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"Temos uma oportunidade muito relevante de podermos aproveitar um recurso escasso, que o país tradicionalmente não tem, que é capital, para transformar Portugal", disse Miguel Maya, presidente executivo do Millennium bcp desde 2018, a propósito da vaga de fundos que o Plano de Recuperação e Resiliência e o novo quadro comunitário de apoio vão injetar na economia portuguesa.
Na sua opinião, "o aproveitamento correto dos fundos disponíveis é uma oportunidade muito relevante para mudar a economia portuguesa e de a tornar bastante mais competitiva. O difícil normalmente não é o desenho do plano, é a execução".
Acha que é possível executar num período tão curto de tempo um conjunto tão vasto de verbas. Esse será o maior desafio?
Executar seguramente vai ser executado, mas executar bem e com rigor, numa lógica de investir e não de gastar, é claramente o grande desafio, sobretudo depois de ter a coragem de implementar estas medidas quando em algumas delas há poucos consensos.
Temos de ter a ambição de ir mais longe. O momento não é para baixar a fasquia, mas de preparar melhor Portugal para os desafios que se colocam como uma globalização mais intensa. Poderá ser mais inclusiva, mas será dominante.
Se as empresas portuguesas e o tecido social português não estiverem preparados para este ambiente competitivo à escala global, o que vai acontecer é que dentro de alguns anos vamos estar outra vez na mesma situação de mão estendida a pedir que nos ajudem.
Qual o papel da banca neste desafio e como é que o Millennium bcp está preparado para tal?
A banca tem um papel muito importante, de proximidade, de conhecimento, de ajuda ao financiamento. A banca também beneficia de um tecido empresarial e social sólido que é o nosso balanço. As pessoas e as empresas são os nossos ativos. Se a economia não estiver bem, um banco como o BCP nunca estará bem. O nosso papel é ajudar os nossos clientes a usarem da melhor forma e rapidamente os fundos, temos um período curto de utilização. O Millennium bcp nesta matéria tem tradição. Ficou claro para muitos portugueses no tema das moratórias e das linhas covid-19 que o banco está bem preparado e quer estar com os clientes. A quota de mercado foi de quase 40% enquanto não se definiram plafonds.
A fiscalidade e os custos de contexto vão estar associados ao conjunto de reformas do PRR?
O PRR não é o programa de Governo em todas as suas dimensões, como já foi dito pelo próprio Governo. Tem um propósito específico e há um conjunto de alavancas que têm de ser trabalhadas e a fiscalidade é uma questão essencial.
A coesão social é um tema fundamental porque não se consegue viver em sociedade sem coesão social. Hoje, nas democracias liberais, a generalidade das pessoas acredita nisto. Por outro lado, não podemos colocar este encargo todo nas empresas. As questões laborais estão muito focadas na relação empresa-trabalhador. Este modelo funcionou enquanto havia fronteiras definidas. Mas temos de ter a coragem de passar esta rede de suporte social das empresas, onde tem estado tradicionalmente e funcionava com economias fechadas, para o Estado e para os contribuintes, para estes perceberem que é importante pagar impostos para poder suportar as pessoas que estão em momentos de dificuldade. Nesta crise, funcionou muito bem porque o Estado apareceu como um garante da coesão social do Estado, o que é um papel muito importante.
Propõe que haja um nível de flexibilidade das empresas, liberdade…
As empresas têm de se capitalizar, e se as empresas não tiverem flexibilidade para se adaptar aos contextos de mercado, aumentando e reduzindo a sua base de trabalhadores, é muito difícil que se consigam capitalizar. Temos de pensar no futuro e este modelo que tivemos no passado, e que foi importante, tem de ser progressivamente substituído pelo modelo que aconteceu agora durante esta crise. Permitir que estas empresas tenham capacidade de adaptação, de gerar resultados, de se capitalizarem, mas sem ser, simultaneamente, à custa dos direitos dos trabalhadores.
Mas o lay-off, por exemplo, foi um mecanismo especificamente usado para este contexto [de pandemia]. É possível pensá-lo de forma mais alargada para a economia?
Para mim, a conclusão é que tem de ser possível pensá-lo de uma forma mais alargada para esta economia. Acho que funcionou muito bem e que foi uma rede de apoio absolutamente indispensável.
