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25 anos a promover a reciclagem em Portugal

Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, fala sobre os 25 anos de atividade e o futuro desta importante entidade no tratamento e recuperação de resíduos.

20 de Dezembro de 2021 às 07:58
Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde
Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde
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Conscientes do seu papel ativo na evolução da reciclagem em Portugal, a Sociedade Ponto Verde (SPV) quis relembrar os principais marcos alcançados ao longo destes 25 anos, mostrar a visão de futuro e o contributo que vão continuar a dar para a inovação em toda a cadeia de valor das embalagens em Portugal.

 

Que iniciativas estão a desenvolver para celebrar estes 25 anos de atividade?

Reciclamos a nossa personagem mais icónica, o chimpanzé Gervásio, para que seja um agente próximo dos portugueses no alerta para a necessidade de todos fazerem a sua parte em matéria de separação e reciclagem.

Mais de 20 anos passados recuperamos um símbolo único, disruptivo e inovador - ao ponto de ser a campanha de comunicação SPV mais recordada pelos portugueses -, capaz de gerar empatia e ligação emocional à reciclagem ao evocar uma memória comum às gerações mais velhas e despertar o carinho dos mais novos. Foi precisamente a um grupo de crianças, a geração do futuro, que dirigimos o desafio de reciclar esta personagem icónica, dando asas à sua imaginação para criar um Gervásio 2.0, com recurso a embalagens usadas. Regressou este ano numa campanha integrada, com quatro filmes que estiveram "on air" de junho a outubro.


Também através das nossas redes sociais fizemos questão de lembrar e celebrar a data ao longo do ano. No âmbito da nossa missão de sensibilização da população para a importância de continuar a reciclar, desafiámos as nossas comunidades online a participar no passatempo "Juntos a Reciclar, todos a festejar!" em que premiámos a capacidade de criatividade na confeção de um bolo de banana – o preferido do Gervásio - e o conhecimento sobre a correta separação das embalagens utilizadas.

 

Reforçámos ainda o papel do projeto Ponto Verde Lab, consolidando o papel da inovação no SIGRE, agregando as áreas de I&D e Prevenção sobre esta marca. Neste âmbito, o lançamento da primeira edição do Re-Source, um programa de aceleração da inovação colaborativa para a reciclagem, marca também esta data especial revelando uma vez mais o nosso compromisso de continuarmos a inovar e a pensar como é possível ultrapassar os desafios atuais e futuros do setor.

 

 

Estas duas décadas e meia são também um reflexo da evolução da reciclagem em Portugal. Qual foi o ponto de partida em termos de reciclagem em 1996 e como evoluiu a reciclagem ao longo deste período de tempo?

O ponto de partida foi mesmo o zero. A Sociedade Ponto Verde foi constituída em 1996 e, nessa altura, Portugal era um país muito diferente. A reciclagem era desconhecida e não existia um sistema eficaz que possibilitasse o devido encaminhamento e reaproveitamento dos resíduos, até então considerados "lixo".

 

Assim, em 1998, quando iniciámos o trabalho de recolha seletiva, foram encaminhadas para reciclagem 1500 toneladas de embalagens, abrangendo apenas 18,1% da população. Em 2005 já foram quase 197 mil toneladas. Estamos em 2021 e, no mês de outubro, chegámos às 400 mil toneladas, representando um aumento de 8% face ao período homólogo do ano anterior, e chegamos a todo o território nacional, com uma rede instalada de 60.000 ecopontos.

 

Em 25 anos, a SPV contribuiu para a reciclagem de 9 mil milhões de toneladas de resíduos de embalagens e, de cidadãos nada envolvidos, passámos a 9 em cada 10 portugueses a participar na reciclagem (dados de 2021) e a considerar ser este o comportamento que mais consideram contribuir para a proteção ambiental.

 

Todos estes números revelam o caminho que a SPV tem feito de transformar o conceito de reciclagem de algo desconhecido para uma rotina diária, passando a ser um tema central da discussão ambiental. São dados verdadeiramente positivos, mas sabemos que são muitos os desafios que ainda temos pela frente.

 

Quais os principais marcos da Sociedade Ponto Verde em termos de reciclagem?

Sem dúvida que o principal marco da SPV foi colocar os portugueses a reciclar. Quando começamos a população estava muito pouco familiarizada com o termo e com a sua importância, e muito menos com o hábito de separar resíduos.

Foi necessário criar um sistema que permitisse a recolha seletiva de resíduos de embalagens e depois, claro, investir muito na educação e sensibilização para a reciclagem. A comunicação tem sido fundamental para levar mais portugueses a aderir à reciclagem. É um trabalho contínuo, que agrega um valor acumulado de mais de 50 milhões investidos em ações de comunicação e sensibilização pela SPV em 25 anos. Mas, como vimos, com resultados positivos. Na última década as preocupações dos portugueses em relação ao ambiente têm vindo a evoluir de forma muito favorável.

