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Em parceria com o Negócios, a EDP é a organizadora do seminário "A Gestão Eficiente da Energia no Sector Público", que irá decorrer na próxima quarta-feira, 16 de Novembro, entre as 9:30 e as 16h no Teatro Aveirense, em Aveiro. O responsável calcula que a empresa eléctrica já investiu mais de 15 milhões de euros nas oportunidades de eficiência energética e detalha por que é que tem concentrado esforços na redução da factura energética. "Tentamos ter uma visão um bocadinho mais abrangente do que simplesmente estarmos apenas a vender o quilowatt-hora", justifica Miguel Stilwell.
Qual a percentagem das entidades do universo Estado que já passaram para o mercado livre?
Do sector público como um todo, 62% das instalações e 80% do volume de energia já migraram para o mercado livre. Ou, dito de outra forma, ainda há 40% das instalações e 20% do volume de energia que ainda estão no mercado regulado.
Há um ano eram 43% das instalações e 72% do volume de energia do sector público que tinham feito essa migração. Este ritmo de evolução é satisfatório?
É um ritmo lento. Comparando com o resto, é claramente um segmento no mercado "empresarial" - ou seja, não doméstico - que está a demorar mais tempo a passar. No mercado empresarial como um todo, 98% do volume de energia já está no mercado livre. Por aí se vê a diferença entre o segmento Estado e a generalidade das empresas.
O que explica essa maior lentidão?
Pode haver uma parte que seja, eventualmente, por desconhecimento - e daí o objectivo deste seminário também para comunicar e informar -, e pode haver também um tema associado ao processo de contratação no sector Estado, que admito que seja mais complexo e mais pesado do que numa empresa. Têm obviamente que preparar cadernos de encargos e isso também pode complicar demais o processo. Como se sabe, o sector público tem toda aquela parte do Código de Contratação Pública e isso faz com que sejam processos razoavelmente demorados. Será uma combinação dessas duas coisas: desconhecimento e um processo mais pesado.
O que pode o Estado fazer para melhorar esse processo de contratação de energia?
Uma das coisas que faz sentido, de facto, é haver concursos com prazos curtos de decisão porque isso reduz também o preço que está disponível. E tentarem ser o mais precisos possível relativamente aos volumes que vão efectivamente a concurso e às próprias instalações. Se possível, lançarem concursos de gás e de electricidade, o que também simplifica porque fazem só um concurso, em vez de estarem a fazer dois. Algo que recomendamos é que também incluam nesses concursos coisas que permitam melhorar a qualidade de serviço ao cliente. Desde a factura electrónica à gestão de plataformas de consumos, há uma série de medidas disponíveis hoje em dia e que as empresas já utilizam. Há uma série de empresas que usam as facturas electrónicas para reduzir custos, para agilizar e desmaterializar os seus processos. E a imagem, que ainda existe um bocado, é a de processos razoavelmente pesados do lado do sector público.
Engenheiro, da banca à energia
Nascido a 6 de Agosto de 1976, Miguel Stilwell é mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade de Strathclyde (Escócia) e fez o MBA no MIT Sloan (EUA). Iniciou a carreira no UBS Investment Bank, trabalhando em Londres sobretudo na área de fusões e aquisições. No virar do século entrou para a área de Estratégia e Desenvolvimento Corporativo / M&A do grupo EDP e coordenou várias aquisições, como a das empresas que deram origem à EDP Renováveis, ou a entrada em bolsa da EDP Energias do Brasil e da EDP Renováveis. Membro da direcção da FAE - Fórum de Administradores de Empresas, lidera a EDP Comercial desde 2012.
No caso das autarquias, 44% do volume de energia ainda está no mercado regulado. É particularmente relevante o caso das Câmaras Municipais?
As autarquias têm uma particularidade: tipicamente têm a iluminação pública. São redes bastante fragmentadas, dispersas e com muitos pontos de instalação e ligados à rede. Esse é um processo mais pesado porque é preciso fazer o levantamento de todos os pontos que se quer meter a concurso. Agora, não há nenhuma razão para não se conseguir fazer isso. E há autarquias que têm assumido a liderança e já passaram há muito [para o mercado livre]; outras não o têm feito. Como os preços são tendencionalmente mais baratos do que no regulado, faz sentido [migrarem] até pela poupança de custos. E quanto mais rápido isso se fizer, mais rapidamente se está a poupar.
Qual o perfil das autarquias que já operaram essa migração?
