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A aceleração da economia e a inteligência artificial

A chave do crescimento da economia portuguesa está na aceleração dos processos e no aproveitamento dos fundos comunitários e linhas de investimento que estão disponíveis para a economia.

15 de Julho de 2024 às 14:00
Rui Menderico
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"Considero este pacotão ambicioso, mas passa-nos ao lado, porque não vejo as palavras que são a chave em qualquer país moderno do século XXI, faltam as palavras ‘inteligência artificial’. Queremos fazer crescer a produtividade para aumentar a competitividade, mas a única ferramenta que consegue tocar não só a produtividade, mas todos os eixos do plano económico do Governo, exceto o fiscal, é a inteligência artificial", disse Daniela Braga, CEO da Defined.ai, empresa tecnológica na área dos dados e da inteligência artificial, na mesa-redonda sobre o tema da Competitividade nas Millennium Talks, que se realizaram em Lisboa. No centro do debate esteve o plano "Acelerar a Economia - Crescimento, Competitividade, Internacionalização, Inovação e Sustentabilidade", que contém sessenta medidas, apresentado pelo Governo a 4 de julho.

Luís Montenegro, primeiro-ministro, respondeu que "a inteligência artificial falta no programa porque ele foi feito por nós, não foi feito artificialmente, mas estamos muito atentos a esse domínio". Mas Joaquim Cabaço, CEO da Trivalor, um grupo de mais de dez empresas, sendo um dos grandes empregadores em Portugal com cerca de 22 mil colaboradores, não deixou de sublinhar que, apesar de não ser um especialista, "a inteligência artificial é algo com que vamos ter de conviver como com o ar que respiramos, é algo que teremos de incorporar em todos os nossos processos e formas de trabalho".

"Estas medidas não estão regulamentadas, não estão legisladas", advertiu Joaquim Cabaço, mas considerou que a diminuição do IRC, a ausência de imposto de selo nas operações de tesouraria, a aceleração da economia circular, o pagamento a 30 dias aos fornecedores do Estado, são medidas positivas tal como a revisão do regime de dedutibilidade fiscal do "goodwill". Neste caso considerou que "para a Trivalor e o tecido empresarial português, o ‘goodwill’ deveria ser tratado de uma forma diferente em termos fiscais para contribuir para uma maior concentração empresarial, uma maior dimensão das empresas, e uma maior competitividade para o país".

Programa positivo

Joaquim Cabaço chamou a atenção para a necessidade de validação e verificação da definição do referencial de verificação dos relatórios de ESG com a inclusão dos critérios de ESG no acesso tanto a incentivos como a contratos públicos "para evitar concorrência desleal". Observou, hoje, que quem cumpre e aplica a agenda ESG confronta-se com "com concorrentes que, por exemplo, fazem dumping social nos pagamentos de salários, no cumprimento de regras, por isso é que o ESG não pode ser mais um fator de diferenciação negativa no nosso caso".

Para Orfeu Flores, CEO da STAB Vida, este programa "no seu todo é muito positivo, traz medidas que favorecem e até aceleram, e penso que a chave da nossa economia está na aceleração dos processos". A sua empresa, que faz análise genética ou genómica, "que cresce de uma forma exponencial", referiu Orfeu Flores, tem muita mão de obra altamente qualificada, por isso lhe interessam os incentivos à contratação de doutorados, e a atração de talento, "o brain gain é reconhecido por este pacote, tal como brain drain. Os 20% de IRS podem ser um atrativo para fazer o brain gain e é bom para as pessoas e as empresas em geral."

O Banco Português de Fomento lançou as Linhas de Financiamento de Garantia BPF InvestEU, num investimento total de 3,6 mil milhões de euros no passado dia 5 de julho, que se repartem por três grandes linhas, como referiu Ana Carvalho, presidente executiva do Banco Português de Fomento. Uma é de apoio às PME e midcaps nas suas necessidades de fundo de maneio, investimento sustentável, digital; outra é uma linha direcionada para o I&D, sendo a última linha relacionada com a mobilidade elétrica e sustentável com uma lógica de descarbonização e eficiência energética nos transportes. "As linhas foram lançadas com grande fit para aquilo que são as necessidades da economia portuguesa depois, ao contrário de outras linhas passadas, estas abrangem pequenas e médias empresas e ‘small and mid cups’, o que significa que uma empresa com 251 trabalhadores não fica excluída porque desta vez, com este produto, as empresas até 3.000 trabalhadores são abrangidas", referiu Ana Carvalho.

As linhas e os milhões

Estas linhas fazem parte dos instrumentos de ajuda financeira de apoio ao investimento, sendo objeto da comunicação de Gonçalo Regalado. Este salientou que os incentivos comunitários do PRR, Portugal 2030, e o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum para o período de 2021-2029 representam um valor de 55 mil milhões de euros, implicando um investimento da economia portuguesa num total de 100 mil milhões de euros, dos quais, quase 40 mil milhões, serão realizados entre 2024 e 2026.

"Somos relevantes quando conhecemos o negócio do nosso cliente em detalhe e as suas necessidades em concreto. Não temos soluções genéricas", revelou João Nuno Palma, vice-presidente do Millennium bcp, sendo um ator-chave nesta disseminação de investimentos. Salientou haver uma mudança estrutural "do ponto de vista das empresárias e empresários portugueses, que depois se reflete nas empresas". Esta mudança tem-se notado na capacidade de recuperação da economia às várias crises, que não se deve "às políticas públicas", assinala João Nuno Palma.

"A constante das recuperações foi sempre as empresas, os empresários, que conseguiram alargar a amplitude daquilo que foi a nossa economia e alargámos a geografia das nossas exportações, que representam 53% do PIB".