Os transportes e a logística são setores de grande importância na economia nacional quer pelo tipo de serviços que prestam quer também pelo volume de negócio gerado e valores que movimentam. Dados da PorData referentes a 2019, no período pré-pandemia, referem que 62% das empresas transitárias importam mercadorias, sendo que 98,99% destas fazem-no dentro da zona comunitária, num volume total de 303 milhões de euros anuais. Os números de exportação indicam que 78,41% das empresas transitárias admitem que realizam trocas com o exterior, num total de 704 milhões de euros. No total, e segundo dados da PorData, este setor representa cerca de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) português.
Um outro estudo da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes tem dados bastante mais recentes, apontando que o volume de carga movimentada nos portos nacionais no mês de junho de 2021, em relação ao mês homólogo de 2020, cresceu 44,9%, atingindo um total de 7,52 milhões de toneladas, acumulando, para o 1.º semestre de 2021 um total de 43,69 milhões de toneladas. Já o mercado de contentores movimentou no 1.º semestre de 2021 um total de 1,54 milhões de TEU, com um crescimento homólogo de 227,5 mil TEU (+17,4%). Os mercados que maior influência exerceram no comportamento global do ecossistema foram os dos Produtos Petrolíferos e da Carga Contentorizada de Sines, com variações respetivas de mais 1,28 milhões de toneladas (+45,6%) e de 954,2 milhares de toneladas (+18,7%).
Já no caso do valor de mercado no campo do transporte rodoviário de mercadorias, a Informa D&B previu uma quebra em 2020, de 8,2% face ao ano 2019. Na última edição do seu estudo "Transporte Rodoviário de Mercadorias-Mercado Ibérico", esta quebra do mercado português contrasta com a quebra ainda maior do mercado espanhol que, segundo a consultora, tem uma descida de 11,4%. Os valores são, sem dúvida, consequência da pandemia de covid-19, que veio afetar negativamente a faturação do setor de transporte rodoviário de mercadorias em Portugal e Espanha. Assim sendo, o mesmo estudo aponta para uma queda de cerca de 11% na faturação em 2020, para os 16.800 milhões de euros; isto, depois de um crescimento anual de mais de 4% no período 2017-2019.
Perspetivas globais
Em termos mais macro, Afonso Jubert Almeida, vice-presidente da APLOG, explica que a logística externa que é quantificável, "representa cerca de 14,7 mil milhões de euros de volume de faturação, 5,7 % do VAB da economia nacional, com mais de 11.000 empresas e envolvendo 2,8% do emprego total nacional".
O crescimento médio anual entre 2014 e 2018 do volume de faturação "foi de 3,7%" e o VAB "de cerca de 6,7%, para o mesmo período". No LPI (Logistics Performance Index) verifica-se "uma evolução positiva da performance da logística nacional em quase todas as vertentes, entre 2014 e 2018, com destaque para as dimensões "International Shipment" e "Timeliness"", refere ainda Afonso Jubert Almeida. O vice-presidente da APLOG adianta ainda que "este setor na economia mundial representa mais de 10% do VAB. No caso de Portugal estará abaixo dos 10%, mas com uma importância crescente".
Números à parte, a pandemia trouxe desafios grandes às organizações da área que estiveram longe de navegar em águas calmas. Entre confinamentos, quebras no negócio e novas demandas a surgir, muitas foram as preocupações do último ano meio.
Desafios a pensar no futuro
Para seguir com eficácia na senda do sucesso, as empresas do setor de logística e transportes devem ser capazes de ultrapassar um vasto conjunto de desafios que vão surgindo no dia a dia. É indispensável adequar as infraestruturas aos desafios logísticos, mas também assegurar uma eficaz gestão dos transportadores ou apostar na segurança de produtos e passageiros. Igualmente determinante é apostar em emprego qualificado em tecnologia que, hoje mais do que nunca, ajuda a imprimir novas dinâmicas no setor.
A ONE considera que, no caso do setor em que atua, "as estratégias e políticas portuárias são fundamentais para a competitividade comercial de um país". Vivemos tempos sem precedentes numa atual "economia de escassez", "onde os recursos passaram a ser escassos por força das disrupções provocadas pela covid-19". Assim sendo, "à inicial escassez de contentores e navios, junta-se a escassez de camiões, motoristas, energia… com impacto nos custos quer das matérias-primas quer dos produtos acabados". Se este é um problema à escala global, em Portugal "é agravado pela nossa periferia, dimensão e visão", diz a ONE. Portugal, nas rotas internacionais, "é fundamentalmente considerado, pelas principais companhias marítimas, um "outport", i.e., é servido por linhas feeder onde o transbordo é feito nos principais portos no norte da Europa ou no mediterrâneo".
Por outro lado, o nosso hinterland "é reduzido quando comparado com os "base ports" e finalmente temos um mercado essencialmente "spot" a nível de fretes". A ONE acredita que "estas três características afetam a nossa competitividade face aos principais portos europeus, o que naturalmente tem impacto também na competitividade da nossa indústria pelo consequente agravamento de custos e de escassez".
Se é evidente "a nossa privilegiada localização geoestratégica nas principais rotas marítimas internacionais não é tão evidente que tenhamos tirado partido dessa condição". Os principais portos no norte da Europa "estão e continuarão congestionados nos próximos tempos pelo que temos atualmente uma enorme oportunidade para atrair mais escalas a Portugal, mas para isso é necessário que as obras previstas para os portos avancem rapidamente", defende ainda a ONE.