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A Linha do Vouga é "uma peça-chave"

A requalificação da Linha do Vouga vai mudar "radicalmente" a mobilidade na região, acredita Jorge Vultos Sequeira. Mas é preciso "trabalhar para que saia do papel".

Rute Barbedo 29 de Janeiro de 2019 às 12:30
Jorge Vultos Sequeira presidente da Câmara de São João da Madeira Ricardo JR
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É o menor concelho do país mas a sua indústria destaca-se no distrito de Aveiro. Pela possibilidade de praticar políticas de proximidade, o presidente da Câmara acredita que São João da Madeira pode ser "um laboratório de inovação".

 

Como é gerir o menor município do país, que tem uma única freguesia?

Permite ter políticas de proximidade. Conseguimos chegar praticamente a todas as pessoas e isso permite um trabalho de articulação que admito que seja muito mais difícil noutros concelhos. Isto leva-me a crer que São João da Madeira pode ser um laboratório para experiências de inovação. É o que temos tentado fazer.

 

Que experiências são essas?

Por exemplo, decidimos que os estudantes circulariam gratuitamente na rede municipal de transportes, o que tem um objetivo de natureza ambiental e visa proporcionar aos jovens uma experiência de contacto com o transporte coletivo. Na educação, criámos um Erasmus Municipal, destinado a levar os estudantes para o estrangeiro. Criámos uma Assembleia Municipal Jovem, que acontece três vezes por ano, onde eles confrontam o presidente com opiniões, críticas, propostas. Também fomos um dos primeiros 22 concelhos do país a instalar um Espaço Empresa...

 

E têm trabalhado no sentido de atrair novas empresas ao concelho?

Esse trabalho existe sobretudo no apoio ao empreendedorismo e à inovação, através de duas instituições que têm tido um êxito muito importante. A Sanjotec, um parque de ciência e tecnologia detido em 70% pela Câmara Municipal, em parceria com a Universidade de Aveiro, com a Faurecia e outras instituições, tem uma taxa de ocupação de 93%, cerca de 60 empresas, perto de 400 trabalhadores e um volume de negócios de cerca de 28 milhões de euros. Grande parte do que lá se produz é destinado à exportação, e produzem-se coisas fantásticas. Por outro lado, a Câmara Municipal investiu na Oliva Creative Factory, uma incubadora de cerca de 30 empresas ligadas à moda, ao têxtil, à comunicação e ao marketing, onde trabalham perto de 120 pessoas, gerando um volume de negócios de cerca de 2,8 milhões de euros.

 

Ambas foram criadas antes da sua presidência. Deixaram-lhe uma boa herança?

Não nego isso. É claro que as boas coisas têm de ser bem tratadas… É muito fácil destruir num ápice o que está bem feito.

Temos um problema de habitação, que faz com que muitas pessoas sejam drenadas para outros concelhos.

 

Para haver empreendedorismo são precisas pessoas. Têm conseguido fixar jovens no concelho?

Se compararmos o fluxo de entradas no concelho face aos residentes, São João da Madeira está em primeiro lugar no que diz respeito à Área Metropolitana do Porto. Outro dado muito interessante é que cerca de 50% das crianças que estudam nas nossas escolas vêm de fora. Agora, não nego que temos um problema de habitação, um problema antigo que é impossível resolver no prazo de um ou dois anos e que faz com que muitas pessoas sejam drenadas para outros concelhos. Mas estamos a tentar resolver.

 

Apresentou um orçamento de 25 milhões de euros para 2019, abaixo do do ano passado, por questões de "prudência" quanto à receita e "firmeza" na redução da despesa, segundo disse.

Essa redução acontece essencialmente porque os orçamentos municipais são hoje muito tributários de fundos comunitários. Sucede que alguns dos projetos de 2018 tiveram execução física logo em 2018. E em alguns casos encontrámos empréstimos feitos mas sem obras projetadas, portanto, meteu-se o carro à frente dos bois. Mas vamos avançar com alguns desses projetos e durante este ano iremos contrair empréstimos, por isso, seguramente, o orçamento vai ser corrigido em alta.

 

Vão ficar mais dependentes da banca?

Temos um endividamento muito prudente, e ainda temos uma enorme presença de fundos comunitários e tencionamos aproveitar todas as oportunidades do Portugal 2030.

 

O Governo anunciou recentemente a tão esperada obra na Linha do Vouga. Que impacto  terá no concelho?

É uma peça-chave no desenvolvimento do concelho, da área entre Douro e Vouga e até da Área Metropolitana do Porto. Se for transformada numa linha com bitola equivalente à Linha do Norte e se pudermos ligá-las, a mobilidade dos concelhos de Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira e Espinho muda radicalmente. A Infraestruturas de Portugal tem um estudo que revela que, se a Linha do Vouga for melhorada nestes termos, o aumento da procura é logo de 60%, sendo que a linha serve cerca de 500 mil passageiros por ano. Hoje as pessoas têm de ir até Espinho, sair da estação e ir a pé para a Linha do Norte. E a viagem demora quase uma hora, o que é completamente impossível.

 

A medida vem tarde?

Vem tarde. Mas quero saudar este Governo por ter assumido este compromisso. Agora temos de trabalhar para que ela saia do papel, de manter a chama acesa para que a locomotiva não pare.

perfil

O advogado socialista

Estudou Direito na Universidade de Coimbra e teve desde cedo uma participação na vida associativa, de agrupamentos estudantis à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de São João da Madeira, que dirigiu. Entre 2005 e 2007, no Governo de Sócrates, Jorge Vultos Sequeira chefiou o gabinete do subsecretário de Estado da Administração Interna. O socialista nascido em Évora - mas a viver desde os 11 anos em São João da Madeira - liderou a Federação Distrital do PS de Aveiro e a comissão política da concelhia sanjoanense do partido. Em 2017, assumiu a presidência da autarquia que desde 1979 esteve nas mãos da direita partidária.

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