Não é tanto ao nível da dimensão, tem mais a ver com o tema da informação e da formação. Se calhar, autarquias que estejam mais atentas a este tipo de temas fizeram a passagem mais rápida e há mais tempo para o mercado livre. Depois há outras autarquias que ainda não passaram, mas não há estereótipos. Não é um tema geográfico nem de dimensão, mas às vezes uma questão de quem é que está lá na Câmara, conhece minimamente o sector da energia, assume esse caderno e avança.
Até por essa particularidade da iluminação pública, há mais oportunidades e poupanças potenciais para as autarquias?
Sem dúvida. Quem tem mais volume também poupa mais. Mas temos procurado passar uma mensagem, quer directamente junto das autarquias e do Estado, quer nestes seminários, de que nos disponibilizamos para ajudar. Temos uma equipa preparada para tirar dúvidas e até podem dar várias casos de como fizeram os colegas de outras câmaras. Temos boa visibilidade do que tem sido feito e estamos disponíveis.
Por que é que uma empresa, como a EDP, que ganha dinheiro na comercialização da energia coloca este foco na redução da factura energética do cliente Estado?
Muito sinceramente, porque se ganham os clientes, nós também ganhamos. Tipicamente, se podemos trazer soluções que têm vantagens, ficamos com clientes mais fiéis, mais satisfeitos e isso acaba por se reflectir positivamente em nós e na relação que temos com eles. Esta não é uma aposta de agora da EDP, mas de há muito. Temos inclusivamente fundos dedicados a isto e investimos nos últimos anos mais de 15 milhões de euros neste tipo de oportunidades. Não vou esconder que também ganhamos com a venda destas soluções. Agora, tentamos ter uma visão um bocadinho mais abrangente do que simplesmente estarmos apenas a tentar vender o quilowatt-hora.
"Poupar na quantidade é eficiência que fica"
Miguel Stilwell chama a atenção para o tema da eficiência energética, lamentando que fique muitas vezes esquecida a discussão em torno do tema da quantidade. O responsável da EDP Comercial admite que "é muito mais fácil discutir o preço", mas a poupança permitida pela gestão dos consumos pode até validar uma poupança dez vezes maior na factura energética do que uma negociação de preço com as comercializadoras.
Ao nível das vantagens das empresas e organismos do Estado passarem para o mercado livre, estamos a falar sobretudo de preço?
Estamos a falar de duas coisas. De preço - e essa poupança é relevante, sobretudo quando se fala tanto da despesa do Estado. Mas há um segundo [tema] que não me parece nada despiciente, que é o da eficiência energética e das ferramentas disponíveis no mercado livre, que não estão no regulado. No final do dia, o que interessa é a factura. E a factura é o preço vezes a quantidade. Muitas vezes estamos a discutir o preço - e bem porque essa é uma componente variável -, mas esquecemo-nos de discutir o tema da quantidade.
Quais são, em termos concretos, essas ferramentas?
Trabalhar do lado da quantidade e da eficiência energética também é importantíssimo. Por exemplo, a telecontagem permite saber quanto é que cada ponto está a consumir praticamente em tempo real ou com periodicidade grande. Dá informação sobre onde se está a consumir mais e menos. Não se consegue gerir aquilo que não se mede. E muitas vezes as pessoas não medem bem de onde está a vir o consumo de energia. Há outro tipo de produtos, como o solar [produção fotovoltaica] ou as baterias de condensadores, que permitem baixar os consumos eléctricos, desde que se consiga identificar exactamente onde faz sentido económico fazer esse investimento. As vantagens da liberalização estão do lado do preço, obviamente, mas também do lado da quantidade.
Por que é que normalmente esquecem esta variável da quantidade?
Porque é muito mais fácil discutir o preço, dizer 'eu quero um preço mais baixo'. Agora, se calhar em quantidade consigo poupar dez vezes mais na factura do que com a negociação do preço. Os preços entre o mercado livre e o regulado são relevantes, mas não tanto depois entre as diferentes comercializadoras porque resultam também do que existe no mercado. Do lado da eficiência existe imenso potencial. E se poupar 10% na factura em termos de quantidade, essa é uma poupança estrutural e vai estar lá este ano e nos próximos. São eficiências que ficam. É uma componente em que vale a pena apostar e uma área em que existem também muitos fundos, incluindo comunitários, disponíveis para investir em eficiência energética. Seja a nível de edifícios ou de instalações mais industriais.
E no sector público, em particular, vê margem para esses investimentos com retorno?
Vejo nos edifícios, sejam administrativos ou escolas, por exemplo. Mesmo na iluminação pública há bastante espaço, embora seja feito em menor quantidade. Mas basta passar para [lâmpadas] LED e tem uma poupança de cerca de 70% a 80%. É preciso fazer um investimento, mas depois paga-se de forma bastante rápida.