Mas também causou grande pressão sobre as contas públicas e que só é possível com flexibilização das regras orçamentais por parte de Bruxelas…
Por isso é que temos de ter o Estado muito ativo em domínios específicos, com uma utilização mais eficiente dos fundos, e deixar depois a economia privada ter a capacidade de criatividade e inovação nas áreas que competem à economia privada. Não gosto de falar de Estado menor ou maior, gosto de um Estado muito forte que se preocupa com os seus cidadãos e com as suas empresas. Se o Estado estiver a cuidar deste dois pilares da sociedade, as coisas funcionam bem. É uma questão de alocação de recursos.
O BCP já pagou mais de 400 milhões para alimentar o mecanismo de capitalização contingente do Novo Banco, que é um concorrente, e tem um custo anual na ordem dos 47 milhões. "O BCP poderia estar mais moderno em tecnologia, com os trabalhadores mais bem remunerados, mais capitalizado, se esses 400 milhões estivessem em capital do banco e não tivesse este fardo de 47 milhões por ano."
Miguel Maya considera que compete na zona da União Bancária, mas só durante "três trimestres, porque o quarto é para pagar a um concorrente. Espero que o Estado, os governantes e os deputados portugueses percebam que isto não é a bem do país…"
O líder do BCP considera que o setor financeiro está muito mais bem preparado do que estava há uns anos. "O tema da liquidez era um tema que nos tirava o ar, asfixiante, e hoje não há tema nenhum de liquidez, os capitais também são adequados aos modelos de negócio, portanto, não tem nada a ver. A governance é muito melhor transversalmente."
Em relação aos grandes desafios, diz que não gosta da separação que se faz entre bancos tradicionais e os novos players. Considera que a tradição não tem de ser um legacy negativo. O BCP tem feito a incorporação de tecnologias, com fortes investimentos no mobile, no processamento de operações, nos processos de negócio, através de inteligência artificial, robotização. "O que nos permite competir com qualquer operador, fintech, e, portanto, não tenho receio. Aliás, temos uma vantagem, temos proximidade. E proximidade é uma coisa muito importante porque significa um propósito", diz Miguel Maya.
"Contem connosco"
"O BCP tem lugar garantido no futuro, estamos mais próximos das pessoas, conhecemos melhor as pessoas, fazemos os investimentos corretos em tecnologia e, portanto, vão contar connosco. Quantos clientes é que conseguiram moratórias em bancos estrangeiros? Quais foram as moratórias das big tech? Onde estavam quando os clientes precisaram de apoio? Desconheço, zero", sublinha Miguel Maya.
Em relação às bitcoins, diz que a questão não é se, mas quando. Revela que o BCP criou uma direção para fazer o acompanhamento deste novo modelo de negócio, que levará provavelmente à criação do euro digital. "Nesta matéria, o que nós estamos a tentar perceber é onde criamos valor neste processo e a minha profunda convicção é que, se isto for bem feito, não será prejudicial."
Admite que há algumas áreas de negócio a desaparecer, mas pode haver novas fontes de rendimento, que resultam deste novo processo e da existência desta moeda. Por outro lado, "o BCP vai ser muito ativo na defesa de um processo que seja ‘level playing field’, para garantir que vamos estar nas mesmas condições que outros operadores", conclui Miguel Maya.
"As moratórias são um problema que todos temos de resolver"
"É um problema da sociedade portuguesa, e portanto temos de encontrar as melhores soluções para apoiar estes empresários que ainda não têm cash-flow", diz Miguel Maya.
Vamos passar por um processo delicado para o setor bancário que é a saída das moratórias. Vê alguns setores com maior preocupação e terá de haver algum nível de responsabilidade, de comprometimento, por parte dos empresários e das empresas, nas soluções para a saída das moratórias?
Vi com tristeza as pessoas referirem-se às moratórias como uma bomba-relógio. As moratórias foram indispensáveis, foram uma ajuda enorme da banca para não aumentar as dificuldades das empresas. Pode ser o melhor empresário que existe, no entanto, se por um motivo sanitário o Estado o proíbe de estar com a porta aberta, fica sem cash-flow. Mas qual é a sua responsabilidade? A economia parou como um todo, por isso não consegue. Em vez de colocar mais dívida e dar mais linhas covid-19, o que se fez foi não pagar. Em vez de aumentar as suas necessidades de financiamento, o que tem sempre custos adicionais, suspenderam-se os pagamentos até que haja cash-flows e comecem a pagar. Esta medida da banca não foi percebida em todas as suas dimensões e na importância que teve para as empresas, as pessoas e o país, porque evitou que este se endividasse ainda mais. Foi um trabalho notável feito pelos bancos portugueses.
