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A indústria europeia é uma prioridade no plano de recuperação

Os deputados portugueses defendem que este plano de recuperação económica seja essencialmente baseado em subsídios a fundo perdido, mas a solução final vai ser um misto entre as duas modalidades, subsídios e empréstimos.

Filipe S. Fernandes 21 de Maio de 2020 às 15:00
Maria da Graça Carvalho acredita numa resposta europeia à crise.
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"A crise da covid-19 tem um grande impacto na produção industrial e nas cadeias de valor e agora teremos de nos preparar para a recuperação. Existem algumas oportunidades para Portugal", afirma Maria da Graça Carvalho, deputada no Parlamento Europeu e presidente do Intergrupo-Investimentos Sustentáveis de Longo Prazo e Indústria Europeia Competitiva e que deverá vir a presidir ao Instituto Sá Carneiro.

Nas prioridades da Comissão Europeia para a recuperação económica está a indústria europeia, que durante muitos anos não esteve na agenda política europeia. "Esta Comissão Europeia e este Parlamento Europeu voltaram a colocar a estratégia industrial na agenda política, o que é muito importante e já tardava. Por isso, a Comissão Europeia fez, a 10 e 11 de março, pouco antes de a covid-19 ter levado ao confinamento de quase toda a Europa, uma série de documentos com uma estratégia europeia para a indústria, para os dados, que é também essencialmente virada para a indústria, uma estratégia para as PME", referiu Maria da Graça Carvalho.

Estes documentos terão de ser adaptados pelo plano de recuperação económica, pelo orçamento europeu e pelos programas europeus. "Portugal deverá estar muito atento em relação a todas as oportunidades que podem estar nestes documentos de ação", sublinhou.

As grandes prioridades iniciais são a liquidez das empresas e o emprego, aliado a um novo programa que nunca existiu no orçamento europeu e que é um grande programa na área da saúde. Segundo Maria da Graça Carvalho, existiam pequenos programas, muito relacionados com os problemas transfronteiriços, as doenças raras, mas nunca um programa de saúde e de financiamento aos sistemas de saúde e que agora está a ser proposto e preparado.

2% do PIB europeu

O Parlamento Europeu está a pedir um orçamento superior ao que estava a discutir antes da crise. "Esperamos que o orçamento seja de uma grandeza de 1,2% do PIB europeu e alavancado a esse orçamento haja um plano de recuperação económica que possa acrescentar cerca de 0,8% do PIB europeu, ou seja, 2% do PIB europeu", referiu Maria da Graça Carvalho.

Os deputados portugueses defendem que este plano de recuperação económica seja essencialmente baseado em subsídios a fundo perdido. "Já sabemos que não há consenso porque há países que são a favor dos empréstimos. O que eu prevejo é que vá ser um misto entre as duas modalidades, subsídios e empréstimos. O importante é que nos dois primeiros anos seja essencialmente baseado em subsídios e que os empréstimos sejam mais para o fim do período e orçamento", admite Maria da Graça Carvalho.

Outras prioridades, que já estavam nas linhas de ação da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, são a transformação digital, a estratégia verde e ambiental, a que se adicionou nova prioridade que é tornar a economia europeia e a indústria europeia mais resilientes e portanto ter uma maior independência estratégica das cadeias de valor europeias.

Para Maria da Graça de Carvalho, "é preciso ter algum cuidado para que este conceito não se transforme numa certa forma de protecionismo. Estou de acordo com as questões estratégicas e com uma menor dependência estratégica, e esta crise demonstrou que isso é necessário, mas temos tudo a ganhar por ter uma política aberta ao mundo, que nos permite exportar e exportar cada vez mais".

Uma das suas esperanças é que o sucesso do Horizon 2020, programa de ciência e inovação europeu, que agora é o Horizon Europe, seja aumentado ou pelo menos mantido. "Há um consenso, que esta crise demonstrou, que a independência estratégica está no poder na área do conhecimento, na educação, na ciência e na inovação. Se formos fortes nestas áreas, conseguimos ser mais independentes e mais rapidamente se produz o que necessitamos para fazer face às grandes adversidades como foi o caso da covid-19", concluiu Maria Graça de Carvalho.

Saúde pública será mais europeia 

"Este contexto vai conduzir a uma maior integração europeia", considera Maria da Graça Carvalho. Como exemplo prático apontou a necessidade de considerar a saúde de uma forma muito mais integrada. Os Estados-membros opunham-se, até agora, frontalmente contra qualquer "ingerência", como diziam, da Comissão Europeia ou do Parlamento Europeu nas questões da saúde pública.

Esta crise veio mostrar que, sem trabalhar em conjunto a nível europeu e até global, não se consegue fazer face a problemas de saúde pública como este. "Estas pandemias irão ser cada vez mais uma realidade dos nossos tempos e portanto temos de juntar esforços para fazer face a estes desafios globais", avisou Maria da Graça Carvalho.

Salientou que a maior parte dos problemas atuais em áreas como a saúde, o ambiente, a economia, implicam soluções europeias e globais, mesmo que depois a sua aplicação concreta seja local e regional. Deu o exemplo do desenvolvimento científico, que é feito em parcerias, pois são necessários dados para desenvolver uma terapia ou uma vacina, e só com a colaboração de muitos se consegue ter acesso aos dados que são necessários. "Uma economia baseada no big data leva a que seja cada vez mais evidente que precisamos de maior cooperação a nível internacional e a nível europeu", enunciou.

A eurodeputada Maria da Graça Carvalho é pragmática, e não antevê grandes novidades, em termos da construção europeia, nas formas de cooperação. Admite que vão ser pequenos passos de cooperação em determinadas áreas específicas, na saúde, na indústria, que era tida como uma área nacional e agora vemos que precisamos de colaborar mais a nível europeu. Passo a passo, de uma forma pragmática e concreta que esta crise vai levar a uma maior integração europeia", concluiu a professora catedrática no Departamento de Engenharia Mecânica do IST da Universidade de Lisboa. 

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