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Os riscos e os estrangulamentos à recuperação económica

António Nogueira Leite assinala a existência de riscos que têm a ver com a evolução da pandemia, como bottlenecks importantes na economia, como os transportes e as cadeias de distribuição menos fluidas e as variações de preços das matérias-primas e produtos intermédios.

14 de Junho de 2021 às 13:45
António Nogueira Leite falou sobre a economia e os mercados.
António Nogueira Leite falou sobre a economia e os mercados. DR
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"O que esperamos em primeiro lugar é que haja um período de crescimento importante para os próximos anos a começar em 2021", referiu António Nogueira Leite, economista, no início da conferência, The Economy and the Markets: the Months Ahead, em que fez o enquadramento económico para os próximos tempos e que necessariamente vai acabar por formatar as decisões de investimento.

Os EUA têm sido pioneiros nesse crescimento não só porque tomaram medidas, nomeadamente no plano orçamental, de estímulo muito forte da economia mas também em função do seu programa de vacinação e porque têm uma economia mais aberta do que os países da União Europeia. Por isso, neste momento o crescimento nos países desenvolvidos está a ser liderado em tempo e em dimensão pelos EUA.

Já este ano foi aprovado no congresso um pacote de 1,9 mil milhões de euros, existe um consenso grande em Washington de que o montante é razoável e que vai ter um impacto no crescimento da economia inclusivamente nas áreas das infraestruturas e outras relevantes para o estímulo do crescimento. Acontece que nos meios académicos não é tão consensual porque há várias pessoas, reconhecidas tanto pelo seu trabalho académico como no governo, que têm algumas dúvidas relativamente a uma potencial dimensão excessiva do pacote que no ambiente atual possa ser o trigger de inflação.

Divisão de opinião

A opinião académica nos Estados Unidos e na Europa "está bastante dividida relativamente à probabilidade de ocorrência de pressões inflacionistas de alguma dimensão a partir da implementação deste programa. Para já o que vamos ter é a noção de que os riscos de inflação não estão eliminados nem postos fora da equação como estiveram durante uma parte importante dos períodos precedentes. Isto não é propriamente inflação relevante, mas como sabemos, na Zona Euro a inflação do último mês foi de 2%, no limite superior do intervalo para o qual o BCE tem mandato para tentar manter a evolução do índice geral de preços".

No caso da Europa, a recuperação está a começar, um processo mais lento e uma vacinação mais demorada que nos EUA. Por outro lado, espera-se que no segundo semestre se comecem a fazer sentir os efeitos do Plano de Resiliência e Recuperação "que, mesmo assim, em termos absolutos e relativos é inferior ao package de estímulos da economia dos Estados Unidos".

António Nogueira Leite assinala a existência de riscos que não estão de todo dominados e de alguns estrangulamentos no funcionamento da economia a nível global. Há riscos que têm a ver com a evolução da pandemia nos países onde o processo de vacinação vai demorar mais tempo, com o perigo de emergência de alguma variante que acabe por suplantar que processos massivos de vacinação conferem e por outro lado algumas das economias menos desenvolvidas podem na verdade sofrer impactos importantes na sua evolução.

Variações de preços

Por outro lado, assiste-se a alguns bottlenecks importantes na economia. "Os speculative stocks pilings, pessoas que estão a armazenar materiais e matérias-primas que acham que poderão ter estrangulamentos de fornecimento no futuro e que portanto aumentam o atual estrangulamento e condicionam os preços. Por outro lado, os transportes, o número de navios que está a funcionar nas cadeias logísticas internacionais é muito menor do que no final de 2019, o que obviamente impõe viscosidade e atrito no comércio nomeadamente de bens intermédios e matérias-primas", refere António Nogueira Leite.

Alertou que em alguns mercados, pelo menos, variações de preços significativas e problemas de escassez, e isto não só reduz a fluidez com que a recuperação ocorra, mas do seu ponto de vista, coloca algum risco e umas variações de preços para as quais temos de estar atentos. As matérias-primas e os bens intermédios têm tido valores de preços mais altos em 2020 e 2021 do que nos últimos dez anos.

No caso europeu, os pressupostos de sucesso são o programa de vacinação e o impacto a partir do segundo semestre do PRR. Mas há outros fatores a considerar, como a envolvente global, que é ainda incerta, mesmo que uma parte importante do comércio e das relações económicas se façam entre a Europa, os EUA, a China e outros países desenvolvidos que já estarão a sair da pandemia. É um pressuposto que a política do Banco Central Europeu e a da FED não se alterem. Para já não há qualquer indicação de que a política acomodatícia seja alterada, vai continuar nos próximos tempos é a minha previsão.

"Temos algumas situações na economia que significam redução de oferta. Houve muitas empresas pelo mundo fora que fecharam e, embora alguma dessa destruição possa ser criativa, há uma parte importante dessa destruição que não traz nada e vai demorar tempo até que essa capacidade seja substituída por outros players. É por isso que os países têm estes programas brutais de ajuda às economias", assinalou António Nogueira Leite.

A recuperação vai ser rápida nos EUA, que também teve uma quebra inferior à da União Europeia. Portugal teve uma quebra muito grande no ano passado, retoma o crescimento este ano e consolida em 2022 mas como refere o Plano de Estabilidade apresentado pelo Governo, este assume um crescimento na casa dos 2% a partir de 2023, "o que é relativamente pouco", considerou António Nogueira Leite.