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E se em vez da covid-19 tivesse sido um vírus informático e os EUA fechassem as fronteiras?

Pensar a cibersegurança nacional é pensar em termos de defesa da nação, da sua soberania, defendeu Henrique Martins. A soberania nacional da cloud é importante, concorda António Miguel Ferreira.

31 de Março de 2020 às 14:00
A decisão de Donald Trump de fechar as portas a europeus cria mais um problema à TAP.
Doug Mills/EPA
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"Imagine-se que em vez de ser a covid-19, tivesse sido um vírus informático e que os Estados Unidos tivessem fechado as suas fronteiras informáticas, como é que Portugal ficava?", perguntava-se Henrique Martins. Acrescentava que "não podemos ter serviços críticos, e os sistemas de saúde são serviços críticos da nação, na dependência da tecnologia de um Estado que não seja Portugal. Temos experiência do encerramento de fronteiras físicas, e até agora ninguém fechou as fronteiras cibernéticas. Mas o fecho destas fronteiras tem provavelmente mais impacto nas pessoas do que se calhar o fecho das fronteiras físicas".

Hoje estão a fechar-se as fronteiras físicas para combater um vírus biológico, mas quando "tivermos um problema idêntico cibernético suspeito que tenham ideias do mesmo género mas no cibermundo. Fechar e abrir fronteiras físicas é algo que se faz há dois mil anos, agora fechar e abrir fronteiras cibernéticas em grande escala será uma novidade".

Quando houver necessidade de tomar medidas musculadas de cibersegurança, Portugal tem de ter uma infraestrutura com o pressuposto de que teria de funcionar sozinho. "Se o SNS não fosse português, fosse em outsourcing, talvez uma cloud de um serviço espanhol, já viram o que seria de nós neste momento? Não tínhamos ninguém para tomar conta de nós neste momento", disse Henrique Martins.

Requisição de data centers

A soberania nacional da cloud é importante, concorda António Miguel Ferreira. Salientou que a empresa Claranet oferece tanto a migração para clouds públicas internacionais, que estão em data centers na Holanda, na Inglaterra, Estados Unidos, que são as chamadas clouds públicas da Amazon, Microsoft, da Google, da Alibaba geridas por entidades que não estão no âmbito de Portugal nem da União Europeia, mas também oferecem soluções de clouds que estão em território nacional, com data centers em Loures, Lisboa e Ermesinde. "Estes podem ser objeto de uma requisição civil por parte do Estado se se considerar que são infraestruturas críticas nacionais", sublinhou António Miguel Ferreira

Na sua opinião, deveria ser definido quais são os sistemas críticos que deveriam estar geograficamente próximos com os dados localizados em território nacional e os sistemas menos críticos em plataformas externas, que tenham outro tipo de vantagens. "Quando suportamos banca online, produção industrial, banco de Portugal usamos apenas recursos nacionais não só tecnológicos mas também humanos", exemplificou o presidente da Claranet Portugal.