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Portugal tem vindo a crescer no investimento em investigação e desenvolvimento, hoje centrado em 1,6% do Produto Interno Bruto. Um valor muito positivo se pensarmos que, em 1982, esse mesmo investimento era de 0,3%. Ainda assim, não é suficiente. Não chega para concorrer numa Europa cuja média de investimento em I&D está nos 2,3% do PIB.
Neste debate, Joana Mendonça salientou que apesar da evolução dos últimos anos, o país pode fazer melhor. Reforçou a criticidade dos recursos humanos e a questão regulatória, seja na área da banca, na mobilidade ou na transformação digital. E depois abordou o tema da educação. "Os nossos modelos educativos estão datados", disse a professora associada de Gestão e Inovação do Instituto Superior Técnico que critica, desde logo, a penalização do erro e a parca capacidade de ousar fazer diferente, limitando a aprendizagem dos mais novos.
A inovação começa em nós
"Portugal está bloqueado", adjetiva Sérgio Silvestre, diretor-geral da Claranet Labs. "Não gosto do termo estagnado", disse o gestor a uma plateia de mais de uma centena de pessoas. Está bloqueado no discurso público, no sentido que muitas das conversas iniciam sempre com o mesmo guião, com o que o Estado deve e precisa fazer. "Esquecemo-nos do que cada um de nós precisa fazer, a nível individual, da família, na empresa e, também, obviamente no Estado".
O desafio do setor energético
O setor energético enfrenta um gigante desafio: a transição do atual sistema baseado em combustíveis fósseis num modelo construído a partir de energias renováveis e outras formas de redução de emissões. Em termos de inovação, esta transição energética não só implica um investimento, até 2050, de 125 triliões de dólares, segundo a Agência Internacional de Energia, como o desenvolvimento acelerado de novas soluções. Isto porque, segundo a mesma agência, 50% das soluções que vão permitir a descarbonização dos produtos e serviços simplesmente não existem ou estão numa fase embrionária.
Outro exemplo dado pela diretora de Inovação da Galp foi a colaboração com a alemã Swobi, com a qual testaram um novo modelo de negócio na área da micromobilidade. Ao invés de um operador logístico ter de recolher as bicicletas para proceder à troca de baterias, com esta parceria as baterias ‘deslocam-se’ até pontos estratégicos das cidades, permitindo a sua fácil substituição. "Nesse caso, é uma parceria entre a Galp, a Swobi e o operador logístico. Estamos precisamente a testar o modelo de negócio e o que podemos criar em termos de valor acrescentado para o cliente, de resto o objetivo da Galp".
A empresa está a trabalhar na fileira dos novos combustíveis sustentáveis, nomeadamente com a produção de hidrogénio verde, cuja primeira aplicação será industrial. "Somos o maior utilizador de hidrogénio cinzento, o que vamos fazer é trocá-lo por hidrogénio verde, permitindo assim descarbonizar a nossa própria refinaria, tornando-a mais competitiva e preparada para os novos combustíveis do futuro". A ambição, diz Ana Casaca, é tornarem-se num polo de referência na produção de hidrogénio verde.
A banca e o paradigma da concorrência
Nos últimos anos, a tão afamada transição digital tem preconizado uma mudança de paradigma no segmento da banca, sobretudo na Europa, com as profundas alterações legislativas a abrirem a inúmeros stakeholders o espaço que antes estava reservado apenas a instituições bancárias. "O maior desafio da banca é a concorrência ser muito maior", disse Afonso Eça, diretor executivo do Centro de Excelência para a Inovação e Novos Negócios (CEINN) do BPI. No entanto, o gestor prefere ver este novo repto como uma oportunidade já que, à medida que a banca se torna mais aberta, vai-se reinventando para motivar os clientes e assim oferecer um melhor serviço. "Há espaço para inovar na forma como contactamos com os nossos clientes, assim como nos produtos e serviços que oferecemos". Monetizar a inovação não é propriamente fácil, admite Afonso Eça, apesar de defender que sempre que algo novo é criado há que ter em mente se vai trazer valor para os clientes e utilizadores. "A inovação não é um fim, é um meio para chegarmos a algo pelo que a monetização terá de acontecer em alguma parte do caminho".
O futuro da inovação
Inovar custa dinheiro, para além de demorar tempo. Por isso, paciência é o grande desafio que o futuro da inovação enfrenta, assegura Afonso Eça. "Mesmo colocando o tema na agenda, mesmo havendo vontade de inovar, as coisas não vão mudar imediatamente, é uma construção". Do lado das empresas, este fator é ainda mais importante, no sentido de colocarem a inovação no centro das suas atividades, criando divisões e equipas para pensarem estes temas. "Muitas vezes, mudam os contextos económicos, as circunstâncias e a paciência, por muito que queiramos, pode não ser suficiente". O executivo focou ainda a questão do talento necessário para fazer a mudança, até porque vivemos num mundo mais competitivo, reforçado pela possibilidade do trabalho remoto e híbrido.
