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Euro digital não pode pôr em causa sistema financeiro

A emissão de moedas digitais pelos bancos centrais, como o euro digital, pode ter impactos sobre a estabilidade financeira e o regular funcionamento da economia, afetando o financiamento dos bancos, na capacidade de avaliação do risco e na qualidade das carteiras de crédito.

30 de Novembro de 2021 às 14:30
Miguel Morais, risk advisory leader da Deloitte.
Miguel Morais é risk advisory leader da Deloitte. Celestino Santos
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As moedas digitais são uma resposta dos bancos centrais, como o Banco Central Europeu, para "proporcionar aos agentes económicos os benefícios da digitalização da economia, disponibilizando o acesso a uma moeda digital que possa ser utilizada nos pagamentos do dia a dia, com toda a segurança e plena proteção legal", refere Norberto Rosa, secretário-geral da Associação Portuguesa de Bancos.

A emissão de moedas digitais é uma evolução natural da moeda existente em "resultado da emergências de novas tecnologias e meios para processar transações e respetivas liquidações, tendo em vista o objetivo último que será sempre aumentar a rapidez de processamento, reduzir o respetivo custo e garantir a sua segurança/liquidez", afirma Miguel Morais, risk advisory leader da Deloitte.

Para Paulo Costa Martins e Joana Mota Agostinho, no caso das moedas digitais, como o euro digital, está praticamente tudo por definir, nomeadamente qual o modelo e atributos das moedas digitais e o papel dos bancos nesse processo. Questionam as vantagens concretas do euro digital face à moeda eletrónica. "Hoje, todos utilizamos moeda eletrónica, que é desmaterializada, segura, facilmente transferida ou utilizada para pagar, e com custos de transação baixos. São números nas nossas contas, utilizados por cartões sem contacto ou o próprio telemóvel. Isto é, a moeda normal hoje já é totalmente eletrónica", referem Paulo Costa Martins e Joana Mota Agostinho.

Stablecoins

Nuno Sousa, head of Business Development Financial Services da Claranet Portugal, defende que a adoção de emissão de moedas digitais pelos bancos centrais, como, por exemplo, o euro digital, é inevitável e poderá representar o início de um sistema mais ágil e seguro na transmissão de liquidez, existindo assim um poder de atuação superior ao do que existe atualmente".

Pensando nos principais impactos no sistema financeiro e nas empresas da emissão de moedas digitais pelos bancos centrais, como o euro digital, Norberto Rosa considera a necessidade de reduzir os impactos sobre a estabilidade financeira e o regular funcionamento da economia.

O que implica "mitigar o risco de uma eventual transferência de depósitos de bancos comerciais para o euro digital, que teria um impacto sobre o financiamento dos bancos, originando um aumento nas taxas de juro dos empréstimos concedidos e prejudicando a sua capacidade de concessão de crédito". Depois a desintermediação poderá ter "efeitos significativos na capacidade de avaliação do risco e, por conseguinte, na qualidade das carteiras de crédito", se a solução não assegurar "a realização das transações do cliente através do sistema bancário".

As stablecoins surgiram para contornar o problema da grande volatilidade e risco associado às criptomoedas. "Têm um valor mais estável na medida em que estão indexadas a ativos reais de elevada liquidez, como moedas de bancos centrais ou dívida soberana. No entanto, as stablecoins também estão sujeitas a riscos, nomeadamente o risco de desvalorização ou de liquidez dos ativos subjacentes. Um potencial crescimento da utilização de stablecoins, nomeadamente para efetuar pagamentos, poderá também representar riscos ao nível da estabilidade financeira e sistema de pagamentos", sublinha Norberto Rosa, secretário-geral da Associação Portuguesa de Bancos.