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"De acordo com as últimas previsões da comissão europeia e de diversas empresas de consultadoria do setor energético, o mercado mundial da energia eólica offshore flutuante vai atingir um valor cerca de 60 mil milhões de euros. Por sua vez, as estimativas também apontam para que o mercado de energia das ondas possa chegar a um valor de 5 mil milhões de euros", referiu António Nogueira Leite, presidente do Fórum Oceano, parceiro do Jornal de Negócios na iniciativa Mar Sustentável.
A Comissão Europeia anunciou que para a rota de descarbonização da União Europeia até 2050 serão necessários pelo menos 300 gigawatt de nova capacidade de energia renovável convencional e 40 gigawatt de energia oceânica. Neste contexto, as projeções da Wind Europe, apontam para que Portugal possa vir a ter 9 gigawatt de capacidade instalada de eólico flutuante até 2050, ou seja, mais ou menos 25% da capacidade de energia oceânica projetada para a União Europeia. Isto significa instalar em Portugal, quase o dobro da capacidade de energia eólica onshore que é neste momento de 5,4 gigawatt.
Esta capacidade de produção de energia sustentável descarbonizada pode ser utilizada para a geração de eletricidade verde e para o hidrogénio verde. "Isto significa que o desenvolvimento da energia eólica flutuante e da energia das ondas em Portugal vão constituir contributos energéticos cruciais para a descarbonização do transporte terrestre, marítimo e, entre outros, da indústria química", disse António Nogueira Leite.
A revolução energética
António Nogueira Leite salientou que Portugal tem uma empresa cotada na bolsa, a EDP Renováveis, que é acionista a 50% da Ocean Winds em parceria com a francesa Engie, "e que é hoje um player mundial destacado, uma verdadeira referência nesta área, que atua em praticamente em todos os oceanos". Esta empresa tem uma operação em Viana do Castelo, através da WindFloat Atlantic, que permite que hoje 60 mil casas sejam alimentadas com eletricidade oceânica. Acrescentou ainda que Viana do Castelo está a tornar-se no epicentro desta revolução energética no nosso país.
A emergência de uma indústria de energia renováveis oceânicas pode revitalizar os estaleiros de construção naval, pois diversificará as suas competências tecnológicas, gerar a criação de uma vaga de ferramentas digitais e robóticas para a gestão, manutenção e operação dos parques energéticos flutuantes, criar uma nova vaga de empregos de alto valor acrescentado, bem remunerados, e "ainda revolucionar um mix energético do setor dos transportes e da indústria química, ao providenciar uma fonte de produção de hidrogénio viável em grande escala verde e a um custo acessível".
"Mas esta vaga de reindustrialização tem de ser feita de forma sustentável, em linha com os critérios ESG (Environmental, Social, Governance) da taxonomia comunitária", afirmou António Nogueira Leite. Significa na dimensão social, por exemplo acordos concertados com as comunidades piscatórias, participação no negócio através da sua requalificação e participação nas operações de manutenção dos parques energéticos.
O design das soluções de geração energética não pode gerar um aumento das emissões acústicas submarinas e as fundações das estruturas deverão desenhadas para funcionarem como recifes artificiais, amplificadores do capital natural local no meio marinho. "Isto significa ainda um esforço concertado por parte das empresas e autoridades estatais para um aproveitamento inteligente do espaço marítimo, combinando a produção energética com a aquacultura offshore, por exemplo", salientou António Nogueira Leite.
Esta política marítima integrada para uma economia azul sustentável é "o foco estratégico no qual o Fórum Oceano tem vindo a concentrar a sua energia, para ajudar a catalisar a indústria, a inovação, a academia e o empreendedorismo para que o país possa vir a ser líder na economia azul ESG", concluiu António Nogueira Leite.