Numa visão mais otimista, Ana Casaca, mostra-se satisfeita pelo facto de a inovação ser chamada para a "mesa dos crescidos", estando agora no cerne da estratégia das empresas. A investigadora atribui uma dupla responsabilidade à inovação. Primeiro, desafiar a estratégia para alcançar novas oportunidades. Depois, ter a agilidade de pegar em grandes desafios e transformá-los em projetos reais, que aportem valor.
A principal mensagem que passou no evento e que foi um tema consensual a todos os oradores da conferência foi a necessidade de investir mais e melhor em inovação, disseminando os seus efeitos na educação, na sociedade, nos negócios e no Estado. Uma missão que só é possível alcançar se o país se mobilizar para este desafio.
A transformação do conhecimento em valor económico depende muito da capacidade de absorção e compreensão do próprio mundo empresarial. Por vezes, este é um desafio acrescido no contexto nacional. Joana Mendonça
Presidente da Agência Nacional de Inovação
Quais os grandes desafios que o país enfrenta? Quais os grandes entraves? Joana Mendonça, presidente da Agência Nacional de Inovação (ANI) enumera vários, desde logo, a transformação do conhecimento em valor económico. "Esta transformação é muito complexa em todos os contextos e países, é algo que se discute no mundo inteiro, com os Estados Unidos a serem a exceção que sempre confirma a regra". Até porque "a transformação do conhecimento em valor económico depende muito da capacidade de absorção e compreensão do próprio mundo empresarial. Por vezes, este é um desafio acrescido no contexto nacional", referiu a presidente da ANI no debate sobre "Os desafios da Inovação em Portugal" que integrou a conferência de apresentação do Prémio Nacional de Inovação.Presidente da Agência Nacional de Inovação
Neste debate, Joana Mendonça salientou que apesar da evolução dos últimos anos, o país pode fazer melhor. Reforçou a criticidade dos recursos humanos e a questão regulatória, seja na área da banca, na mobilidade ou na transformação digital. E depois abordou o tema da educação. "Os nossos modelos educativos estão datados", disse a professora associada de Gestão e Inovação do Instituto Superior Técnico que critica, desde logo, a penalização do erro e a parca capacidade de ousar fazer diferente, limitando a aprendizagem dos mais novos.
A inovação começa em nós
"Portugal está bloqueado", adjetiva Sérgio Silvestre, diretor-geral da Claranet Labs. "Não gosto do termo estagnado", disse o gestor a uma plateia de mais de uma centena de pessoas. Está bloqueado no discurso público, no sentido que muitas das conversas iniciam sempre com o mesmo guião, com o que o Estado deve e precisa fazer. "Esquecemo-nos do que cada um de nós precisa fazer, a nível individual, da família, na empresa e, também, obviamente no Estado".
Temos muito orgulho no nosso sentido de desenrascanço, mas a inovação não se faz a desenrascar, não se faz em departamentos, tem de ser sistémica e disseminada nas organizações. Sérgio Silvestre
Diretor-geral da ClaranetLabs
"Temos muito orgulho no nosso sentido de desenrascanço, mas a inovação não se faz a desenrascar, não se faz em departamentos, tem de ser sistémica e disseminada nas organizações". Sérgio Silvestre abordou questões culturais, como a conformidade, o estilo negocial (para eu ganhar, alguém tem de perder) e a falta de capacidade em chegar um consenso. "Se repararmos, são questões que nada têm a ver com o Estado ou até com empresas, tem a ver com cada um de nós. E tem tudo a ver com inovação, porque se não desbloqueamos isto a nível individual...".Diretor-geral da ClaranetLabs
O desafio do setor energético
O setor energético enfrenta um gigante desafio: a transição do atual sistema baseado em combustíveis fósseis num modelo construído a partir de energias renováveis e outras formas de redução de emissões. Em termos de inovação, esta transição energética não só implica um investimento, até 2050, de 125 triliões de dólares, segundo a Agência Internacional de Energia, como o desenvolvimento acelerado de novas soluções. Isto porque, segundo a mesma agência, 50% das soluções que vão permitir a descarbonização dos produtos e serviços simplesmente não existem ou estão numa fase embrionária.
