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Inflação com crescimento económico pode ser bom para desendividar

José Miguel Calheiros considera que, com os elevados níveis de dívida pública, a saída só vai ser possível se houver alguma inflação que permita que em termos reais a dívida pública baixe.

14 de Junho de 2021 às 15:30
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"O objetivo de sairmos de um cenário de deflação ou de desinflação onde vivemos sobretudo na Zona Euro nos últimos 10 anos é algo que tem sido um objetivo que não temos sido capazes de atingir ou que os bancos centrais não têm sido capazes de atingir, nomeadamente na Zona Euro, e também nos últimos anos nos Estados Unidos da América, na zona monetária do dólar", afirmou José Miguel Calheiros, diretor-geral do Bankinter-Gestión de Ativos.

Acrescenta que neste enquadramento a inflação é boa, "no sentido em que está acompanhada de uma retoma de crescimento económico e seria utópico pensar que depois de termos parado por completo as economias no último ano, que uma retoma com esta magnitude não gerasse pressões inflacionistas, porque na prática temos a oferta em muitos setores de atividade a arrancar hoje, e a arrancar não é de 10/20 é de 0 em muitos casos".

José Miguel Calheiros admite que há um risco de descontrolo, mas é um risco que os bancos centrais sentem que têm ferramentas para controlar. Considera que com os elevados níveis de dívida pública, a saída só vai ser possível se houver alguma inflação que permita que em termos reais a dívida pública baixe.

II Guerra Mundial

Mergulha na história e recorda que "no final da II Guerra Mundial quer as economias europeias quer a norte-americana se foram desendividando em termos de rácios do PIB, à conta de uma inflação razoavelmente alta e a taxas nominais relativamente baixas, portanto, taxas reais ao fim ao cabo muito perto de zero e creio que isso é um fenómeno que nós vamos observar nos próximos anos".

O fenómeno da globalização tal como que se conhecia vai mudar, com implicações nas alterações das cadeias de distribuição e dos preços. Ao nível dos países ocidentais já se percebeu que as cadeias de distribuição têm de mudar e deixarem de ser centradas na zona de influência da China, há países que estão a beneficiar dessa desglobalização.

"É preciso ter capacidade in house para ser autónomo para suprir as necessidades, por exemplo, no chamado ouro digital, que é o semicondutor, o chip, o microchip que está em praticamente em tudo aquilo que utilizamos e fazemos e que por isso não se pode ficar dependente de Taiwan ou da Coreia do Sul e da capacidade que os principais produtores e que as principais fábricas tem hoje em dia de suprir o comércio mundial", explica José Miguel Calheiros.

Estas mutações globais impactam nos preços "porque aquilo que era importado ou consumido ou introduzido na cadeia de produção como bem intermédio a um determinado preço se calhar, em virtude de tudo isto e para já numa primeira fase de adaptação, vai ter de ser introduzido a um preço mais alto, seja porque passa a ser produzido localmente, seja porque a nível da cadeia de distribuição o ponto de partida é outro que não tipicamente a China e isso já é visível nalguns setores", assinala José Miguel Calheiros.