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Empresas revelaram uma forte consciência social

O secretário de Estado da Economia considera que o facto de muitas empresas terem reorientado a sua produção, em resposta à pandemia de covid-19, demonstra “a capacidade tecnológica e de gerar valor existente em Portugal”.

30 de Abril de 2020 às 15:00
João Correia Neves, secretário de Estado da Economia José Paulo Soares
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João Correia Neves sublinha que 300 empresas já se inscreveram como fornecedoras do SNS e diz que esta crise mostra que "a densidade das instituições tecnológicas e a qualidade das interações com as empresas tem de ser fortemente acrescida".

Bastantes empresas têm apostado na reconversão da sua produção, adaptando-as às necessidades que emergiram com a pandemia de covid-19. Qual a avaliação que faz deste processo?
As empresas portuguesas nos momentos mais difíceis demonstram uma grande capacidade de adaptação às necessidades do mercado. Essa flexibilidade produtiva permitiu um crescimento sustentado da nossa economia, nos anos mais recentes, e o forte acréscimo das exportações no PIB. Assistimos agora a mais uma demonstração desta resiliência, com uma mobilização massiva do tecido empresarial para contribuir para este esforço coletivo de resposta à atual pandemia. Mais de 300 empresas inscreveram-se como fornecedoras do SNS para produtos como máscaras, viseiras, gel desinfetante, batas, luvas. Também diferentes iniciativas de desenvolvimento de dispositivos médicos, em particular ventiladores, estão atualmente em curso, com soluções invasivas a serem desenvolvidas sobretudo no CEIIA, e com outras iniciativas igualmente importantes no INESC TEC, no INEGI e nos Institutos Politécnicos de Leiria e Viseu. Empresas do têxtil e vestuário, assim como dos moldes, têm estado muito ativas. Mas também a Hovione ou a Licor Beirão, entre muitas outras, se destacam ao nível do gel desinfetante. E estou certo de que teremos novas soluções a partir de empresas químicas nesta área. É um orgulho termos empresas em que a consciência social é tão forte, mas também de sublinhar a orientação para oferecer novas soluções às necessidades do mercado, demonstrando a capacidade tecnológica e de gerar valor existente em Portugal.

Muitas empresas foram forçadas a dar um salto tecnológico que, de outra forma, seria muito mais prolongado no tempo. Estas transformações poderão ter um impacto positivo no futuro?
A resposta das empresas na reorientação dos seus produtos para o combate à pandemia pode ser uma realidade não apenas conjuntural, constituindo uma área de negócio mais expressiva no futuro, articulando de forma mais virtuosa as necessidades do sistema nacional de saúde e a oferta de bens das capacidades internas, diminuindo assim a dependência externa do país. Mas gostava de realçar um ponto essencial que valoriza o papel das infraestruturas tecnológicas e doutros centros de I&D. Em apenas um mês os pedidos entrados no CITEVE de novos materiais e/ou de conformidade de novos produtos ultrapassaram todas as expectativas, correspondentes ao trabalho de muitos meses. Conseguimos, em tempo recorde, desenvolver um protótipo de ventilador, com tecnologia 100% portuguesa e talento 100% nacional, que está prestes a ser disponibilizado às instituições de saúde.

Esta crise vai ditar uma nova política industrial à escala nacional e europeia. Quais poderão ser os seus contornos?
Esperemos que sim. É vulgar no epicentro das crises dizer que irá haver mudanças, mas desta vez tudo parece diferente. A nossa responsabilidade, de todos, é de construir soluções novas. Temos claro de considerar uma economia aberta, em que as exportações têm um enorme peso, as quais na verdade compensam um mercado interno exíguo, não podemos de forma leviana construir pseudo-soluções de natureza protecionistas. Mas também é claro que Portugal e a União Europeia têm de ser capazes de ter uma política industrial orientada para as mudanças, as transições ambiental e energética, e para a generalização do digital como estruturante da vida social e económica, mas também para as dimensões concorrenciais face a outras geografias, e de autonomia estratégica. Esperemos que sejam lições que possam ser aprendidas. E isso também significa que a densidade das instituições tecnológicas e a qualidade das interações com as empresas têm de ser fortemente acrescidas. Na verdade, internamente queremos apenas cumprir aquilo que já nos propúnhamos concretizar. Mas agora com um sentido de urgência e de promoção de impacto mais acrescida.

De que forma o Ministério da Economia pode e está a apoiar a recuperação do tecido empresarial?
Já foram lançados avisos específicos no âmbito do PT2020 para apoiar as empresas, os centros tecnológicos e outras entidades no desenvolvimento de novos produtos e na adaptação de produções. O objetivo é apoiar a muito curto prazo investimentos próximos de 100 milhões de euros para projetos a desenvolver durante este ano, com claro privilégio daqueles que possam ser concretizados nos próximos dois meses, dirigidos para a produção de máscaras, viseiras e outros equipamentos de proteção individual, assim como vacinas ou outros medicamentos e dispositivos médicos associados ao combate à pandemia.

Que papel terão a internacionalização e as exportações num contexto de recuperação vindouro?
Só poderemos ter um futuro de desenvolvimento económico reforçando a nossa aposta na inovação de produtos e serviços para o mercado global.