O ‘modus operandi’ da empresa centrou-se na abertura à comunidade - startups, academia e empresas tecnológicas - trabalhando de uma forma colaborativa que culmina no teste de novas soluções e na sua mais rápida introdução no mercado. Ana Casaca
Diretora de Inovação da Galp
Ana Casaca, diretora de Inovação da Galp, explica que "o ‘modus operandi’ da empresa centrou-se na abertura à comunidade - startups, academia e empresas tecnológicas - trabalhando de uma forma colaborativa que culmina no teste de novas soluções e na sua mais rápida introdução no mercado". O caso da Sensei Tech (ver página 5) foi disso exemplo, um projeto edificado em apenas quatro meses.Diretora de Inovação da Galp
Outro exemplo dado pela diretora de Inovação da Galp foi a colaboração com a alemã Swobi, com a qual testaram um novo modelo de negócio na área da micromobilidade. Ao invés de um operador logístico ter de recolher as bicicletas para proceder à troca de baterias, com esta parceria as baterias ‘deslocam-se’ até pontos estratégicos das cidades, permitindo a sua fácil substituição. "Nesse caso, é uma parceria entre a Galp, a Swobi e o operador logístico. Estamos precisamente a testar o modelo de negócio e o que podemos criar em termos de valor acrescentado para o cliente, de resto o objetivo da Galp".
A empresa está a trabalhar na fileira dos novos combustíveis sustentáveis, nomeadamente com a produção de hidrogénio verde, cuja primeira aplicação será industrial. "Somos o maior utilizador de hidrogénio cinzento, o que vamos fazer é trocá-lo por hidrogénio verde, permitindo assim descarbonizar a nossa própria refinaria, tornando-a mais competitiva e preparada para os novos combustíveis do futuro". A ambição, diz Ana Casaca, é tornarem-se num polo de referência na produção de hidrogénio verde.
A inovação não é um fim, é um meio para chegarmos a algo pelo que a monetização terá de acontecer em alguma parte do caminho. Afonso Eça
Diretor executivo do CEINN do BPI
A fileira do lítio é outra das apostas, materializada na joint venture com a Northvolt, que culminará numa unidade de reconversão de lítio em Portugal, em Setúbal, que, no final da cadeia de valor, irá permitir apoiar 700 baterias em futuros carros elétricos, produzidas a partir de lítio aqui refinado. O objetivo é trazer para a Europa a reconversão do lítio, que neste momento ocorre fundamentalmente na Ásia. "Ambicionamos fazer parte deste longo caminho que é a transformação energética".Diretor executivo do CEINN do BPI
A banca e o paradigma da concorrência
Nos últimos anos, a tão afamada transição digital tem preconizado uma mudança de paradigma no segmento da banca, sobretudo na Europa, com as profundas alterações legislativas a abrirem a inúmeros stakeholders o espaço que antes estava reservado apenas a instituições bancárias. "O maior desafio da banca é a concorrência ser muito maior", disse Afonso Eça, diretor executivo do Centro de Excelência para a Inovação e Novos Negócios (CEINN) do BPI. No entanto, o gestor prefere ver este novo repto como uma oportunidade já que, à medida que a banca se torna mais aberta, vai-se reinventando para motivar os clientes e assim oferecer um melhor serviço. "Há espaço para inovar na forma como contactamos com os nossos clientes, assim como nos produtos e serviços que oferecemos". Monetizar a inovação não é propriamente fácil, admite Afonso Eça, apesar de defender que sempre que algo novo é criado há que ter em mente se vai trazer valor para os clientes e utilizadores. "A inovação não é um fim, é um meio para chegarmos a algo pelo que a monetização terá de acontecer em alguma parte do caminho".
O futuro da inovação
Inovar custa dinheiro, para além de demorar tempo. Por isso, paciência é o grande desafio que o futuro da inovação enfrenta, assegura Afonso Eça. "Mesmo colocando o tema na agenda, mesmo havendo vontade de inovar, as coisas não vão mudar imediatamente, é uma construção". Do lado das empresas, este fator é ainda mais importante, no sentido de colocarem a inovação no centro das suas atividades, criando divisões e equipas para pensarem estes temas. "Muitas vezes, mudam os contextos económicos, as circunstâncias e a paciência, por muito que queiramos, pode não ser suficiente". O executivo focou ainda a questão do talento necessário para fazer a mudança, até porque vivemos num mundo mais competitivo, reforçado pela possibilidade do trabalho remoto e híbrido.
Numa visão mais otimista, Ana Casaca, mostra-se satisfeita pelo facto de a inovação ser chamada para a "mesa dos crescidos", estando agora no cerne da estratégia das empresas. A investigadora atribui uma dupla responsabilidade à inovação. Primeiro, desafiar a estratégia para alcançar novas oportunidades. Depois, ter a agilidade de pegar em grandes desafios e transformá-los em projetos reais, que aportem valor.
A principal mensagem que passou no evento e que foi um tema consensual a todos os oradores da conferência foi a necessidade de investir mais e melhor em inovação, disseminando os seus efeitos na educação, na sociedade, nos negócios e no Estado. Uma missão que só é possível alcançar se o país se mobilizar para este desafio.