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O retorno do investimento está nas ações

A longo prazo, e mesmo com a questão do risco, as ações são uma classe de ativos que, mostra a história, dá retornos mais interessantes para os investidores.

20 de Novembro de 2020 às 15:00
António Seladas avisa que a política monetária não convida a ter dinheiro parado. Pedro Catarino
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"A política monetária convida a não ter dinheiro parado, é arriscado, e, tem procurado fazer crescer as economias, mas sem grande sucesso, mas também a política monetária é conjuntural, não é estrutural", assinalou António Seladas, equity analyst da AS Independent Research.

Há determinados ativos que funcionaram muito bem em Portugal, como os ativos imobiliários com 30 ou 40% de retorno nos últimos cinco anos, segundo o INE, "mas também é verdade que, a 10 ou 15 anos, a performance não é assim tão boa", sublinhou ainda António Seladas.

O mercado de ações foi uma surpresa negativa, não só no mercado português mas no mercado espanhol, por exemplo. A falta de crescimento tem um impacto grande em determinadas empresas afetando o seu modelo de negócio e o crescimento das suas vendas, o que se reflete no desempenho em bolsa.

"A bolsa não tem aquelas empresas que têm expectativas de crescimento muito elevadas. Quando existem empresas cujas expectativas de venda são muito relevantes, muitas vezes os múltiplos, que são os preços a dividir pelos resultados, ou os valores contabilísticos, são muito elevados, e as pessoas pagam por isso".

Em conclusão, segundo o analista da AS Independent Research quem investiu em growth ganha 20/30% e quem optou por Value perde 20/30%, isto é verdade não só na Europa mas também nos Estados Unidos".

Investir em ações é a única alternativa

Rina Guerra, Gestão de Ativos - Ações do Banco Carregosa, sublinhou que no mercado de ações norte-americano é grande a "densidade de empresas tecnológicas que os índices americanos possuem, o que lhes permite, no fundo, ter rentabilidades bastante superiores aos índices na Europa que são compostos, maioritariamente, por bancos e empresas ligadas à energia, em que as rentabilidades são bastante diferentes".

O cenário das taxas de juro historicamente baixas, por causa deste contexto de pandemia, veio mostrar "que estão aqui para ficar, e, pelo menos, enquanto não houver sinais de recuperação, os Bancos Centrais não poderão agir de outra forma. Em termos de inflação, esse cenário também me parece estar bastante contido, neste momento, e também não nos parece que a inflação esteja aqui, ao virar da esquina", considera Rina Guerra.

Na sua opinião, o investidor que queira tirar algum retorno tem de investir em ações, porque não há outra alternativa. "A longo prazo, e mesmo com a questão obviamente do risco, parece-nos ser sempre a classe de ativos que a história tem mostrado com retornos mais interessantes para os investidores, e é uma boa forma de também de as empresas acabarem por se financiar no mercado, muito mais numa altura tão disruptiva como a que vivemos atualmente", concluiu Rina Guerra.

O regresso da inflação? O que a pandemia fez foi acelerar algumas tendências, umas para cima e outras para baixo. Já não se consumia muito papel, a sociedade consome menos papel hoje do que consumia no passado, para as empresas que dependiam das vendas de papel, é um negócio relativamente estável. Na banca com as taxas de juro o preço é esmagado, e obriga-a a fazer volume, fazer volume é fazer mais créditos e empréstimos, aumentar o balanço, "que se as coisas não correm bem, obviamente são problemas à frente", refere António Seladas.

O analista adianta que "os bancos centrais querem estimular a inflação, resolve estes problemas, porque faz crescimento nominal acaba com a bolha da dívida, faz crescer os preços e, portanto, rapidamente reduz os valores em termos relativos, atenção a quem tem poupanças, que obviamente será o pagador, o perdedor nesta envolvente". As pandemias podem colocar em causa o modelo da globalização, "tudo o que é protecionismos favorece a inflação".

Rina Guerra deu o exemplo da aviação que, de repente, passou a ter taxas de ocupação zero e a que a recuperação tem sido mais lenta do que se esperava. Havia a ideia de que as viagens domésticas ou mais curtas iriam ser as primeiras a recuperar e na China isso aconteceu e as "pessoas começaram a viajar praticamente aos níveis pré-covid-19". Mas há segmentos que podem não recuperar a estes níveis como as viagens de negócios com a utilização de instrumentos de comunicação e as reuniões presenciais online, ao contrário do lazer.