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José Miguel Calheiros: “Ações globais são o ativo com melhor potencial risco/retorno”

Criptomoedas ainda são instrumentos puramente especulativos, sem cash-flows associados que permitam avaliar o seu valor intrínseco e com uma função reserva de valor ainda muito dúbia, ao contrário do ouro, que cumpre essa função há mais de 4000 anos, refere José Miguel Calheiros, diretor do Bankinter Gestão de Ativos.

29 de Abril de 2021 às 13:45
José Miguel Calheiros é diretor do Bankinter Gestão de Ativos
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Os mandamentos do investidor para José Miguel Calheiros, diretor do Bankinter Gestão de Ativos, baseiam-se na paciência, persistência e permanência para investir "de forma diversificada no espaço (diferentes classes de ativos, áreas geográficas, estilos) e no tempo (privilegiando o investimento regular vs. apostas one off), com um horizonte temporal longo o suficiente, que lhe permita colher os frutos do seu investimento, sob a forma de cupões, dividendos ou mais-valias".

Quais são as principais ten- dências no mercado em 2021 e qual pode ser a sua evolução ao longo deste ano?
Destacaria duas tendências, de algum modo interligadas. Por um lado, a subida, até agora, paulatina, das taxas de juro nominais de longo prazo, quer na Europa, quer nos Estados Unidos, fruto do ritmo de crescimento económico mundial desenfreado que se espera para 2021 e 2022. Por outro lado, dado que os bancos centrais amarraram as taxas de juro de curto prazo a zero, o aumento do diferencial entre estas últimas e as taxas de longo prazo permitirá que setores muito castigados no passado recente, como as financeiras, as empresas de consumo cíclico, as empresas de energia e as "small caps" tenham oportunidade de registar ganhos significativos nos próximos trimestres. Algo que já vimos acontecer no decurso de 2021 e que, mantendo-se o cenário de reflação e normalização, lenta mas progressiva, do nível de taxas de juro nominais de longo prazo, tem ainda margem para continuar ao longo deste ano.

A evolução da situação pandémica e sanitária, com a vacina e as vagas pandémicas a evoluir de forma diferenciada, pode ter impacto na evolução dos mercados financeiros?
Em termos do desempenho económico foi algo que já vimos em 2020, com a China a assumir no segundo semestre a liderança da recuperação económica. Em 2021, e dado as diferentes fases de reabertura da economia, os Estados Unidos vão liderar o crescimento económico no primeiro semestre, sendo expectável que a Europa, em particular a Zona Euro, assuma essa posição no final do ano, a concretizar-se o calendário de vacinação previsto.

No que diz respeito aos mercados financeiros, e fazendo jus à sua capacidade de descontar a realidade económica de forma quase instantânea, a debelação da pandemia é hoje um dado adquirido, pelo que a evolução dos primeiros vai depender, sobretudo, da capacidade de os bancos centrais manterem taxas de juro reais negativas e do crescimento muito pronunciado dos lucros das empresas em 2021. Se estes dois fatores se materializarem, temos condições para que se continuem a registar ganhos, ainda que mais moderados e com volatilidade à mistura, nos mercados de ações.

Fundos mobiliários ou imobiliários, ações, imobiliário, commodities, criptomoedas, dívida pública. Quais são os principais riscos e oportunidades?
Fundos mobiliários multiativos com vantagens fiscais, que fomentem o investimento a médio e longo prazo, são, para a generalidade dos investidores, a melhor opção. Através da diversificação e com a gestão profissional, obtêm-se rendibilidades ajustadas ao perfil de risco, em função do potencial de retorno de cada classe de ativos, área geográfica, setor de atividade ou tipologia de instrumentos financeiros. Dívida pública da Zona Euro dificilmente gerará rendibilidades positivas nos próximos anos, dado o atual enquadramento de taxas. Ações globais continuam, para já, a ser o ativo com melhor potencial risco/retorno. Criptomoedas não entram na nossa equação, dado que são instrumentos, por enquanto e na sua forma atual, puramente especulativos, sem cash flows associados que permitam avaliar o seu valor intrínseco e com uma função reserva de valor ainda muito dúbia (ao contrário do ouro, que cumpre essa função há mais de 4000 anos). O seu preço depende exclusivamente do quanto estamos dispostos a pagar… e dado que não temos como avaliar, tanto pode ser 5 como 50.000 dólares.