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Talent: Só chega ao topo quem tiver soft skills

O talento é a corrida ao ouro das empresas no novo mundo digital. É o "a priori" do digital, garantem. Outras vezes é uma buzzword. As actuais organizações têm dificuldades em usá-lo porque implica redesenhar o futuro.

27 de Julho de 2016 às 11:17
Inês Lourenço
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A importância da atracção deste novo talento é que podem ajudar na transformação das organizações que têm de mudar internamente para lidar com esta nova realidade em termos do skill-set e na forma de organização (motivação, recompensa, visibilidade).

As empresas estão interessadas em trazer as novas competências das gerações mais novas para dentro de forma a contribuir para esta nova digitalização de todas as áreas. Provavelmente vai obrigar a fazer uma coisa inovadora que é a formação revertida (reverse training) em que muda o paradigma do formador e do aprendiz porque como as novas ferramentas impactam em todas as áreas e os que entram estão mais bem preparados e detêm as competências que no interior da empresa necessitam.

As empresas terão tendência a transformar-se em organizadoras do talento porque os talentos gostam de ser motivados mas não de ser controlados, são reactivos ao comand-control.

As fronteiras das empresas tornam-se mais porosas e o conceito de inovação aberta ganha novo impulso pois é possível abrir o negócio à criatividade existente como fez a Netflix que colocou ao alcance dos talentos a melhoria do algoritmo que é parte da sua estratégia. Por outro lado, expande-se o conceito de projecto, de criação de equipas para se comprometerem com determinado objectivo tal como se faz na indústria do cinema e do futebol. Implica que a organização saiba como fazer com que as pessoas tenham engagement com as organizações nomeadamente as pessoas não estão nas fronteiras tradicionais da empresa mas estão em projectos e que coloca questões como a garantia de confidencialidade, controlo da actividade.

Todos têm talentos

Sempre se recrutou com skills técnicos e com competências específicas para uma determinada função. A grande diferença é que vai passar a recrutar-se pessoas mais baseados em soft skills, adaptáveis e flexíveis tal como se exige à organização. Os valores que mais prezam são a autonomia, têm a atracção pelo empreendedorismo, preferem bons ambientes de trabalho, lideranças próximas. Os soft skills podem ser desenvolvidos através de metodologias de gestão do tempo, de equipas, motivação, inteligência emocional, de aspectos comportamentais, de liderança, de negociação. E a sua importância pode ser medida pelo facto de, por exemplo, um executivo normalmente falhar por falta de soft skills. Também nas start-ups o sucesso passa muitas vezes pelo facto de o líder do projecto ter estas competências. Mesmo no mundo tecnológico em que os skills técnicos são fundamentais só chega ao topo que tiver soft skills.

O talento é inerente à condição humana como tão bem descreve a parábola bíblica dos talentos. Todas as pessoas têm talentos e, por isso é preciso detectá-lo, o que normalmente se faz na escola. Mas as organizações também têm de encontrar os talentos e uma das condições é dar liberdade e não formatar as pessoas para elas poderem dar o melhor de si próprias e poderem dar ideias transformadoras. A demonstração do talento tanto pode aparecer aos cinco anos como aos quinze mas não se deve confundir talento com quem é muito bom a jogar futebol, a cantar, na matemática. O talento tem a ver com o conhecimento e a capacidade para o adquirir ou com uma determinada habilidade ou skill, mas também quem em agilidade mental, capacidade de se adaptar à mudança, o gosto por fazer coisas novas, a capacidade para trabalhar com os outros, o gosto na assunção de responsabilidades e riscos. Tudo isto são talentos muito valorizados nesta época.

O novo poder executivo

As organizações desde as mais sofisticadas que sempre estiveram no edge da inovação até às mais tradicionais percebem que o mundo está a mudar e passam a exigir outro tipo de perfis, com capacidade de ser diferente.

O executivo que hoje se exige tem de ter visão estratégica, do mercado e das suas tendências. A experiência polifacetada e variada pode ajudar a antecipar tendências e impactos no negócio e neste aspecto a questão da tecnologia e do digital assumem um papel preponderante.

Hoje o líder que tem de influenciar directamente o negócio porque este vai ter enfrentar desafios que muitas vezes ainda não estão inteiramente objectivados, tem de ser o motor da mudança, ter criatividade e pensar out of the box, mudar a filosofia e o modelo de negócio ao que a tecnologia oferece, inovar, a adaptação e flexibilidade que deixam de ser valores acrescentados e passam a ser standard.

Think tank e a regra Chatham House   O objectivo deste think tank promovido pela EY e o Negócios foi reflectir sobre os temas estruturantes do beyond - Portugal Digital Acceleration: o talento, as comunidades e a partilha, aspectos legais e de segurança, cliente, competitividade e estilos de vida.

Para que a discussão fosse mais livre e aberta adoptou-se a regra conhecida de Chatham House, em que os participantes são livres de expressar as suas opiniões e a informação recebida pode ser utilizada, mas não pode ser atribuída.

Participaram Raul Vaz, director do Negócios, Miguel Fernandes, executive director da EY, Eduardo Marçal Grilo, ex-administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, Francisco Veloso, director da Católica Lisbon School of Business, Miguel Castro Neto, professor na Nova Information Management School, Madalena Tomé, CEO da SIBS, Maria João Valente Rosa, directora da Pordata e Bento Correia, chairman da Vision-Box.