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Rui Dinis: “É na genómica que reside a maior esperança”

Recentes e contínuos avanços no diagnóstico e no tratamento do cancro prostático já permitiram avanços notáveis na sobrevivência e na qualidade de vida.

10 de Outubro de 2022 às 18:30
Rui Dinis, diretor do Serviço de Oncologia Médica no Hospital do Espírito Santo de Évora. DR
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"Para além da reconhecida evolução no diagnóstico preciso de cancro prostático, de que são exemplos a ressonância multiparamétrica para guiar a biopsia e o exame de medicina nuclear PET-PSMA para detetar e estadiar doença invisível por exames convencionais, cabe-me destacar os avanços nos tratamentos, que dependem de extensão (estadiamento), categoria de risco, velocidade de duplicação do PSA, tratamento prévio, condição clínica do doente e recentemente da genómica.

Em primeiro, o mais notável avanço no cancro da próstata foi a descoberta de que o uso precoce dos novos agentes hormonais - disponíveis desde 2011 mas outrora limitados à fase de doença metastizada resistente à castração após quimioterapia-, aumentam a sobrevivência, tanto em doentes metastizados e não metastizados resistentes à castração, como naqueles ainda sensíveis.

Em segundo, a genómica. A identificação de mutações germinais nos genes envolvidos na reparação por recombinação homóloga, nomeadamente BRCA2 e BRCA1, permite predizer resposta a terapias alvo como os inibidores da PARP, essenciais para anular as consequências deletérias do défice da recombinação. Mas várias alterações somáticas estão em estudo como condutoras para receberem uma terapia (e um diagnóstico precoce) de precisão, identificadas em tecido ou em cómoda biopsia líquida.

Radio-farmácia

Em terceiro, sucesso firmado tem a radio-farmácia, nos doentes de cancro metastizado aos ossos e resistente a castração e, mais recente e entusiasticamente, uma terapia radioligando aprovada para doentes com CPRC após progressão um medicamento de nova geração, cujo mecanismo de ação parte da capacidade do antigénio de membrana específico da próstata (PSMA) identificar a doença, antes do Lutécio libertar beta-partículas nas células marcando PSMA e naquelas em redor, destruindo de forma precisa o cancro.

Em quarto, apesar do microambiente tumoral no cancro da próstata ser muito hostil ao sistema imune, combinações em estudo de inibidores de pontos de controlo PD1, PDL1 e CTL4 e outros tratamentos prometem melhores resultados.

Em conclusão, recentes e contínuos avanços no diagnóstico e no tratamento do cancro prostático já permitiram avanços notáveis na sobrevivência e na qualidade de vida, mas é na genómica que reside a maior esperança de curar ou controlar com precisão esta doença (ainda) fatal."