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António Coutinho: "Queremos ajudar as empresas a poupar energia"

A redução da factura energética é uma prioridade para as PME, mas também para a EDP. A EDP Comercial aposta numa melhor gestão energética e nas renováveis para reduzir o custo da energia.

12 de Julho de 2016 às 10:44
Bruno Simão
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A presença das Pequenas e Média Empresas (PME) no mercado liberalizado de electricidade e gás é já uma realidade. No entanto, há ainda muito por onde melhorar no que à gestão energética diz respeito. Na próxima quinta-feira decorre o seminário "A Gestão de Energia nas PME", organizado em parceria pelo Negócios e pela EDP. António Coutinho, administrador da EDP Comercial, antecipa algumas das questões que serão abordadas no seminário.

O custo da electricidade é apontado como factor de bloqueio à competitividade das empresas nacionais. Tendo em conta o actual contexto legislativo, o que pode fazer o grupo EDP para diminuir esse custo?
Falamos muitas vezes no preço da energia e a energia é associada a electricidade. Em termos do preço da electricidade para as empresas, Portugal está abaixo da média europeia. Mas quando comparamos com o gás, o nosso gás é o segundo mais caro da Europa. E ninguém fala do gás.

Dados do Eurostat mostram que no segundo semestre de 2015 o preço de electricidade ajustado ao poder de compra em Portugal é o mais alto da UE.
A questão é quanto é que me custa a mim a electricidade. Se temos um baixo poder de paridade de compra, a electricidade é mais cara proporcionalmente para mim. Electricidade é aço, betão, taxa de juro e combustíveis fósseis. Tudo isto são indicadores internacionais. Um Fiat Punto, com o mesmo valor absoluto, é mais caro em Portugal do que no Norte da Europa? Não, tem o mesmo preço, mas proporcionalmente custa-me mais comprar.
perfil Das eólicas para a EDP Comercial António Coutinho, licenciado em Engenharia Civil e mestre em Investigação Operacional (ambos os graus obtidos no Instituto Superior Técnico), é actualmente administrador da EDP Comercial, uma empresa do grupo EDP que opera no mercado liberalizado de electricidade, gás e serviços. Antes de entrar para o grupo EDP em 2003, Coutinho trabalhou na The Boston Consulting Group. No grupo EDP foi director de planeamento energético, passando depois para a administração da filial norte-americana da EDP, onde entre 2007 e 2010 foi responsável pela gestão dos parques eólicos nos Estados Unidos.

O problema é sermos uma pequena economia à escala europeia?
É esse o ponto. Porque o problema da paridade de compra também se coloca ao nível de bens essenciais como o leite. Temos um problema de poder de compra e a única forma de o resolvermos é fazendo crescer a nossa economia.

Como é que o mercado livre pode contribuir para o reforço da competitividade das PME?
Um dos focos do seminário é ser tão concreto quanto possível em explicar como podemos ajudar as empresas a poupar.

Pode antecipar alguma coisa?
Sim. Há o preço e a quantidade. As oportunidades ao nível da quantidade são enormes. E ao nível do preço também existem. Podemos optimizar a escolha da potência que um cliente precisa, a forma como consome energia e a que horas. Assim é possível baixar o preço.

Uma utilização inteligente?
Utilização mais consciente da energia. E na sua forma de competir, o mercado livre procura encontrar outras formas de melhor servir o cliente. Uma é perceber de que forma posso baixar o preço. Depois é possível actuar muito ao nível da quantidade: ajudar o cliente a produzir a sua própria energia e a encontrar as melhores soluções para a sua iluminação. Como a energia atravessa qualquer negócio, olhar para a forma como consumimos energia é uma oportunidade muito grande de melhorar a competitividade das empresas, pelos custos, mas pelos proveitos também.

O mercado livre traduz-se numa redução dos custos unitários de electricidade para as PME?
Seguramente. E pode-se dizer de várias formas. A primeira é que a competição entre os agentes vai levá-los a procurar formas de reduzir o preço. Outro é tentar criar uma série de formas ao nível da quantidade que vão baixar a factura. Nós quando olhamos para o mercado liberalizado focamo-nos sempre no preço. Mas o que interessa ao cliente é baixar a factura, e a factura é o produto de preço vezes quantidade. E a competição traz inovação. Primeiro a competição faz-se no preço mas, a partir de determinada altura, o preço não pode ser melhorado. É aí que a inovação que resulta da competição vai procurar outras formas de satisfação do cliente.

"Vamos ter de apostar mais na electricidade"   No entender de António Coutinho, Portugal tem vários motivos para se orgulhar da aposta feita nas energias renováveis. Em especial pela capacidade demonstrada ao nível da gestão de activos energéticos numa situação de mercado. O administrador da EDP Comercial considera que a aposta na electrificação da economia portuguesa será "inevitável".

Como descreve o ritmo desta crescente aposta nas energias renováveis e consequente impacto na sustentabilidade financeira e ambiental?
Portugal foi notícia a nível internacional, há não muito tempo, por ter estado quatro dias a ser satisfeito por energias renováveis. É um tema de que nos devemos orgulhar. Também porque, por tecnologia e conhecimento, conseguimos gerir esses activos numa situação de mercado. O que envolve não só os detentores dos parques eólicos, etc., mas também a própria rede que tem um papel essencial em conseguir fazer essa gestão.

E fá-la bem?
Sim e nós, portugueses, devemos orgulhar-nos. Não é só estarmos na linha da frente do ponto de vista de termos bastantes renováveis em Portugal, de a EDP ser um dos líderes mundiais de renováveis - é preciso ter conhecimento desse aspecto -, isso resulta de uma aposta e do saber responder que as empresas portuguesas garantem.

Qual é a importância desta realidade para o reforço da competitividade das PME?
Portugal tem uma dependência energética do exterior muito significativa. Esse é um problema. Outro problema é que a nossa intensidade energética - a energia que precisamos para fazer 1 euro de PIB - é mais elevada, o que significa que preciso de muita energia para produzir alguma riqueza. E se é preciso ir comprar essa energia fora e os preços no exterior sobem, não consigo responder e tenho um problema económico. Uma parte importante da nossa balança comercial é energia e sempre que o preço do petróleo sobe isso tem um impacto no nosso PIB e no crescimento.

Devíamos apostar mais na electricidade?
Claramente vai ter de se apostar mais.

Os Estados Unidos têm apostado na gaseificação da economia, também devido à exploração do xisto betuminoso.
Porque têm gás autóctone. Porque têm a sua própria energia. Mas de qualquer maneira, a descarbonização para ultrapassar o problema das alterações climáticas vai passar pelo aumento da electrificação. É a forma mais eficiente de consumir energia. Sabemos que vai haver uma electrificação da economia.

É inevitável?
Sim e para Portugal isso é uma boa notícia porque permite-nos aumentar a nossa independência energética face ao exterior.

Mediante a aposta nas renováveis?
E também na electrificação. Por exemplo, ao apostar na mobilidade eléctrica estou a deixar de consumir petróleo e estou a começar a consumir electricidade que pode ser produzida pelos meus parques eólicos. É essa a importância porque quando falamos em parques eólicos falamos em investimentos feitos em Portugal, por portugueses. É muito importante esta ligação: descarbonização-electrificação-aumento da independência energética.