não podemos ter as empresas tão dependentes do financiamento bancário. É preciso criar linhas diferenciadas, como por exemplo o acesso de PME a um mercado de capitais diferenciado. É obvio que tem de haver uma evolução na literacia financeira das empresas e uma aposta mais profissional ao nível de quem acompanha as empresas, tem de haver o espírito por parte dos empresários em abrir o seu capital das empresas a terceiros, mas esta reflexão tem de existir", afirma Miguel Goulão.
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