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"Outlook": Expansão dos estímulos suporta aposta na Europa

Os próximos meses serão um teste aos mercados, com os riscos políticos e a política monetária no centro das atenções. Ainda assim, o BiG acredita que há oportunidades na Europa.

29 de Setembro de 2016 às 13:49
Pedro Elias
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Mario Draghi lançou mão à bazuca em Março de 2015, com o anúncio de um programa de estímulos inédito. Mas, quase um ano e meio depois, o plano de compra de activos está quase esgotado e o presidente do Banco Central Europeu (BCE) deverá voltar a agir até ao final do ano, através do anúncio de novas medidas. E a expansão dos estímulos, defende o BiG, deverá continuar a favorecer o investimento na Europa e a patrocinar a compressão do prémio de risco da periferia.

As medidas de estímulos dos bancos centrais foram essenciais para devolver alguma confiança ao mercado, mas a capacidade de intervenção está a esgotar-se. Na conferência "Análise de Mercados Financeiros", organizada pelo BiG em parceria com o Negócios, que decorreu este sábado, 24 de Setembro, em Lisboa, o banco alertou para os limites destas medidas. Ainda assim, os especialistas acreditam que o BCE vai estender o seu programa de compra de activos e, assim, continuar a favorecer a aposta no Velho Continente.

"A restrição em termos de activos vai obrigar o BCE a estender o programa e as restrições" à compra de activos, antecipa João Lampreia. Para o responsável pelo "research" do BiG, a entidade liderada por Mario Draghi deverá "enveredar por uma resposta ainda mais agressiva". E essa resposta deverá chegar já na reunião de Dezembro, aumentando, assim, o optimismo em torno do investimento na dívida e nas acções na Europa.
cotacao A restrição em termos de activos [elegíveis para comprar] vai obrigar o BCE a estender o programa e diminuir as restrições. João Lampreia Responsável pelo "research" do BiG
O impacto nos mercados irá, contudo, variar consoante as medidas aprovadas pela autoridade monetária europeia. Caso a decisão passe por alargar os limites de compra de 33% por emitente e/ou os limites das regras da "chave de capital" para dívida total, o impacto será muito positivo nas acções europeias e na dívida da periferia. "A curva da 'yield' na periferia continua a convergir bem, mas ainda há margem para a compressão do 'spread'". Um diferencial de 50 pontos base entre países como Espanha e Itália é, para o responsável pelo "research" do BiG o valor máximo até onde o "spread" pode estreitar.

Apesar da preferência pela Europa, João Lampreia não identifica margem para subidas expressivas nas acções. Ao contrário do norte-americano S&P 500, que vê a fechar o ano em níveis ligeiramente inferiores aos actuais, no caso do europeu Stoxx 50 "provavelmente vamos ter algum arrefecimento sobretudo até às presidenciais, mas acreditamos que vai fechar no intervalo mais positivo". O sector da tecnologia e da saúde lideram a aposta.

Num mundo em que a economia continua a demonstrar muitas dificuldades em crescer, João Lampreia argumenta que a valorização futura das bolsas irá depender da evolução da economia global, do crescimento dos lucros e da expansão dos múltiplos. Para o especialista, partindo do princípio que o pico do ciclo de subidas da Fed ocorra em meados de 2019, "o pico do mercado será seis a nove meses antes, em meados de 2018".

Política traz riscos

O último trimestre do ano será, no entanto, repleto de desafios. Depois de um mês de Agosto atipicamente calmo, o mês de Setembro trouxe incertezas novas e antigas aos mercados. E os próximos meses prometem ser agitados. O calendário eleitoral, com as presidenciais nos EUA em destaque, as decisões dos bancos centrais e as dificuldades para reanimar a economia prometem testar as bolsas.

No plano político, as presidenciais estarão no centro das atenções. John Hardy, um dos oradores da conferência, compara o que está a acontecer nas eleições nos EUA com o Brexit. Para o responsável pela estratégia cambial do Saxo Bank, existe o risco de, tal como no referendo britânico, o mercado estar a subestimar os efeitos de uma eleição de Donald Trump. O especialista alerta assim para uma crescente volatilidade nos mercados. "Temos assistido a uma recuperação da popularidade de Donald Trump e isso acarreta um risco para o mercado", aponta também João Lampreia.

John Hardy alerta mesmo para o risco de uma recessão. E caso este cenário se concretize, o especialista do Saxo Bank é peremptório: "não há activos de refúgio".

Peter Rodrigues, director de Wealth Management, fez o lançamento da conferência, que fechou com uma sessão de esclarecimentos com todos os oradores.
Peter Rodrigues, director de Wealth Management, fez o lançamento da conferência, que fechou com uma sessão de esclarecimentos com todos os oradores. Pedro Elias

recomendações  Dívida periférica, "high yield" e sector tecnológico oferecem oportunidades  O BiG identifica no continente europeu as principais oportunidades de investimento. A dívida de elevado rendimento e os sectores das tecnologias e da saúde estão entre os activos preferidos dos especialistas.

Dívida periférica tem potencial
O programa de estímulos do BCE deverá continuar a reflectir-se num estreitamento do diferencial entre a dívida da periferia e a da Alemanha. Para o BiG, apesar da já significativa compressão dos prémios de risco no Sul da Europa, sobretudo Itália e Espanha, ainda há margem para que esta diferença se encurte mais. E no caso português esse potencial é ainda mais significativo, uma vez que o país não tem acompanhado o movimento de correcção da periferia. "Portugal pode beneficiar com a flexibilização do programa de estímulos", antecipa João Lampreia. E será particularmente beneficiado caso o BCE aprove uma maior flexibilização nos limites de compra de dívida por emitente.


344
Pontos base
A dívida de Portugal negoceia com um "spread" de 344,4 pontos face às "bunds" alemãs.


"High yield" recolhe preferência
No segmento de dívida privada, o BiG acredita que as melhores oportunidades serão oferecidas pela dívida de elevado rendimento e risco. Num momento em que os juros das obrigações de empresas de elevada qualidade transaccionam em níveis muito baixos, o banco recomenda a exposição ao segmento "high yield" europeu. O optimismo patrocinado pelo BCE e as melhorias das condições económicas na região deverão impulsionar este sector, que continua a proporcionar retornos atractivos num ambiente de juros negativos.

Aposta na tecnologia e na saúde
João Lampreia, responsável pelo "research" do Big, prevê um trimestre desafiante nos mercados financeiros. Ainda assim, o analista antecipa uma recuperação do índice europeu na recta final do ano. Mas nem todas as empresas oferecem oportunidades. É no sector tecnológico e na saúde que o BiG identifica as melhores apostas. A capacidade demonstrada pelas empresas do sector para continuar a crescer justificam a escolha.

Dólar, o vencedor do mercado cambial
Depois de ter voltado a adiar a decisão de subir juros em Setembro, o BiG considera que é agora praticamente certa uma subida da taxa de referência da Reserva Federal dos EUA no encontro de Dezembro. E no próximo ano as previsões da instituição liderada por Janet Yellen prevêem duas mexidas nos juros. Uma postura mais agressiva que deverá aumentar a divergência monetária face a outros bancos centrais mundiais, nomeadamente a Europa e o Japão, e puxar pelo dólar face às principais concorrentes mundiais. Além disso beneficia do seu estatuto de refúgio em momento voláteis.

0,5%
Taxa de juro
Os juros nos EUA estão num intervalo entre 0,25% e 0,50%, mas deverão subir ainda este ano.