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"Há elementos-chave nesta história que explicam a capacidade de resposta que assistimos nesta crise. As PME inovadoras não são uma ideia nova nem se tornaram inovadoras ontem, é um caminho longo de transformação e resiliência pela passagem por sucessivas crises nas últimas duas décadas, em particular na última década", afirmou Jorge Portugal, diretor-geral da Cotec Portugal.
Salientou que na crise global de 2008, a que se seguiu uma crise de dívida soberana, e depois um programa de assistência, as PME fizeram o seu caminho. "Em 2010 foi a abertura da economia portuguesa ao mundo com maior integração na economia mundial passando o peso das exportações no PIB de 29 para 45% e todos os setores contribuíram para este resultado."
A indústria mostrou uma grande resiliência a este choque de procura, teve de resolver os problemas de segurança dos trabalhadores como outros setores, até porque grande parte não poderia ir para teletrabalho, não podiam dissociar-se das máquinas. Por isso teve de haver uma enorme capacidade de manter as equipas a funcionar mas protegidas, por outro lado as regras de distanciamento não funcionam muito bem com os lay-outs industriais, que teve de ser modificada.
Questão de sourcing
Os dados do Banco de Portugal e do INE mostram, do ponto de vista da adaptação do lay-off, que apenas metade das empresas pediu ou vai pedir apoio, moratórias ou lay-off. Estas empresas vão necessitar de confiança para um desconfinamento o mais rápido possível e o mais eficaz e que deverá ser concertado com os outros mercados, para os outros países, para estabelecer a estabilidade da cadeia de abastecimento, que foi perturbada.
Segundo Jorge Portugal, "há lições a tirar desta crise, sobretudo a excessiva dependência do que se chamava a fábrica do mundo. O abastecimento, o sourcing, terá de ser mais diversificado para reduzir o risco um pouco à custa da eficiência e dos custos. Terá de haver uma redefinição da cadeia de abastecimento".
Salientou que indústria é um núcleo de resiliência muito importante para a economia. Com base em números agregados ao nível da Europa, um em cada cinco empregos é industrial mas 80% das exportações são bens e serviços industriais, 64% do I&E e metade das atividades de inovação são na indústria, e um posto de trabalho criado na indústria corresponde de meio a dois postos de trabalho criados nos outros setores. "Os multiplicadores da indústria são incontornáveis", enfatizou Jorge Portugal.
Economia bio e circular
Os decisores políticos europeus e nacionais já manifestaram a intenção de reforçar a indústria. Esta crise teve um mérito que foi a Europa perceber que tem de se reindustrializar, um conceito que já foi lançado por várias comissões europeias anteriores, mas que tem vindo a oscilar. Contudo, pela primeira vez, a Comissão Europeia considera a indústria uma prioridade, referiu Jorge Portugal.
"Mas mais do que uma reindustrialização aos modos antigos vamos precisar de um renascimento industrial, e neste aspeto os empresários portugueses sabem muito bem o que isso significa porque já começaram. A bioeconomia, a economia circular e a digitalização são elementos essenciais nesse renascimento", explicou Jorge Portugal
Neste momento as aplicações de bioeconomia e de economia circular já valem mais de 10% do VAB, e mais de 10% do emprego e são transversais a quase todos os setores. A Cotec fez recentemente um estudo "Bioeconomia circular digital, o potencial para Portugal", que mostra que estas atividades têm particular impacto em indústrias transformadores como o têxtil, o calçado, na construção.
Na ótica de Jorge Portugal, "este renascimento industrial significa uma convergência entre diferentes setores e áreas do conhecimento. Além disso, é fundamental a fabricação, pois não podemos fazer o outsourcing como fizemos até agora na fábrica do mundo, a China. Temos de repatriar alguma da nossa produção, em setores estratégicos, mas, acima de tudo é preciso ter a fábrica para criar valor a montante, com o design de produtos com melhor performance ambiental, com uma menor exigência nos recursos naturais, com um sistema de sourcing em matérias-primas renováveis, as bio produzidas através de sistemas renováveis e depois a jusante, a capacidade de distribuição.
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Inovação
Investimento em mil milhões de euros em inovação, para a indústria 4.0, digitalização e economia circular.
A pedra como um setor da bioeconomia
Jorge Portugal referiu como exemplo o setor da pedra, que "muitos considerariam antigo, pouco moderno, ambientalmente impactante, e que, há quinze anos, tem feito uma trajetória notável pela inovação e pelo desenvolvimento tecnológico em todas as áreas. O setor de transformação de pedras ornamentais tem um alto valor acrescentado porque tudo se faz em Portugal, é um setor da bioeconomia porque extrai um produto natural de grande durabilidade e circular".
O setor reinventou-se, e as máquinas, que permitiram aumentar a competitividade do calçado, foram aplicadas ao setor da pedra, criando uma indústria moderna, muito especializada que compete com os seus concorrentes como os italianos e que se tornou global.
Salientou ainda que em 2016 o programa Compete não tinha o conceito de indústria 4.0 nem de economia circular. "Foi necessária uma enorme agilidade da administração pública e das políticas públicas de adaptar e incluir dentro do que eram os conteúdos, as linhas, os avisos, estes novos conceitos e as empresas responderam", explicou Jorge Portugal.
O investimento feito em 2017 e 2018 foi de 3,2 mil milhões de euros em inovação dirigido à indústria 4.0, à digitalização e à economia circular. "Estes investimentos foram chave para projetar a competitividade das empresas e criar uma linha da frente de exportadores e de empresas que estão integradas na economia mundial", concluiu Jorge Portugal.
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