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Cereais às toneladas e aos milhões na Industrial do Sobral

A Industrial do Sobral tem dois funcionários, mais o sócio gerente e transacciona 300 a 400 toneladas de cereais por dia. Por ano, factura 17 a 18 milhões. “Sem um único empréstimo”.

27 de Abril de 2016 às 20:50
Bruno Simão
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Por aquele andar discreto, num prédio recente no centro de Santarém, passam, por dia, 300 a 400 toneladas de cereais. José Bastos, 70 anos, não tira os olhos do terminal da Reuters onde vão desfilando as notícias e os números dos grandes mercados internacionais, as bolsas de derivados de Chicago e o MATIF, de Paris. Ali transaccionam-se futuros, mas os negócios fazem-se ao minuto. "Estou constantemente ao telefone a fazer negócios, consoante as tendências do mercado. Quando de manhã alguém tem uma dor de barriga na China, isto é uma cabeçada tremenda. No bom ou no mau sentido", resume o empresário.

José Bastos é sócio gerente da Agro-Industrial do Sobral, uma "pequena" empresa de "trading" que se dedica ao comércio por grosso de cereais, sementes, leguminosas, oleaginosas e outras matérias-primas agrícolas. Basicamente, compra aos grandes produtores internacionais e vende cá, às fábricas de rações para animais. O "trading" é  um elo da corrente num negócio que todos os dias movimenta milhões de euros.

A Agro-Industrial do Sobral está no "top ten" das maiores do concelho em volume de negócios, mas a nível internacional "tem uma fatia de negócio muito pequena. É um negócio grande, mas em relação ao sector é um negócio pequeno. Nós facturamos 17- 18 milhões num ano, a nossa principal concorrente factura 600-700 milhões", explica José Bastos.

O empresário, nascido em Santa Maria da Feira, começou desde cedo a trabalhar na área das rações para animais. "Comprava aos produtores e vendia aos criadores de gado e em alguns dias passavam-me por cima dos ombros uma média de 500 sacos de 50 quilos", recorda. Agora, nem vê os produtos que transacciona, a menos que algum venha com defeito e seja preciso ir avaliar.

José Bastos não estudou, tirou apenas a antiga 4.ª classe, mas mexe-se no meio com o à-vontade de quem conhece o negócio há muitas décadas. Com ele trabalham mais duas pessoas, uma para a área financeira e da gestão e um jovem que José Bastos está a treinar para o substituir no "trading" quando um dia decidir reformar-se. "Somos a empresa que factura mais ‘per capita’", sorri.

E a ideia é crescer? Não exactamente. "Fiz uma opção de gestão que neste momento me está a ser prejudicial e que foi nunca recorrer a dinheiro da banca", explica o gestor. "Nunca recorri a empréstimos, trabalho com capitais próprios e com sinergias internas e a verdade é que se me propusessem trocar a minha empresa pela principal concorrente, eu ficava com a minha", afirma. "Gosto muito de dormir sossegado. Nós fazemos muitos futuros e estamos sempre muito em risco. Agora já não com tanta frequência, mas dizia sempre que de manhã podia estar rico e à noite  falido. Isto é muito violento", remata.

Tome nota Uma empresa familiar que move milhões  A Agro-Industrial do Sobral nasceu no concelho de Santarém quase por acaso, "porque na altura se proporcionou". É hoje uma das maiores em volume de negócios.

Pai, mãe e duas filhas fazem a Firma

José Bastos fundou a empresa, é sócio gerente, e nunca abriu o capital para fora da família, constituída por ele próprio, a sua mulher e duas filhas, que não estão no ramo. Quando se reformar, conta com os dois únicos funcionários para darem continuidade ao negócios.

Um momento de risco para o sector

A crise dos produtores de animais, com o preço da carne muito baixo, está a reflectir-se em toda a cadeia, incluindo os fornecedores de rações para animais. "É um momento de risco", admite o responsável pela Agro-industrial do Sobral. "O produto final não paga e nós que estamos no meio somos os mais afectados".

Investimentos no imobiliário

À parte a empresa propriamente dita, José Bastos tem também investimentos na área financeira e do imobiliário. São, contudo, investimentos laterais. O seu envolvimento total é com o "trading", onde factura por ano entre 17 e 18 milhões de euros.

Paixão pelas viagens mas com o trabalho

A família gosta de viajar e conhecer o mundo, mas a área em que trabalha exige dedicação a tempo inteiro e o gestor sempre "colado ao telefone". Como daquela vez em que foi à Síria: "Viajei até Palmira e nesse dia comprei e vendi 8 mil toneladas de cereal. Não vi nada". 
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