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A Casa de Investimentos é um bom exemplo do que pode ser e fazer a diferença na região. É uma gestora de patrimónios financeiros em Braga, sub-região do Cávado, um negócio que tipicamente é desenvolvido em Lisboa e no Porto. "Costumo repetir o que me disse há cerca de nove anos António Murta, administrador não executivo da Casa de Investimentos: "Estás a criar valor a partir do sítio errado." Mas "acho que a pandemia veio mostrar que não há sítios errados para criar valor porque a tecnologia leva-nos a todo lado muito rapidamente".
"O investimento direto estrangeiro é essencial na estratégia de desenvolvimento de Portugal, primeiro porque tem pouco capital embora tenhamos tido acesso a imenso capital mas continuamos a ter empresas com um situação financeira debilitada e as perspetivas para os próximos tempo não são as melhores", começou por referir Fernando Alexandre, professor associado com agregação da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. Prosseguiu dizendo que "vamos precisar de muito financiamento e o investimento direto estrangeiro tem um papel essencial sobretudo porque as dimensões como a transição climática são muito intensivas de investimento e exigem muito capital".
Conhecimento atrai multinacionais
A natureza do investimento estrangeiro mudou muito nas últimas décadas, e, desde o investimento na Autoeuropa no início da década de 1990, que Portugal ficou fora do radar dos grandes investimentos. "Demorou muito tempo para termos novos investimentos e isso foi um dos grandes falhanços da nossa economia. Tivemos uma globalização muito acelerada com uma profunda mudança tecnológica e continuámos virados para setores não transacionáveis", referiu Fernando Alexandre.
Mas a globalização sofreu uma mudança e a deslocalização passou a incluir não só as unidades produtivas como os centros de desenvolvimento de engenharia. Com a escassez de talento de engenharia e o aparecimento de ciência e produção de conhecimento em países como Portugal, as multinacionais perceberem que poderia ser uma vantagem e alargaram o seu raio de ação. "Desta vez Portugal acompanhou a onda e Braga e o Cávado conseguiram acompanhar essa mudança. A Bosch não é o único exemplo mas é, provavelmente, o primeiro em que esta descentralização de centros de desenvolvimento de engenharia para Portugal foi bem feita, e que tem sido, pelos resultados alcançados, um exemplo para as outras multinacionais", sublinhou Fernando Alexandre.
O grande ponto de viragem foi a Bosch ter deixado de ser apenas uma linha de produção para "passar a criar tecnologia e conhecimento gerado em Portugal e com a engenharia portuguesa".
Fernando Alexandre defende ainda que a forma mais eficiente de exportar em Portugal "é estar dentro de uma grande cadeia de valor de uma multinacional. É este o grande efeito transformador do nosso tecido produtivo porque passa a vender para o mundo tecnologia gerada em Portugal. A partir desse momento, e à medida que a multinacional sobe na cadeia de valor, os fornecedores também podem acompanhar com produtos e tecnologias que geram cada vez mais valor". Conclui que, "quando uma empresa vende para uma multinacional tem de ter um conjunto de certificações, que podem abrir portas para qualquer grande multinacional".