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"O investidor deve obter sempre um profundo conhecimento dos fatores que podem influenciar o desempenho dos ativos em que investe e procurar associar-se aos temas em que acredita e que são compatíveis com o seu perfil de risco", aconselha Mário Carvalho Fernandes, chief investment officer do Banco Carregosa.
Quais são as principais tendências no mercado em 2021 e qual pode ser a sua evolução ao longo deste ano?
A conjugação do crescimento previsto e da evolução da inflação é um processo essencial para identificar as tendências que se esperam nos mercados de ativos financeiros. Em 2021, começaremos a vislumbrar o que será o mundo pós-covid e se isso significará um regresso do anterior normal ou se teremos de nos habituar a um novo normal. Em qualquer destes cenários, os próximos meses devem continuar a ser de recuperação do crescimento económico, apoiado no progresso dos programas de vacinação e nas medidas de emergência adotadas pelas autoridades monetárias e fiscais, um pouco por todo o mundo. Existe um grande consenso em torno do crescimento económico, que por esse motivo já se encontra devidamente descontado no mercado. A evolução da inflação está envolta em maior incerteza. Existe um consenso sobre a aceleração da inflação este ano, mas não quanto à duração desse fenómeno inflacionista.
A evolução da situação pandémica e sanitária, com a vacina e as vagas pandémicas a evoluir de forma diferenciada, pode ter impacto na evolução dos mercados financeiros?
Os mercados financeiros vão continuar a reagir à expectativa e à rapidez com que cada geografia irá regressar à sua tendência de crescimento natural. Desde logo, essa situação impactará a política monetária, com a retirada dos estímulos em vigor, em cada região, e dessa forma alterar a evolução do valor relativo dos ativos financeiros entre essas regiões, em particular no mercado de câmbios, no mercado de obrigações soberanas e no mercado de ações e obrigações de empresas com exposição mais concentrada a essas regiões. Existem empresas mais expostas ao risco da situação sanitária em cada uma das várias regiões. As empresas com exposição a apenas um mercado e produto ou serviço tendem a ser mais arriscadas do que as empresas com uma exposição setorial e geográfica mais vasta.
Fundos mobiliários ou imobiliários, ações, imobiliário, commodities, criptomoedas, dívida pública. Quais são os principais riscos e oportunidades?
Num ambiente em que o comportamento da inflação é um dos maiores riscos identificados pelos investidores, deve ser dada particular atenção à capacidade de adaptação dos vários ativos aos diferentes cenários. Nesse aspeto, deve procurar evitar-se exposição ao risco de taxa de juro, privilegiando-se ativos com rendimentos variáveis e com exposição ao ciclo económico, que se antevê favorável. Os mercados acionistas continuam a apresentar um binómio retorno-risco interessante face a outras opções, em especial para os investidores com perfis de risco e horizontes temporais compatíveis com o investimento em ações. A exposição a dívida pública norte-americana poderá voltar a ser um ativo de refúgio interessante a introduzir nas carteiras diversificadas, nomeadamente se as yields vierem a atingir valores mais elevados, em que voltem a remunerar os investidores com juros reais positivos. A exposição a matérias-primas nas fases de crescimento económico tende a contribuir positivamente para uma carteira diversificada, tanto na vertente da rentabilidade como na gestão do risco, uma vez que tendem a comportar-se bem em ambientes inflacionistas, um dos riscos latentes em 2021. No segmento imobiliário, o risco de taxa de juro tenderá a ter um impacto negativo na generalidade dos ativos, pelo que também aqui se deverá procurar ativos premium, com capacidade de repercutir pressões inflacionistas nos seus cash-flows futuros. O efeito da pandemia poderá ter impactos duradouros nas dinâmicas de procura de ativos imobiliários residenciais, comerciais, serviços e escritórios que podem prolongar desequilíbrios entre oferta e procura. Apesar destes riscos, a classe continuará a representar um ativo real, com a capacidade de proteção de inflação que lhe está associada. As criptomoedas são um tema ainda num estado emergente, fora do escrutínio da regulação, pelo que os riscos ainda podem potencialmente superar as eventuais oportunidades, em especial para os investidores baseados em economias desenvolvidas e com acesso a serviços bancários e a moedas estáveis.