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Portugal pode vir a ter uma chuva de estrelas Michelin

Para o chef Kiko Martins Portugal está na crista da onda, por isso é provável que haja uma "chuva de estrelas" Michelin. Até porque quem "viaja percebe que há muitos restaurantes no país que merecem uma estrela".

03 de Outubro de 2017 às 11:38
O chef Kiko Martins explicou os critérios do Guia Michelin. Inês Lourenço
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"Há um estilo Michelin que resulta dos seus critérios, que são sobretudo a matéria-prima, o ponto de cozedura, a lógica entre os ingredientes e o empratamento" assinala o chef Kiko Martins, que teve uma reunião com um inspector do Guia Michelin que lhe explicou as regras para a atribuição das estrelas. Assinala que Portugal está na crista da onda, por isso é provável que haja uma "chuva de estrelas" até porque quem "viaja percebe que há muitos restaurantes no país que merecem uma estrela". Portugal passou de 14 restaurantes e 17 estrelas em 2015, para 21 restaurantes e 26 estrelas em 2016. Entre 1974 e 2009, o máximo de estrelas e de restaurantes esteve em seis.

Há uma falta de preparação para o embrulho, de sofisticação e de imagem que fazem da cozinha portuguesa uma coisa tosca.  Miguel Guedes de Sousa
CEO da Amorim Luxury

"Há uma estética associada aos guias Michelin que vale muito. Mas pode-se perguntar porque é que o Vítor Sobral não tem duas estrelas como outros cinco chefs? Porque a estética da cozinha portuguesa não se encaixa na do guia Michelin" refere Paulo Amado, das Edições do Gosto.

Consumidores de estrelas

Miguel Guedes e Sousa diz que "a cozinha portuguesa é uma cozinha rústica que não teve a revolução que existiu em Espanha e, provavelmente, não vamos ter porque as nossas características não são essas, o que coloca a questão de como se avalia esta cozinha". Refere que tem no JNcQUOI um "espaço maravilhoso, o software também é bom" e não trabalha para a estrela, foca-se nos clientes, mas "adoraria ter uma estrela". Também Pedro Cardoso referiu que já ganhou uma vez uma estrela e gostava de ganhar novamente. Mas todos são unânimes em defender que há mais e melhor gastronomia, para além dos restaurantes com as estrelas Michelin. A importância do guia Michelin tem a ver com o facto de servir de guia a muitos "foodies" e tem também uma dimensão de reconhecimento.

Glamour e drama na cozinha

A gastronomia é tema sexy, partilhável e a cozinha permite a criação de dramas, tudo alimentos bons para os programas de televisão.

O programa de Ljubomir Stanisic, Pesadelo na Cozinha, baseado no formato de Gordon Ramsay, chegou ao horário nobre da TVI aos domingos e foi um sucesso de audiências.

Somos demasiado pequenos para não apostar em turismo de qualidade. Não podemos deixar que o mundo da farinha e da carne preguiçosa do fast food conquiste o mercado, pois 80% dos novos restaurantes que abrem são deste género.  Kiko Martins
Chef


"Há uns anos pensava que os programas de cozinha eram uma moda, mas tem perdurado nos últimos dez anos. Hoje é uma tendência. Veja-se que hoje num restaurante quando chega o prato há uma tendência para se tirar uma fotografia e colocar numa rede social" refere Kiko Martins, que acrescenta é "tema sexy, partilhável". "Este ambiente criou os 'foodies' para quem comer é o novo rock&roll" diz Miguel Guedes de Sousa. "Torna este negócio atractivo". Mas é um negócio que tem de estar sempre a reinventar "porque o tempo passa mais depressa do que passava".

O nosso foco é muito mais na parte da experiência, mas o que queremos é que no futuro Portugal seja também reconhecido como um destino gastronómico.  Luís Araújo
Presidente do Turismo de Portugal


Kiko Martins já fez vários programas de televisão como Chefs' Academy e Cook Off - Duelo de Sabores na RTP1, MasterChef Celebridades na TVI e Frescos à Prova na SIC. Diz que é bom que haja este interesse até porque "ajuda as pessoas a perceber o que está atrás do prato, no 'backoffice', traz gosto e interesse e algum conhecimento". Adiciona um problema: "cria nos jovens a vontade de ser estrelas em vez de ser cozinheiros". Relembra ainda que estes programas de televisão vivem do drama, o que nem sempre reflecte a cozinha. Há poucos grandes chefs porque um bom chef tem de ser um líder, pois tem de ter competências para além das técnicas da cozinha, tem de ter capacidade de gestão, de relacionamento e de liderança de uma equipa.