Agora é a saída…
Já saímos muito e sem caos. Dizia-se que era o fim…
Há bons resultados desde março até agora?
Temos de ter a coragem de tratar de forma diferenciada os setores porque alguns só agora é que estão a recuperar, como a cultura, o turismo, a restauração, o comércio de retalho de rua. Mais uma vez, na minha opinião, o que temos de encontrar são soluções específicas em vez de uma solução para todos. Estes setores precisam de instrumentos adicionais e por isso a importância do que se tem vindo a falar de o Banco de Fomento e o Governo encontrarem apoios específicos para estas empresas. Pode-se pensar que há um problema de risco moral, mas não existe porque foi uma consequência de um choque externo de uma pandemia. Foi uma crise diferente, por isso temos de ter a coragem de tratar de encontrar uma solução diferente.
Neste processo, a banca já se mostrou disponível para encontrar soluções. É igualmente importante que os clientes se responsabilizem?
É evidente. Ninguém pode esperar que os outros resolvam os seus problemas. Este é um problema das empresas, é dos bancos, se as empresas não pagarem, e é do Estado. Porque se as empresas não pagarem, os bancos ficam com problemas e o Estado tem também um problema. É um problema nosso, da sociedade portuguesa, e temos de encontrar as melhores soluções para apoiar estes empresários que ainda não têm cash-flow. Mas não se pode salvar tudo, como no passado. Como sempre, infelizmente, há empresas cujo modelo de negócio ficou completamente desajustado e não tem viabilidade. Por isso temos de saber onde é que vamos alocar estes recursos escassos, que devem ir sobretudo nas empresas que têm capacidade, conhecimento, tecnologia, saber, para contribuírem para o crescimento de Portugal. É nestas que temos de apostar, os outros terão a rede social de apoio, pois estas pessoas não podem ficar em situações intoleráveis.
Na sua opinião, "o aproveitamento correto dos fundos disponíveis é uma oportunidade muito relevante para mudar a economia portuguesa e de a tornar bastante mais competitiva. O difícil normalmente não é o desenho do plano, é a execução".
Acha que é possível executar num período tão curto de tempo um conjunto tão vasto de verbas. Esse será o maior desafio?
Executar seguramente vai ser executado, mas executar bem e com rigor, numa lógica de investir e não de gastar, é claramente o grande desafio, sobretudo depois de ter a coragem de implementar estas medidas quando em algumas delas há poucos consensos.
Temos de ter a ambição de ir mais longe. O momento não é para baixar a fasquia, mas de preparar melhor Portugal para os desafios que se colocam como uma globalização mais intensa. Poderá ser mais inclusiva, mas será dominante.
Se as empresas portuguesas e o tecido social português não estiverem preparados para este ambiente competitivo à escala global, o que vai acontecer é que dentro de alguns anos vamos estar outra vez na mesma situação de mão estendida a pedir que nos ajudem.
Qual o papel da banca neste desafio e como é que o Millennium bcp está preparado para tal?
A banca tem um papel muito importante, de proximidade, de conhecimento, de ajuda ao financiamento. A banca também beneficia de um tecido empresarial e social sólido que é o nosso balanço. As pessoas e as empresas são os nossos ativos. Se a economia não estiver bem, um banco como o BCP nunca estará bem. O nosso papel é ajudar os nossos clientes a usarem da melhor forma e rapidamente os fundos, temos um período curto de utilização. O Millennium bcp nesta matéria tem tradição. Ficou claro para muitos portugueses no tema das moratórias e das linhas covid-19 que o banco está bem preparado e quer estar com os clientes. A quota de mercado foi de quase 40% enquanto não se definiram plafonds.
A fiscalidade e os custos de contexto vão estar associados ao conjunto de reformas do PRR?
O PRR não é o programa de Governo em todas as suas dimensões, como já foi dito pelo próprio Governo. Tem um propósito específico e há um conjunto de alavancas que têm de ser trabalhadas e a fiscalidade é uma questão essencial.
