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O roteiro dos mercados: sustentabilidade e nova ordem económica

Para os próximos tempos há uma atenção redobrada em relação à inflação, mas as bolsas continuam a ser uma das classes de ativos de investimento mais atrativas.

29 de Abril de 2021 às 15:15
As bolsas mantêm o estatuto de classe de investimento atrativo. Reuters
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Esta pandemia de covid-19 veio acentuar as diferenças na ordem mundial com a polarização, por exemplo, entre os Estados Unidos e a China, a Europa e a Rússia. Na ordem económica está a dar-se a reconstrução das cadeias globais de abastecimento, em que o valor da resiliência se sobrepõe ao da eficiência, e com uma linha estratégica de diversificação entre países e uma menor dependência da China por parte da Europa e dos Estados Unidos.

A pandemia acelerou as tendências estruturais preexistentes. O foco na sustentabilidade, que passa a ser decisiva quando se trata fazer a opção por ativos, e que tem reflexos tanto nas políticas públicas com o programa de resiliência europeu que assenta na transição climática e digital em direção a uma economia de baixo carbono.

A pandemia acentuou a crescente desigualdade nas questões do rendimento, do património e do acesso aos cuidados de saúde tanto entre países como dentro dos próprios países. A explosão do comércio eletrónico, que de certo modo canibaliza o comércio e a distribuição tradicional, que permitiu que as grandes tecnológicas se apossassem de fatias cada vez maiores de mercado.

Inflação e vacinação

Para os próximos tempos ganham alguma importância tendências como a potencial inflação, que tem impacto nas obrigações, os preços das ações, sobretudo das tecnológicas, e a reativação económica global a partir do verão, que provavelmente voltará a ser assimétrica, em consonância com as diferenças no ritmo de vacinação entre países, com o ritmo de vacinação a ser muito mais rápido nos EUA do que na Europa.

A vantagem norte-americana está ainda na recuperação nos resultados das empresas, devido em grande parte à maior dimensão e rapidez dos programas de estímulo, que no seu conjunto poderão somar cerca de 30% do PIB. Segundo os dados da IBES Refinitiv, os lucros das cotadas do S&P 500 deverão ter aumentado 33,9% entre janeiro e março, face ao período homólogo de 2020, o que seria a maior subida trimestral desde o quarto trimestre de 2010.

Ações de valor e criptomoedas

Uma das tendências do mercado pode estar nas denominadas ações de valor em relação às de crescimento, as que tinham perspetiva de valorização. A JPMorgan Chase tem uma meta de final de ano para o S&P 500 nos 4.400 pontos, em comparação com a previsão média de 4.100 pontos dos analistas auscultados pela Bloomberg. O Bank of America e o Citigroup projetam que o S&P 500 cairá para 3.800 pontos no final de dezembro.

A euforia que levou a bitcoin a máximos históricos na semana passada parece ter acalmado. Depois da entrada em bolsa da Coinbase, a primeira plataforma de compra e venda de criptomoedas a cotar no Nasdaq, que alimentou ainda mais a euforia, veio a ressaca, veio a proibição do Banco Central da Turquia do uso de criptomoedas no país e o recurso a criptoativos para fazer pagamentos.


O estado da poupança em Portugal

A poupança em 2020 foi de 12,8% do rendimento disponível, o que não acontecia desde 2002.

Em 2020, a taxa de poupança dos portugueses foi de 12,8% do rendimento disponível, o que não acontecia desde 2002 e muito acima da taxa registada em 2019 que foi de 7,1%, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). São mais 5,7 pontos percentuais, um crescimento anual nunca visto na atual série do INE iniciada em 1995. O Banco de Portugal prevê, no entanto, para uma redução da taxa de poupança de 12% em 2020, para 11,7% em 2021, 8,1% em 2022 e 6,9% em 2023.

Para já, grande parte dessa poupança está em depósitos bancários em fevereiro deste ano em 163,8 mil milhões de euros em que as rentabilidades são muito baixas por causa das taxas de juro negativas. Na semana passada Christine Lagarde, presidente do BCE, reconheceu que 5% dos clientes particulares da Zona Euro pagavam aos bancos pelos seus depósitos e liquidez e que esta percentagem subia para 10% na Alemanha.

A Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP) indica que em 2020 os fundos mobiliários atingiram quase 1,5 mil milhões de subscrições líquidas, mais 55% do que em 2019, que é o valor mais elevado desde 2009.

No entanto, como faz notas o relatório económico de março do Banco de Portugal, "a evidência aponta para que a acumulação de poupança em 2020 tenha estado mais concentrada nas famílias de rendimentos mais elevados, cuja propensão marginal para consumir é menor. As compras com cartões bancários mostram que os indivíduos de consumo alto reduziram mais acentuadamente as suas despesas em 2020 do que os indivíduos de consumo baixo".

Os resultados apontam para que o nível do PIB em 2026 seja entre 1,1% e 2,0% superior ao que ocorreria na ausência do Plano de Recuperação e Resiliência no período 2021-26, segundo um estudo do Banco de Portugal. Esta ajuda financeira foca-se em duas prioridades anteriormente definidas pela CE - a transição digital e o combate às alterações climáticas -, mas abarca também investimentos em apoios sociais. Em subvenções, sem contar com o eventual recurso à componente de empréstimos, Portugal tem acesso a 13,9 mil milhões de euros, o que corresponde a 6,5% do PIB de 2019, a quinta percentagem mais elevada na Europa.

Em maio fala-se de dinheiro Talking Money 2021" tem como subtítulo, "O Valor do Dinheiro", e a poupança, o investimento, o risco e a oportunidade são os temas que vão estar em destaque nesta iniciativa do Jornal de Negócios, que junta vários players na gestão de investimentos, para compreender como se vão comportar os mercados em 2021, tanto em Portugal como nas várias alternativas em termos internacionais.

Dada a rentabilidade negativa nas taxas de juro, os investidores procuram alternativas para investir as suas poupanças. Há novas tendências nos mercados, com setores em grande destaque e fortes valorizações. Depois de um ciclo de mais de 10 anos de fortes subidas, desde 2009, o índice Dow Jones cresceu acima de 300% e o Nasdaq cerca de 900%.

A covid-19 trouxe momentos de incerteza e expectativa sem igual. Em março de 2020, em menos de três semanas, os mercados bolsistas caem mais de 30%, mas desde então os mercados não pararam de subir e as grandes bolsas mundiais subiram em 2020, em alguns casos acima de 30% no acumulado do ano. Mas também um aumento da volatilidade marca o arranque de 2021.

Em maio realizam-se três talks desta iniciativa, em estúdio, com a visão de cada um dos parceiros sobre os investimentos, as estratégias, os mercados, as oportunidades, os riscos. As talks vão ser transmitidas em streaming no site do Negócios. O corolário é a grande conferência Talking Money 2021, em que durante uma manhã se discutem em sala as grandes conclusões das talks, com assistência reduzida e com transmissão por streaming em direto para o site do Negócios.