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Transportes e Logística Outubro 2021
Notícia

Os novos desafios da aviação civil

Num setor que representava, antes da covid-19, cerca de 4% do PIB das exportações e que foi dos mais atingidos pela pandemia, colocam-se agora novas barreiras que urge ultrapassar.

26 de Outubro de 2021 às 09:20
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O movimento nos aeroportos nacionais registou um crescimento de 76,3% em agosto, face ao mesmo mês do ano anterior, situando-se nos 3,9 milhões de passageiros. Apesar do crescimento, a verdade é que o tráfego caiu 39,9% em comparação com 2019, segundo dados recentes, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

 

O setor da aviação civil foi um dos mais afetados pela pandemia de covid-19, que impôs uma paragem total das frotas de aviões pela proibição de viajar em todo o mundo. Aos poucos, os países foram abrindo as suas fronteiras aéreas, permitindo a entrada e a saída de passageiros e as viagens foram retomando, mas longe ainda dos valores antigos (e habituais).


Diz o INE que, em agosto de 2021, nos aeroportos nacionais movimentaram-se 3,9 milhões de passageiros e que o movimento de carga e correio atingiu as 16,1 mil toneladas, ou seja, mais 76,3% e mais 55,3%, respetivamente, quando em comparação com agosto do ano passado.

 

No entanto, se tivermos em conta agosto de 2019, não só há uma quebra no valor dos passageiros, como também ao nível da carga e correio, com menos 5,2%. Por seu lado, nos aeroportos nacionais aterraram 17,4 mil aeronaves em voos comerciais.

 

Entre janeiro e agosto deste ano, o INE aponta ainda para uma diminuição homóloga de 9,2% no número de passageiros movimentados nos aeroportos nacionais, comparando com o mesmo período de 2019, a redução atingiu mesmo os 70,1%.

 

O INE dá também conta de que os passageiros desembarcados nas infraestruturas aeroportuárias portuguesas chegavam, maioritariamente, do tráfego internacional (74,4% do total dos passageiros desembarcados nos aeroportos), e em grande medida de aeroportos do continente europeu (65,0%). Quanto aos passageiros embarcados, 75,6% corresponderam a tráfego internacional (77,2% no período homólogo), tendo como principal destino também os aeroportos localizados no continente europeu (67,6%).

 

Livro Branco para o setor

 

Os valores dão bem conta do que foram os últimos tempos neste setor. A pensar nessa realidade, a Associação Portuguesa de Transporte e Trabalho Aéreo (APTTA) lançou recentemente o "Livro Branco da Aviação Civil", no qual tira não só a fotografia ao mercado como aponta ainda estratégias a seguir, deixando propostas e uma visão estratégica.

 

Abrangendo trabalho aéreo, transporte aéreo de passageiros e carga, aviação executiva, combate a incêndios, voos de emergência médica e demais atividades colaterais e associadas, a APTTA diz existirem em Portugal "cerca de 250 empresas licenciadas pela ANAC – Autoridade Nacional de Aviação Civil, empregando mais de 25.000 trabalhadores e representando (em condições normais) cerca de 3% do PIB e 4% das exportações".

 

No entanto, a pandemia de covid-19 veio abalar o mundo em março de 2020 e teve "graves consequências para a aviação civil", sublinha a APTTA no seu Livro Branco. Os seus efeitos socioeconómicos ainda estarão por aferir na globalidade, mas segundo a IATA "ultrapassarão os 250 mil milhões de euros". Uma realidade que veio "também trazer à luz vulnerabilidades jamais antecipadas" e as suas consequências levarão anos a contabilizar e a recuperar, razão pela qual tem sido determinante o esforço e apoios encontrados de uma forma transversal por governos a nível mundial", diz a Associação Portuguesa de Transporte e Trabalho Aéreo.

 

O setor sofre também com a falta de profissionais especializados; segundo estudos independentes, citados no Livro Branco, e anteriores ao aparecimento da covid, serão necessários "mais de 600.000 pilotos e 500.000 técnicos de manutenção nos próximos 20 anos, para além de outras profissões complementares no ramo da aeronáutica."

 

Questões ambientais preocupam

 

A Comissão Europeia colocou o tema ambiental no setor da aviação na ordem no dia, ao fazer aprovar, em dezembro de 2020, a "Sustainable and Smart Mobility Strategy – putting European transport on track for the future". E, tendo plena consciência de que relativamente ao problema do aquecimento global, de acordo com a Air Transport Action Group, o setor da aviação é responsável por 2% da emissão de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, com a expectativa de que o número de passageiros possa duplicar nas duas próximas décadas, estes impactos "podem, no mínimo, duplicar durante o mesmo intervalo de tempo", diz a APTTA. No entanto, a associação recorda, no seu Livro Branco, que há já trabalho em marcha para minimizar estas questões. Por exemplo, "tem-se assistido ao desenvolvimento sucessivo de turbinas mais eficientes, em que cada nova geração é pelo menos 10% mais eficiente do que a anterior".

 

E, porque a massa da aeronave determina a potência necessária para a sua propulsão, o outro driver para a redução da fatura energética da aviação é, no entender da APTTA, "o desenvolvimento de novos materiais na construção das aeronaves onde naturalmente a percentagem de componentes estruturais em materiais compósitos tem aumentado gradual, mas sustentadamente."

Existem em Portugal cerca de 250 empresas licenciadas pela ANAC, empregando mais de 25.000 trabalhadores

Clusters de desenvolvimento "made in" Portugal

 

No que ao setor da aviação diz respeito, a Associação Portuguesa de Transporte e Trabalho Aéreo (APTTA) recorda a existência de polos de desenvolvimento de novos produtos aeronáuticos em território nacional, com três clusters concentrados em Évora, Ponte de Sor e Lisboa (Lisboa, Tires e Alverca). No seu Livro Branco para o setor, a APTTA lembra que, apesar de existirem iniciativas de relevo em outros aeródromos/ aeroportos, "destacam-se neste momento como clusters do setor aeronáutico em Portugal pelo número, dimensão e diversidade das empresas que conseguiram atrair". Se é certo que Lisboa "continua a ser o maior polo de empresas do setor aeronáutico em Portugal", a verdade é que os investimentos que a Embraer tem efetuado em Évora "puseram esta cidade definitivamente no mapa europeu do setor de aviação", defende a associação.

Quanto à Ponte de Sor, a APTTA acredita que "o nível de desenvolvimento hoje verificado resulta de uma aposta muito forte da autarquia numa estratégia coerente de atração de investimento neste setor, como forma de desenvolvimento da região".

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