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A sustentabilidade tem de ser rentável

“O meu ponto não é que basta ser verde, tem de se ser rentável e ter impacto. Não se pode ter sustentabilidade se não se é rentável, tem de haver lucro, que é a chave, depois disso, o modelo de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) é a base”, refere Pierre Rousseau.

28 de Outubro de 2021 às 14:30
Bruno Colaço
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Com o estabelecimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável de metas, como a descarbonização, com objetivo de emissões zero até 2050, os compromissos são globais, e incluem as empresas, que estão à procura de soluções. Como refere Pierre Rousseau, "a eficiência energética pode ser financiada pelo balanço das empresas, mas quando se trata das emissões de carbono na sua cadeia de abastecimento, é muito mais complicado. Como é que vão financiar isso? A cadeia de abastecimento, se der o exemplo da indústria do algodão, se tem um fornecedor de algodão proveniente de Marrocos ou do Paquistão ou Índia, como é que garante que o algodão é livre de emissões carbónicas, esse será o verdadeiro desafio que as empresas irão ter, porque afeta também o seu próprio modo de produção e modelo de negócio".

Sustainable finance é sobre as empresas, mas é também sobre os investidores, os indivíduos, porque, por exemplo, os fundos de pensão vão ter de ter investimentos livres de carbono. "Ver que hoje em dia a comunidade inteira caminha para a descarbonização levará a soluções", considera Pierre Rousseau. Mas alerta que tudo "tem de se manter rentável, não se pode fazer sustentabilidade se não criarmos crescimento. Não dissemos que tínhamos de reduzir o crescimento, dissemos que temos de fazer um crescimento sustentável, o que significa que não é apenas reduzir, temos de continuar a procurar por novas oportunidades de negócio".

O cerne da questão para Pierre Rousseau é como criar um novo modelo de negócio que continue a gerar um crescimento sustentável, e, ao mesmo tempo, trate de alterações climáticas, da perda de biodiversidade e das desigualdades. "É a equação que temos de medir, temos de arranjar".

Verde, rentável e com impacto

Pierre Rousseau considera que um banco como o BNP Paribas, como financiador, tem de ser muito mais seletivo e financiar os ativos certos e o comportamento certo. "A seleção de ativos onde aplicamos o capital é muito importante, temos de alocar o capital onde se haverá um bom retorno a curto prazo, mas também no longo prazo, e por isso integrar, é aqui que nós devemos ser criativos, a avaliação das externalidades. Dou-lhe um exemplo, se tem um negócio que está a capturar mais carbono, a gerar biodiversidade, deve ser premiado por isso e ser pago, se está a poluir deve ter de pagar. É a distinção entre bons negócios e os maus negócios", afirmou Pierre Rousseau. Hoje a sustentabilidade faz parte da modelo de negócios, não é apenas uma opção, é como a tecnologia, faz parte integrante da empresa e do negócio.

"O meu ponto não é que basta ser verde, tem de se ser rentável e ter impacto. Não pode se pode ter sustentabilidade se não se é rentável, tem de haver lucro, que é a chave, depois disso, o modelo de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) é a base. Para ser sustentável tem de ser ambientalmente, socialmente e em termos de governança cumpridor. Depois tem de se criar um impacto positivo, o que significa que gera lucro mas, ao mesmo tempo, usa a natureza como uma alavanca sem a destruir, defende Pierre Rousseau.

Pierre Rousseau deu um exemplo de um projeto em que o BNP Paribas está envolvido e que é a proteção da costa do Vietname por mangais em vez de betão porque este em pouco mais de vinte anos fica destruído, por causa das ondas e do mar. Com os mangais usa-se uma técnica de plantação para fazer uma parede, "que terá o mesmo impacto de reter e proteger a costa que o betão, mas daqui a 20 anos ainda estará lá, mas ao mesmo tempo irá captar 50 vezes mais emissões carbónicas que o betão e irá ajudar a absorver o carbono por parte do solo. Dá origem ao crédito carbónico uma receita adicional para as pessoas, quando hoje em dia uma parede de betão gera zero receitas".

Em relação a Portugal refere que é um dos países lideres na Europa nas energias renováveis e com alguma tecnologia que tem sido reconhecida por todo o mundo, como a Offshore Wind por exemplo. Portugal é ainda muito virada para a agricultura e também devemos ter em mente que Portugal está numa área onde é muito afetado pelo calor, e os problemas climáticos, Espanha, Portugal, México, todo o Sahara, estamos todos na área onde a seca virá daqui a pouco tempo. Penso que o que será importante em Portugal será provavelmente acelerar a regeneração de quintas, a maneira como conseguimos transformar a agricultura, de forma a manter mas de uma melhor forma. Em adição aquilo que tem sido feito na indústria, e é trabalhar na eficiência energética, portanto, ainda consegue ver imenso trabalho para ser feito em edifícios, muitos dos novos edifícios são muito cumpridores, mas os antigos ainda são muito ineficientes em termos de energia. Portanto, comida, comida e energia, e provavelmente desenvolver turismo de sustentabilidade, o turismo de sustentabilidade será muito importante, ter a certeza que conseguimos respeitar a natureza do país, este país é fantástico em termos de natureza, temos de desenvolver turismo, mas temos de fazer de uma maneira que respeitemos a natureza, e eu penso que este é um dos desafios que está por vir.