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Máscaras “protegem” empregos e confeções no Vale do Ave

Especializada em roupa desportiva, a PPTex foi uma das empresas a converter a produção para os artigos de proteção na área da saúde, reduzindo o impacto da crise no vestuário, que já perdeu quase 470 milhões de euros na exportação.

14 de Dezembro de 2020 às 15:30
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Calções, t-shirts, fatos de treino. Até à pandemia, a PPTex estava especializada em artigos para desporto e atividades "outdoor". Angariava clientes, fazia amostras dentro de portas, aprovava modelos e subcontratava o fabrico na região para controlar a qualidade.

Foi esta a rotina da jovem empresa de Santo Tirso até março, quando percebeu que essas encomendas começavam a cair e decidiu criar uma máscara. Volvidos nove meses, os modelos da Protect Others estão à venda nas grandes superfícies, numa loja online que já a fez chegar a 51 países e na cara dos funcionários de organizações como os CTT, BA Vidro, Symington ou das Câmaras de Lisboa, Tavira e Mirandela.

Pouco conhecida e só com seis pessoas na estrutura, o primeiro desafio de Pedro Braga foi convencer as confeções que entravam em lay-off a reativar a laboração, estimando ao Negócios que terá ajudado a salvar 500 empregos em duas dezenas de micro e pequenas empresas do Vale do Ave.

2.700Modelos
O CITEVE já atribuiu o selo de certificação a 2.700 modelos diferentes de máscaras sociais, desenvolvidas por 1.500 empresas.
8,5Faturação
A PPTex, com sede em Santo Tirso, vai fechar este ano com vendas de 8,5 milhões de euros, que comparam com meio milhão em 2019. 
Atualmente com 14 trabalhadores fixos, os novos negócios na área da saúde asseguram mais seis empregos externos na área da comunicação para gerir a marca própria - alberga outros equipamentos de proteção individual (EPI) - e mais oito no embalamento, recrutados num restaurante que fechou portas no primeiro confinamento. A equipa tem uma idade média de 35 anos e várias carreiras "reconvertidas": o comercial era corretor de seguros, o chefe de operações foi consultor da PwC em Singapura e o diretor de logística geriu hotéis no Porto.

Negócio atingiu o "planalto"

O administrador da PPTex, formado em Gestão na Católica, recorda que no início da pandemia "não havia quase concorrência". "Aliás, o conceito de máscara social é posterior ao nosso início de produção", completa. Chegaram a receber 2.500 e-mails por dia e a ter 14 pessoas a atender pedidos de particulares e de empresas, sem conseguir satisfazer a procura.

Braz Costa, diretor do CITEVE, calcula a entrada de 16 mil amostras de artigos covid para certificar, sendo dois terços máscaras e o restante batas cirúrgicas, cobre-sapatos e outros produtos para os profissionais de saúde. No âmbito do selo criado para as máscaras sociais, aprovou 2.700 modelos diferentes, apresentados por 1.500 empresas. No início da crise entravam 400 pedidos por dia; agora recebem 20 a 30, com a taxa de aprovação a rondar os 60%.

Portugal fez bem o seu trabalho nas máscaras, mas esbarrou na legislação de cada país. César Araújo
Presidente da Anivec (associação da indústria do vestuário) 
Fundada há apenas dois anos, a PPTex prepara-se para mudar de instalações pela quarta vez, para acompanhar o crescimento do negócio: de meio milhão de euros em 2019 para 8,5 milhões no final de 2020. A comparar com o "pico" de 35 mil, no atual "planalto" produtivo está a fabricar diariamente 20 mil máscaras, que são agora um "produto de moda".

César Araújo, presidente da associação do setor (Anivec), assinala que "as máscaras e os EPI vieram ajudar a minimizar o impacto da crise, mas o setor não deixou de perder quase 470 milhões de euros até outubro, só nas exportações de vestuário", o que é "uma brutalidade". Outro lamento vai para a escassez de negócio à escala europeia. É que, salienta o dono da Calvelex, "Portugal fez bem o trabalho nas máscaras, mas esbarrou com a legislação de cada país, exigindo testes laboratoriais diferentes", o que foi incomportável para muitas empresas.