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“Portugal não é pequeno, não é pobre, mas precisa de trabalhar em conjunto”

O país tem carência de marcas de relevância internacional, mas a situação pode ser invertida com incentivos adequados. Trabalho colaborativo é fundamental para ganhar dimensão, e aposta no ESG essencial para vender noutros mercados.

21 de Abril de 2023 às 15:30
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Portugal tem um enorme potencial de crescimento se souber aproveitar as oportunidades e se reforçar o investimento em inovação e criatividade. No entanto, mudanças culturais e foco serão necessários para esta transformação. Linhas gerais, estas são as principais conclusões do debate que juntou Luís Guerreiro, presidente do IAPMEI, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, e João Duque, economista e professor no ISEG, que se seguiu à intervenção de Paulo Portas durante a primeira PME Líder Talk.

Para o presidente do IAPMEI, as PME Líder têm, neste contexto de inovação, internacionalização e promoção de Portugal noutros mercados, "um papel fundamental". Na sua perspetiva, estamos a assistir a um movimento de maior cooperação entre o tecido empresarial e as universidades, determinante para fazer crescer a inovação. "A inovação e a criatividade determinam o crescimento e a maturidade das PME, tornando-as mais competitivas e capazes de atuar em novos mercados", defende. Apesar disso, acrescenta Luís Ribeiro, é preciso ter em conta alguns desafios como, por exemplo, garantir a capitalização das empresas, especialmente num contexto de incerteza como o atual.

Outro desafio, partilhado pelos intervenientes no painel, passa por introduzir mais vigor em setores que estão a ter mais dificuldades em recuperar no pós-pandemia, ou que ainda estão num estado mais incipiente no processo de digitalização, obrigatório para as organizações que se queiram manter competitivas. A solução passa por incentivos do Estado e pelo recurso a ferramentas como o PRR ou o Portugal 2030. Ainda assim, o administrador do Novo Banco destaca o turismo, a agricultura e as empresas exportadoras em geral como bons exemplos de setores que estão "a fazer acontecer" e a crescer de forma mais acelerada.

Sobre o turismo, Luís Araújo recorda que, apesar de ter sido um dos setores mais afetados pela pandemia, conseguiu, em 2022, crescer 15,4% em receitas face a 2019, que até então tinha sido o melhor ano de sempre para o setor. O presidente do Turismo de Portugal destaca ainda a redução da dependência dos quatro maiores mercados europeus que, há 10 anos era de 64%, e que hoje está nos 51%, e o reforço do mercado americano que é atualmente o maior fora da Europa. "Só o aeroporto de Faro não tem ainda ligações diretas com os EUA", salienta.

Mas o crescimento do turismo e de qualquer outro setor tem de ser sustentável. "O ESG (Environment, Sustainanbility, Governance) não é uma questão de marketing, mas de sobrevivência", aponta Luís Araújo. Este é, na sua opinião, um dos maiores desafios, transversal ao setor empresarial, a que se juntam a tecnologia como suporte à inovação, e o desafio dos recursos humanos.

Crescer virado para fora

A expectativa de crescimento económico para o país é, para o ISEG, de cerca de 1,5%, um valor que João Duque considera "razoável" face ao contexto. No entanto, para acelerar este crescimento, o economista defende a necessidade de criar marcas de relevância internacional que projetem o país noutros mercados. "As 500 maiores empresas em Portugal são pequenas quando comparadas com as 500 maiores marcas mundiais, onde não está nenhuma nacional", afirma. O professor acredita, contudo, que é possível alterar este cenário através de uma transformação cultural, apoiada por incentivos reais. Mas, alerta, "não pode haver disfunção entre o organismo que apoia as empresas e um Governo que só o faz no discurso".

A colaboração entre entidades - empresas, universidades, setor público - é, nas palavras de Luís Guerreiro, "determinante para crescer". Na sua opinião, "o país não é pequeno em área, é dos países com mais recursos endógenos da UE, tem a maior reserva de lítio europeia, e um enorme potencial na economia azul". As Agendas Mobilizadoras, criadas no âmbito do PRR, ilustram esta ideia de colaboração defendida pelo presidente do IAPMEI e delas "é preciso tirar ilações e criar marcas de valor que nos distingam de outros mercados", conclui.