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Notícia

A importância de um banco central independente

Se houver descontrolo da inflação será importante que o banco central seja independente, e nos Estados Unidos, que é onde esse problema poderá existir, o banco central tomará as medidas para controlar a inflação.

14 de Junho de 2021 às 14:45
Mário Carvalho Fernandes considera que a inflação será um problema se for crescente.
Mário Carvalho Fernandes considera que a inflação será um problema se for crescente.
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"Era previsível, desde que foram conhecidas as eficácias das vacinas, que a economia iria ser relançada de forma sincronizada em todo o mundo e que isso ia gerar o surgimento de alguma inflação, no sentido de um aumento de preços pontual, que tem de haver tanto com o aumento da procura e ao mesmo tempo dos mesmos produtos que a oferta não consegue oferecer de imediato, e nós estamos agora nessa fase, em que estamos a observar esse aumento de preços", salienta Mário Carvalho Fernandes, CIO do Banco Carregosa.

"A inflação será só um problema se começarmos a ter uma inflação crescente, ou seja, se a inflação tiver um ano de 3% isso em si não será um problema, será um problema se no ano seguinte for 4% e no ano a seguir for 5%", disse Mário Carvalho Fernandes.

Os banqueiros centrais preferem lidar com um pouco de inflação a mais do que com inflação a menos, porque a inflação em certa medida é positiva, por isso é que o target da inflação é o 2% e não é zero. "Os desvios acima desse valor são relativamente fáceis porque existem instrumentos para os combater, mas retirar inflação de valores próximos de zero é mais complicado como vemos no caso do Japão, que mesmo com estímulos fiscais e com estímulos monetários, não foram capazes de lançar o processo inflacionista", analisa Mário Carvalho Fernandes.

O controlo da inflação por parte dos bancos centrais implica que tenham independência face aos governos, porque, a dada altura, se a inflação começar a sair de controlo, vão ter de tomar medidas que são pouco populares e que podem provocar o aumento do desemprego, e provocar uma reação da população, dos governantes.

Carteira diversificada

Entende que o problema inflacionista a existir, e há dúvidas sobre isso, será nos Estados Unidos, onde o pacote de estímulos fiscais foi realmente muito grande face à dimensão do choque, que "estão a fazer uma política fiscal de cerca de quatro vezes superior ao choque que sofreram e isso poderá gerar inflação. Foi objetivo das políticas monetárias estimular bastante a economia porque é preferível errar do lado do excesso do que por defeito, como no passado", considera Mário Carvalho Fernandes.

As matérias-primas servirão de seguro para uma carteira diversificada. Mário Carvalho Fernandes
CIO do Banco Carregosa 
Se houver esse descontrolo será importante que o banco central seja independente, e nos Estados Unidos, que é onde esse problema poderá existir, "as instituições dão-nos essa segurança de que efetivamente o banco central vai tomar as medidas necessárias para manter a inflação controlada. Até porque também já tiveram a experiência do passado, onde foram lentos a reagir. Creio que desta vez não voltará a acontecer".

Mário Carvalho Fernandes afirmou que a tendência deverá ser para os preços continuarem dentro da sua tendência de deflação a que se assiste ao longo das últimas décadas, até porque as tendências se mantêm, como a demografia não se alterou, a revolução tecnológica, o processo de globalização que tem sido deflacionista ao longo de todos estes tempos, está a sofrer algumas alterações, mas não vai desaparecer. Concluiu que a "inflação não é um problema quando há um valor anómalo num determinado mês, será um problema apenas quando se forma nova tendência".

Neste ambiente com taxas de juro negativas é necessário, segundo Mário Carvalho Fernandes, procurar ativos financeiros com um nível de risco superior para conseguir retornos superiores. Mas não há uma garantia que os ativos financeiros de maior risco aumentem o retorno esperado, aumentem a amplitude dos retornos esperados e, por isso, também existe a possibilidade de os investimentos correrem menos bem e os investidores tem que estar preparados para esses cenários.

Neste contexto em que se vislumbra crescimento económico, mas uma grande incerteza em termos de inflação, "a carteira deverá ser constituída por uma carteira diversificada de vários tipos de ativos, em que se tente no fundo mitigar a exposição ao risco de inflação com a aposta também em alguns setores acionistas que poderão beneficiar dessa inflação, nomeadamente os setores de matérias-primas por exemplo, que à partida servirão de seguro para uma carteira diversificada num cenário em que a inflação se materialize", explica Mário Carvalho Fernandes.

Grande conferência A 2 de junho realizou-se a grande conferência Talking Money | que contou a participação de Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisbon, e de António Nogueira Leite, economista, como keynote, tendo por tema: The Economy and the Markets: the Months Ahead. No debate "O Valor do Dinheiro", com moderação de Diana Ramos, diretora do Jornal de Negócios, estiveram presentes Hugo Gerald Freitas, responsável de Produtos Investimento, Abanca, José Miguel Calheiros, diretor-geral, Bankinter Géstion Ativos - Portugal, e Mário Carvalho Fernandes, CIO, Banco Carregosa.