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Os bancos centrais assumiram o controlo dos mercados globais, no rescaldo da crise financeira de 2008. Mas, oito anos depois, os estímulos monetários começam a dar sinais de estar a falhar. Face à ineficácia destas medidas, os especialistas argumentam que cabe agora aos Governos tomar a dianteira, através da implementação de reformas e medidas de estímulo orçamental, cortando impostos e aumentando o investimento.
Nunca os bancos centrais injectaram tanta liquidez nos mercados. Só o BCE tem no mercado um programa de compra de activos superior a um bilião de euros. Valores significativos que nem por isso têm conseguido sustentar a recuperação da economia global. "Os estímulos monetários tornaram-se ineficientes", defende John Hardy, na conferência "Análise de Mercados Financeiros", que teve lugar no passado dia 24 de Setembro, em Lisboa.
O especialista argumenta que além de terem sido incapazes de promover a retoma económica, os "bancos centrais estão a destruir os mercados financeiros". Numa crítica directa às instituições monetárias, John Hardy realça que os programas de estímulos sem precedentes e as taxas negativas têm consequências: distorções e ineficiências na alocação dos recursos financeiros, perdas de rentabilidade na banca, desigualdade económica e défices crescentes nos fundos de pensões.
Recessão a caminho?
Apesar dos malefícios das medidas monetárias nos mercados, os bancos centrais deverão manter uma tónica expansionista. Mas, esta não será a solução. E uma recessão é mesmo uma das possibilidades admitidas por Hardy. "O risco de se continuar a imprimir dinheiro é que a dada altura vai ser preciso subir juros e os preços dos activos vão colapsar", alerta. Num momento em que o mercado está minado por vários riscos, nomeadamente políticos, o estratego alerta que "vão ser necessárias reformas orçamentais". Apenas assim se poderá resolver a falta de produtividade e "sair do foco dos bancos centrais".
Alemanha no "olho do furacão"
Mas, como podem os Governos altamente endividados enfrentar os problemas recorrendo a estímulos orçamentais? Para John Hardy este não é um problema. No caso de Portugal, "toda a dívida não é detida por portugueses". As obrigações nacionais estão, na maioria, nas mãos de investidores alemães, pelo que estes serão os mais penalizados por um colapso da dívida portuguesa.
E será também a economia alemã a mais penalizada por um cenário de recessão. Se até aqui as exportadoras alemãs têm sido a mais beneficiadas pelo aumento da sua competitividade e por um euro fraco, num quadro de contracção da economia "as exportadoras serão as mais penalizadas". Face a esta situação, Hardy prevê que os países sejam obrigados a reconhecer que é preciso dar poder de fogo aos governantes e deixar descolar os helicópteros de dinheiro nas economias, de modo a que comece a haver inflação real.
"As coisas vão ser voláteis, mas temos que entrar no próximo comboio e ver os Governos a fazer as coisas bem", argumenta o responsável pela estratégia cambial do Saxo Bank. Ainda assim, poderá demorar a chegar a este cenário. Garantida está, para já, a volatilidade. Com as presidenciais à porta e o candidato republicano Donald Trump a ganhar popularidade, Hardy alerta para os potenciais efeitos negativos de uma eleição de Trump. Menos de meio ano depois do referendo britânico que aprovou o Brexit, as presidencias nos EUA podem voltar a abalar os mercados financeiros.
Nunca os bancos centrais injectaram tanta liquidez nos mercados. Só o BCE tem no mercado um programa de compra de activos superior a um bilião de euros. Valores significativos que nem por isso têm conseguido sustentar a recuperação da economia global. "Os estímulos monetários tornaram-se ineficientes", defende John Hardy, na conferência "Análise de Mercados Financeiros", que teve lugar no passado dia 24 de Setembro, em Lisboa.
Os bancos centrais estão a destruir os mercados financeiros. Não interessa quantos activos compram, não são suficientes para impulsionar a economia.
O risco de se continuar a imprimir dinheiro é que a dada altura vai ser preciso subir juros e o preço dos activos vai colapsar. John Hardy Responsável pela estratégia cambial do Saxo Bank
O responsável pela estratégia de mercados cambiais do Saxo Bank acredita que estamos "num ponto de inflexão nos mercados por causa da uma mudança de política monetária". E para o especialista é altura de lançar mão aos helicópteros de dinheiro e aos estímulos orçamentais, mas desta vez pela mão dos Governos. Falhada a intervenção das autoridades monetárias, John Hardy diz que "o foco está agora nos Governos" e terão que ser os Executivos a promover as medidas para restabelecer a competitividade e suportar o crescimento.O risco de se continuar a imprimir dinheiro é que a dada altura vai ser preciso subir juros e o preço dos activos vai colapsar. John Hardy Responsável pela estratégia cambial do Saxo Bank
O especialista argumenta que além de terem sido incapazes de promover a retoma económica, os "bancos centrais estão a destruir os mercados financeiros". Numa crítica directa às instituições monetárias, John Hardy realça que os programas de estímulos sem precedentes e as taxas negativas têm consequências: distorções e ineficiências na alocação dos recursos financeiros, perdas de rentabilidade na banca, desigualdade económica e défices crescentes nos fundos de pensões.
Recessão a caminho?
Apesar dos malefícios das medidas monetárias nos mercados, os bancos centrais deverão manter uma tónica expansionista. Mas, esta não será a solução. E uma recessão é mesmo uma das possibilidades admitidas por Hardy. "O risco de se continuar a imprimir dinheiro é que a dada altura vai ser preciso subir juros e os preços dos activos vão colapsar", alerta. Num momento em que o mercado está minado por vários riscos, nomeadamente políticos, o estratego alerta que "vão ser necessárias reformas orçamentais". Apenas assim se poderá resolver a falta de produtividade e "sair do foco dos bancos centrais".
Alemanha no "olho do furacão"
Mas, como podem os Governos altamente endividados enfrentar os problemas recorrendo a estímulos orçamentais? Para John Hardy este não é um problema. No caso de Portugal, "toda a dívida não é detida por portugueses". As obrigações nacionais estão, na maioria, nas mãos de investidores alemães, pelo que estes serão os mais penalizados por um colapso da dívida portuguesa.
E será também a economia alemã a mais penalizada por um cenário de recessão. Se até aqui as exportadoras alemãs têm sido a mais beneficiadas pelo aumento da sua competitividade e por um euro fraco, num quadro de contracção da economia "as exportadoras serão as mais penalizadas". Face a esta situação, Hardy prevê que os países sejam obrigados a reconhecer que é preciso dar poder de fogo aos governantes e deixar descolar os helicópteros de dinheiro nas economias, de modo a que comece a haver inflação real.
"As coisas vão ser voláteis, mas temos que entrar no próximo comboio e ver os Governos a fazer as coisas bem", argumenta o responsável pela estratégia cambial do Saxo Bank. Ainda assim, poderá demorar a chegar a este cenário. Garantida está, para já, a volatilidade. Com as presidenciais à porta e o candidato republicano Donald Trump a ganhar popularidade, Hardy alerta para os potenciais efeitos negativos de uma eleição de Trump. Menos de meio ano depois do referendo britânico que aprovou o Brexit, as presidencias nos EUA podem voltar a abalar os mercados financeiros.