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Era o "Wine is", um projecto ambicioso que acabou por não fazer o caminho desejado, que funcionava com um portal de vinhos em que os conteúdos eram colocados pelos produtores. Um dos problemas da restauração é que não se consegue cooperar de modo a obter vantagens competitivas. "Uma carta de vinhos podia abranger cerca de 60% dos restaurantes de Lisboa, com os produtores a suportar os seus custos" refere Pedro Cardoso. Dá o exemplo da sua associação com outros restaurantes para renegociar as taxas de cartões de crédito com a Visa e a Unicre.
"O digital está relacionado com a promoção, a experiência do cliente, mas tem que ser um factor de competitividade das empresas" relembra Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal. Alerta para a forma como se pode utilizar a informação que os restaurantes têm sobre os clientes e os trajectos para melhorar a performance do negócio. "Vão ter de compreender que informação concentrada e partilhada pode originar melhores decisões" enfatiza Luís Araújo.
As Ubers da gastronomia
"A tecnologia ajuda se cada um se conseguir focar nas suas valências e na sua vocação. Nenhum cozinheiro de um espaço meu faz uma encomenda. Não pode perder uma hora a fazer encomendas quando pode estar a fazer outras coisas mais importantes. Tenho um ERP e funciona automaticamente segundo as vendas, e sei quando é que as coisas vão chegar" referiu Kiko Martins.
O uso da tecnologia e da logística está entranhado no negócio. A sua empresa está a criar um armazém central para que os restaurantes deixem de ser visitados por fornecedores, "que era um problema porque nunca chegavam às horas que estavam pré-determinadas". O JNcQUOI começou a funcionar com um armazém centralizado, e já vai na terceira localização devido ao crescimento das necessidades de espaço.
Edições do Gosto
Em relação ao mundo digital existem vários actores. Segundo Paulo Amado das Edições do Gosto, "os restauradores mais antigos estão de costas voltadas para o mundo digital, são os restauradores modernos que usam o digital do ponto de vista da gestão e da relação com os clientes". Depois as plataformas, como a Tripadviser, a Zomato, The fork, que relacionam clientes e restaurantes, têm "cada vez mais peso nos restaurantes, sem serem donas de nenhum" analisa Paulo Amado.
Os restaurantes tem de estar presentes nestas plataformas, dar mais informação, o que tanto pode ser a carta de vinhos, como eventuais receitas, para que os clientes tenham uma melhor experiência.
As redes sociais como cliente-mistério grátis
O poder que as tecnologias deram aos clientes "tem mais benefícios do que desvantagens" garantiu Miguel Guedes de Sousa, CEO da Amorim Luxury
"O Tripadvisor é o melhor cliente mistério que temos e não tem de se pagar" disse Paulo Cardoso, cujo Solar dos Presuntos tem 80% dos clientes estrangeiros e o restante nacional. "Depois temos de saber gerir o que vem escrito, pois umas vezes tem razão, outras não" acrescentou.
Chef e empresário
O poder que as tecnologias deram aos clientes "tem mais benefícios do que desvantagens" garantiu Miguel Guedes de Sousa. Este considera que dão uma capacidade de "storyteller" e de bases de dados. O seu JNcQUOI utiliza o Instagram e todas as críticas e sugestões de clientes nas plataformas têm resposta. "Há de facto pessoas que fazem críticas sem ter ido ao restaurante e já cheguei a propor devolver dinheiro a uma pessoa desde que mostrasse a factura" refere Miguel Guedes de Sousa. Mas de facto com a maior parte dos comentários "aprendo, embora custe às vezes".
Kiko Martins, que além da presença nas redes sociais chega a fazer dois telefonemas por semana com explicações ou justificações a clientes menos satisfeitos. "É fantástico que cada um dos clientes possa escrever sobre um restaurante e nós temos de aprender a ler o que os clientes querem dizer", diz o mediático cozinheiro.