A coesão social é um tema fundamental porque não se consegue viver em sociedade sem coesão social. Hoje, nas democracias liberais, a generalidade das pessoas acredita nisto. Por outro lado, não podemos colocar este encargo todo nas empresas. As questões laborais estão muito focadas na relação empresa-trabalhador. Este modelo funcionou enquanto havia fronteiras definidas. Mas temos de ter a coragem de passar esta rede de suporte social das empresas, onde tem estado tradicionalmente e funcionava com economias fechadas, para o Estado e para os contribuintes, para estes perceberem que é importante pagar impostos para poder suportar as pessoas que estão em momentos de dificuldade. Nesta crise, funcionou muito bem porque o Estado apareceu como um garante da coesão social do Estado, o que é um papel muito importante.
Propõe que haja um nível de flexibilidade das empresas, liberdade…
As empresas têm de se capitalizar, e se as empresas não tiverem flexibilidade para se adaptar aos contextos de mercado, aumentando e reduzindo a sua base de trabalhadores, é muito difícil que se consigam capitalizar. Temos de pensar no futuro e este modelo que tivemos no passado, e que foi importante, tem de ser progressivamente substituído pelo modelo que aconteceu agora durante esta crise. Permitir que estas empresas tenham capacidade de adaptação, de gerar resultados, de se capitalizarem, mas sem ser, simultaneamente, à custa dos direitos dos trabalhadores.
Mas o lay-off, por exemplo, foi um mecanismo especificamente usado para este contexto [de pandemia]. É possível pensá-lo de forma mais alargada para a economia?
Para mim, a conclusão é que tem de ser possível pensá-lo de uma forma mais alargada para esta economia. Acho que funcionou muito bem e que foi uma rede de apoio absolutamente indispensável.
Mas também causou grande pressão sobre as contas públicas e que só é possível com flexibilização das regras orçamentais por parte de Bruxelas…
Por isso é que temos de ter o Estado muito ativo em domínios específicos, com uma utilização mais eficiente dos fundos, e deixar depois a economia privada ter a capacidade de criatividade e inovação nas áreas que competem à economia privada. Não gosto de falar de Estado menor ou maior, gosto de um Estado muito forte que se preocupa com os seus cidadãos e com as suas empresas. Se o Estado estiver a cuidar deste dois pilares da sociedade, as coisas funcionam bem. É uma questão de alocação de recursos.
"Vamos lá, Portugal!" O Millennium bcp e o Jornal de Negócios estão a desenvolver uma iniciativa intitulada "Vamos lá, Portugal!", que tem por objetivo propiciar mais informação sobre os fundos que o PPR vai disponibilizar. Miguel Maya, CEO do Millennium bcp, classifica esta iniciativa como "muito importante, porque o conhecimento é muito relevante e porque, sem acesso à informação de qualidade, é muito difícil as pessoas poderem beneficiar dos fundos que estão disponíveis e das oportunidades que surgem. Em boa hora fizemos esta parceria convosco e considero-a muito importante."
| BCP atento ao euro digital O BCP já pagou mais de 400 milhões para alimentar o mecanismo de capitalização contingente do Novo Banco, que é um concorrente, e tem um custo anual na ordem dos 47 milhões. "O BCP poderia estar mais moderno em tecnologia, com os trabalhadores mais bem remunerados, mais capitalizado, se esses 400 milhões estivessem em capital do banco e não tivesse este fardo de 47 milhões por ano."
Miguel Maya considera que compete na zona da União Bancária, mas só durante "três trimestres, porque o quarto é para pagar a um concorrente. Espero que o Estado, os governantes e os deputados portugueses percebam que isto não é a bem do país…"
O líder do BCP considera que o setor financeiro está muito mais bem preparado do que estava há uns anos. "O tema da liquidez era um tema que nos tirava o ar, asfixiante, e hoje não há tema nenhum de liquidez, os capitais também são adequados aos modelos de negócio, portanto, não tem nada a ver. A governance é muito melhor transversalmente."
Em relação aos grandes desafios, diz que não gosta da separação que se faz entre bancos tradicionais e os novos players. Considera que a tradição não tem de ser um legacy negativo. O BCP tem feito a incorporação de tecnologias, com fortes investimentos no mobile, no processamento de operações, nos processos de negócio, através de inteligência artificial, robotização. "O que nos permite competir com qualquer operador, fintech, e, portanto, não tenho receio. Aliás, temos uma vantagem, temos proximidade. E proximidade é uma coisa muito importante porque significa um propósito", diz Miguel Maya.
