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A importância dos dados e da inteligência artificial

Nos últimos anos, tem havido inovação tecnológica que classifica e caracteriza as doenças hematológicas e que permitem usar terapêuticas-alvo, com melhores resultados e com menos efeitos colaterais.

10 de Outubro de 2022 às 18:00
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"A hematologia tem sido pioneira, porque foi numa doença hematológica, a leucemia mieloide crónica, que primeiro identificou uma alteração molecular, que depois serviu para procurar uma molécula e construir moléculas de medicamentos", afirmou José Mário Mariz, diretor do Serviço de Onco-Hematologia, Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto e membro da Comissão de Avaliação de Tecnologias da Saúde (CATS) do Infarmed.

Há quase 20 anos que se usa uma terapêutica de precisão nesta doença e com a primeira molécula introduzida, deu-se uma transformação completa da história natural da leucemia mieloide crónica, em que os doentes, que morriam ao fim de dois ou três anos com as anteriores terapêuticas, passaram a ter uma sobrevivência idêntica à das pessoas que não têm a doença. "Foi um dos grandes avanços na medicina de precisão", considera José Mário Mariz.

Entretanto ganharam importância os estudos de genética molecular, sobretudo com o NGS (Next-Generation Sequencing), "que permite que se procure ao mesmo tempo dezenas de alterações genéticas numa determinada doença para que se percebe e encontre alguma dessas seja alvo de uma terapêutica específica", revela José Mário Mariz.

Novos tratamentos

Como explica José Mário Mariz, as outras doenças, tanto as hematológicas como as outras doenças malignas, têm muitas alterações ao mesmo tempo, o que dificulta a seleção e a construção de terapêuticas dirigidas.

"Neste caso, a inteligência artificial vai permitir trabalhar os dados porque são milhares de dados ao mesmo tempo e que só têm significado se vistos no conjunto, individualmente não consigo ver se um doente que tem cinco mutações é muito diferente de um que tem dez ou vinte, mas quando se juntar essa ‘big data’, a inteligência artificial vai-nos permitir perceber melhor estes padrões de resposta e de evolução."

A terapia celular com células CAR-T, que no IPO do Porto existe desde 2019, é outra das inovações no campo do tratamento das doenças hematológicas, nomeadamente nos linfomas agressivos e nas leucemias agudas. "Foi um avanço excecional mas que está longe de resolver todos os problemas dos doentes que têm cancro, mas melhorou significativamente e temos doentes que estão vivos e a trabalhar, a produzir e a contribuir para a sociedade que não estariam se esta tecnologia não tivesse sido atualizada", conclui José Mário Mariz.