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Como apoiar as empresas, as famílias e as pessoas

Já pensaram o que sucederia se todos os países passassem a produzir só para eles próprios?

26 de Março de 2020 às 11:35
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Se vierem a ser destruídos 200 mil empregos, um valor, ao que tudo indica, optimista. Se cada emprego exigir um investimento, em média, de 10 mil euros, se o desemprego durar 6 meses e obrigar a um subsídio de desemprego, em média, de 700 euros, teremos a módica quantia de 8 400 milhões de euros.

Parafraseando uma antiga anedota, posto perante o dilema "o dinheiro ou a vida", se responde "o dinheiro faz-me tanta falta!", dir-se-ia que o governo tem vindo a hesitar entre a vida (da economia) e o superavit. É que o superavit dava-lhe tanto jeito! Mesmo as medidas hoje anunciadas, para além de serem quantitativamente poucas e do erro de escolher sectores por serem os mais imediatamente atingidos por esta crise (alguns deles também foram os mais beneficiados pelo boom anterior pelo que talvez se devessem ter prevenido melhor), são sobretudo garantias. Dinheiro próprio, ou melhor, dinheiro nosso que o Governo gere, é pouco. Talvez um critério pudesse ser este: quanto custará criar os postos de trabalho que, eventualmente, virão a ser destruídos (suponhamos que serão 200 mil - um valor, ao que tudo indica, optimista).

Se cada emprego exigir um investimento, em média, de 10 mil euros (um valor baixo que admite que muita da capacidade já está instalada e só precisará de ser reativada), se o desemprego durar 6 meses e obrigar a um subsídio de desemprego, em média, de 700 euros, teremos a módica quantia de 8 400 milhões de euros. Se o Governo, gastando metade, conseguir evitar metade, ficamos a ganhar, pois a economia real não se retrairá tanto e o impacto social será menor. Deste ponto de vista, temos de evitar que a dicotomia público-privado se repita. No sector público, saber se há salário no fim do mês, não faz parte da angústia gerada pela covid-19. No privado, exponencia a angústia.

Por isso, para além dos apoios diretos às empresas, o Estado tem de pôr, rapidamente, em marcha um plano de apoio às pessoas e famílias que passa, também, por garantir que a rede de instituições de solidariedade não desaba. Nem os ditos neoliberais acham, aqui e agora, que as empresas (o mercado) sozinhas dão conta do recado. O Governo está à espera de quê?

Não faz sentido discriminar empresas

Ao contrário do Governo, não creio que faça sentido discriminar as empresas, em geral, e as PME, em particular, pelo seu sector de atividade e, se o fizesse, tenho a maior das dúvidas que as indústrias da hotelaria e restauração fossem prioritárias (estão entre as mais afetadas mas também foram das que mais beneficiaram com o boom turístico, esperando-se que tenham uma situação mais sólida do que, por exemplo, o comércio em geral).

Aceito que as PME tenham um apoio prioritário: em média, são as que têm maior vulnerabilidade a esta crise. Mas, ao arrepio do que parece consensual, defendo que as empresas industriais que possam deveriam manter-se em actividade. Por nós e pelos outros. Já pensaram o que sucederia se todos os países passassem a produzir só para eles próprios? Nós nem duraríamos 15 dias antes que fosse preciso o racionamento.

Como não sou doido, sei que para isso são precisas medidas muito concretas, dando protecção a esses trabalhadores (incluindo empresários e gestores). Devem ter condições de deslocação seguras. Se tiverem carro, devem-no utilizar, sendo-lhes fornecidas senhas para abastecimento. Se não, será preciso organizar transportes gratuitos que permitam manter as distâncias de segurança que, também, protejam os motoristas. A todos devem ser disponibilizados testes regulares do covid19 para garantir a sua segurança e a dos seus colegas.

Como é óbvio, este tipo de medidas e apoios devem ser generalizadas a quem está a trabalhar por nós e para nós. Para eles, toda a prioridade. É esse um dos princípios da economia de guerra que, num primeiro momento, talvez escapem a governantes de perfil citadino.

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