"Contem connosco"
"O BCP tem lugar garantido no futuro, estamos mais próximos das pessoas, conhecemos melhor as pessoas, fazemos os investimentos corretos em tecnologia e, portanto, vão contar connosco. Quantos clientes é que conseguiram moratórias em bancos estrangeiros? Quais foram as moratórias das big tech? Onde estavam quando os clientes precisaram de apoio? Desconheço, zero", sublinha Miguel Maya.
Em relação às bitcoins, diz que a questão não é se, mas quando. Revela que o BCP criou uma direção para fazer o acompanhamento deste novo modelo de negócio, que levará provavelmente à criação do euro digital. "Nesta matéria, o que nós estamos a tentar perceber é onde criamos valor neste processo e a minha profunda convicção é que, se isto for bem feito, não será prejudicial."
Admite que há algumas áreas de negócio a desaparecer, mas pode haver novas fontes de rendimento, que resultam deste novo processo e da existência desta moeda. Por outro lado, "o BCP vai ser muito ativo na defesa de um processo que seja ‘level playing field’, para garantir que vamos estar nas mesmas condições que outros operadores", conclui Miguel Maya.
"As moratórias são um problema que todos temos de resolver"
"É um problema da sociedade portuguesa, e portanto temos de encontrar as melhores soluções para apoiar estes empresários que ainda não têm cash-flow", diz Miguel Maya.
Vamos passar por um processo delicado para o setor bancário que é a saída das moratórias. Vê alguns setores com maior preocupação e terá de haver algum nível de responsabilidade, de comprometimento, por parte dos empresários e das empresas, nas soluções para a saída das moratórias?
Vi com tristeza as pessoas referirem-se às moratórias como uma bomba-relógio. As moratórias foram indispensáveis, foram uma ajuda enorme da banca para não aumentar as dificuldades das empresas. Pode ser o melhor empresário que existe, no entanto, se por um motivo sanitário o Estado o proíbe de estar com a porta aberta, fica sem cash-flow. Mas qual é a sua responsabilidade? A economia parou como um todo, por isso não consegue. Em vez de colocar mais dívida e dar mais linhas covid-19, o que se fez foi não pagar. Em vez de aumentar as suas necessidades de financiamento, o que tem sempre custos adicionais, suspenderam-se os pagamentos até que haja cash-flows e comecem a pagar. Esta medida da banca não foi percebida em todas as suas dimensões e na importância que teve para as empresas, as pessoas e o país, porque evitou que este se endividasse ainda mais. Foi um trabalho notável feito pelos bancos portugueses.
Agora é a saída…
Já saímos muito e sem caos. Dizia-se que era o fim…
Há bons resultados desde março até agora?
Temos de ter a coragem de tratar de forma diferenciada os setores porque alguns só agora é que estão a recuperar, como a cultura, o turismo, a restauração, o comércio de retalho de rua. Mais uma vez, na minha opinião, o que temos de encontrar são soluções específicas em vez de uma solução para todos. Estes setores precisam de instrumentos adicionais e por isso a importância do que se tem vindo a falar de o Banco de Fomento e o Governo encontrarem apoios específicos para estas empresas. Pode-se pensar que há um problema de risco moral, mas não existe porque foi uma consequência de um choque externo de uma pandemia. Foi uma crise diferente, por isso temos de ter a coragem de tratar de encontrar uma solução diferente.
Neste processo, a banca já se mostrou disponível para encontrar soluções. É igualmente importante que os clientes se responsabilizem?
É evidente. Ninguém pode esperar que os outros resolvam os seus problemas. Este é um problema das empresas, é dos bancos, se as empresas não pagarem, e é do Estado. Porque se as empresas não pagarem, os bancos ficam com problemas e o Estado tem também um problema. É um problema nosso, da sociedade portuguesa, e temos de encontrar as melhores soluções para apoiar estes empresários que ainda não têm cash-flow. Mas não se pode salvar tudo, como no passado. Como sempre, infelizmente, há empresas cujo modelo de negócio ficou completamente desajustado e não tem viabilidade. Por isso temos de saber onde é que vamos alocar estes recursos escassos, que devem ir sobretudo nas empresas que têm capacidade, conhecimento, tecnologia, saber, para contribuírem para o crescimento de Portugal. É nestas que temos de apostar, os outros terão a rede social de apoio, pois estas pessoas não podem ficar em situações intoleráveis.