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O problema da falta de mão de obra no turismo não é específico de Portugal, nem sequer da Europa Ocidental, mas do mundo ocidental. "Esta carência de pessoas está a verificar-se não apenas em empregados de mesa, empregadas de andares, mas também no revenue management, digital, etc., o que mostra a concorrência de outras atividades", assinala Cristina Siza Vieira, presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal.
João Pedro Tavares, CEO do Torel Boutiques, diz que sentem mais falta de mão de obra nas funções mais indiferenciadas e nas funções de cozinha menos técnicas, que são em maior número nas unidades hoteleiras. "Nas outras, com mais ou menos dificuldade, temos mão de obra com qualidade e conseguimos suprir essas necessidades." Por isso, têm sido criadas ligações com as escolas de hotelaria e protocolos com embaixadas de países da bacia mediterrânica, como Marrocos, para recrutamento nas suas escolas.
Cristina Siza Vieira acrescenta que já houve encontros com a secretária de Estado das Comunidades porque "consideramos que os países da CPLP são um bom alfobre". "Temos várias coisas em comum, designadamente com Cabo Verde, onde a escola de hotelaria e turismo é muito moldada sobre a nossa." E rejeita "os mitos patéticos" de que o setor procura mão de obra mais barata quando "nem sequer é legalmente possível".
Pessoas cansadas
A responsável destaca que "faltam à volta de 15 mil trabalhadores" na hotelaria. "Não vamos conseguir satisfazer esta necessidade só com os recursos internos e os que emigraram não regressam facilmente, por isso consideramos que temos de ter capacidade de retenção e da atração de outras indústrias."
"Nestes dois anos, as pessoas que ficaram no setor do turismo estão cansadas. Nunca fechámos, tivemos as pessoas sob uma pressão enorme, entre o ioiô constante do põe e tira máscara e as medidas avulsas, o que levou a um esgotamento das pessoas. Hoje estou a dar dois meses de férias, como prémio, e oferecemos aos principais quadros a possibilidade de irem para uma praia paradisíaca descansar", revela João Pedro Tavares.
A presidente da Associação dos Hotéis de Portugal assinala a mudança de paradigma porque "já não são os trabalhadores que têm de se adaptar às empresas, mas as empresas aos trabalhadores". "É muito interessante a forma como se estão a gerir as necessidades e as expetativas dos trabalhadores."
Um dos desafios mais importantes é a flexibilidade das empresas para acolherem a diversidade. O outro são os salários. Um exemplo: um trabalhador de 40 anos, com família, valoriza um seguro de saúde que cubra a família, mas um trabalhador de 21 ou 22 anos dá um maior valor à flexibilidade de trabalho. "São diferentes necessidades, muito mais ‘tailor made’. É um desafio importante para as organizações, afirma Cristina Siza Vieira.
Já para João Pedro Tavares, "o setor tem de se tornar mais atrativo, os salários estão a subir e o próprio setor tem capacidade de atração". "É sexy porque não há nada mais sexy do que o turismo e vamos voltar a ter as melhores pessoas a trabalhar connosco."