 

A transformação de hábitos é, por isso, um dos grandes marcos. É interessante verificar que os principais motivos que levam os portugueses a separar embalagens são a "forte consciência ambiental" (79,1%), o civismo (72,2%) e o reaproveitamento dos resíduos em novos produtos (54,4%). Estes dados revelam que o ambiente, em geral, e a reciclagem, em particular, passaram a estar na agenda de Portugal e essa é uma das grandes mudanças sentidas nos últimos anos.

 

Também a promoção de melhores embalagens através da inovação é outro dos grandes marcos que deve ser assinalado. A SPV já investiu já mais de 13 milhões de euros na área da inovação e tem estimulado o aparecimento de novas soluções de embalagens mais sustentáveis e em linha com as exigências da economia circular, tendo estado ligada a mais de 40 projetos inovadores. Os resultados nesta área tiveram impacto, tanto ao nível das novas soluções de reciclagem e tecnologias de recolha e tratamento, como nas competências criadas e nas redes e sinergias obtidas.

 

A SPV é financiada pelas empresas em proporção do peso total das embalagens que vendem. Quem são os maiores contribuintes?

Trabalhamos com mais de 8000 empresas, que vão desde a grande distribuição ao pequeno produtor. O setor de atividade com maior peso na SPV, representando mais de metade das quantidades de embalagens declaradas (52%) é o setor das Bebidas, devido ao elevado peso das garrafas de vidro. Seguem-se os setores dos Bens Alimentares e da Distribuição, com respetivamente 21% e 14% do peso total de embalagens declaradas (dados de 2020).

 

Que iniciativas desenvolvem com o tecido empresarial para minimizar os efeitos do desperdício?

A plataforma Ponto Verde LAB e o Marketing Partilhado são duas das iniciativas implementadas pelas SPV cujo resultado tem impacto na minimização dos efeitos do desperdício.

A plataforma Ponto Verde LAB foi desenvolvida inicialmente com o objetivo de atuar ao nível da prevenção, contribuindo com soluções para a redução da nocividade e impacto no ambiente de materiais e substâncias utilizadas nas embalagens em todas as fases do processo de produção, comercialização, distribuição, utilização e eliminação.

Tendo esta génese na sua origem, de uma forma muito natural evoluiu para ser uma plataforma impulsionadora da inovação em toda a cadeia de valor da reciclagem, passando a integrar projetos de investigação e desenvolvimento da SPV.


Tem procurado apoiar os produtores/embaladores no desenvolvimento de conceitos que contribuam para tornar as embalagens mais fáceis de reciclar. Na plataforma têm sido disponibilizados conteúdos essenciais à conceção de embalagens mais sustentáveis, sendo que a redução e reciclabilidade são conceitos transversais a todo o sector.


Através do Marketing Partilhado as marcas têm à disposição um conjunto de ferramentas de marketing para apoiar a sua comunicação com os consumidores, com mensagens esclarecedoras, ao mesmo tempo que sensibilizam e mobilizam para a sustentabilidade e economia circular. No caso específico da reciclagem das embalagens, todas as plataformas de comunicação contam e as próprias embalagens são um suporte de comunicação – devem ser pensadas e concebidas com este desígnio.

 

Que margem existe para melhorar a reciclagem e melhorar a economia circular?

Ainda há muito trabalho a desenvolver para ativar a economia circular, onde mais e melhor reciclagem é essencial. Com as ambiciosas metas da reciclagem nacionais que temos pela frente, impõe-se esta melhoria.

Precisamos de embalagens cada vez mais sustentáveis ao longo de todo o seu ciclo de vida. Embalagens que consumam menos matéria-prima e recorram mais a matéria secundária, inteligentes, com mais informação para o consumidor e que facilite a sua própria reciclagem. Neste domínio do packaging a margem de melhoria é ainda muito elevada.


Também ao longo de toda a cadeia de valor da gestão de resíduos é possível encontrar margem para melhoria, implementando processos que, por exemplo, tornem a reciclagem mais eficaz e que resultem num crescimento da taxa de reciclagem. A começar pela recolha dos resíduos que precisa de evoluir para prestar um melhor serviço aos cidadãos e estes possam reciclar mais. Por exemplo, com a introdução de sistemas de recolha porta a porta, que preservem a qualidade das matérias-primas para reciclagem. 


Por fim, é igualmente necessário continuar a mobilizar os consumidores para que participem na separação dos resíduos, informando e esclarecendo quaisquer dúvidas que ainda subsistam. Este é um trabalho contínuo a que nos dedicamos há 25 anos e que, embora tenhamos conseguido mobilizar muitos portugueses, é necessário continuar a envolvê-los, através de campanhas de comunicação, educação e sensibilização, tornando-os conscientes do seu papel crucial para o sucesso da reciclagem.

As marcas devem também abraçar este dever prestando mais informação aos seus consumidores, desde logo, através das embalagens, podendo sempre contar com o apoio da SPV para tal.

 

A SPV foi uma das entidades que subscreveu a meta de alcançar 75% de recolha para reciclagem de todas as embalagens de vidro que são colocadas no mercado. O que é necessário fazer/mudar para alcançar esta meta?

A cooperação entre todos os agentes do setor, mobilizados para trabalhar no mesmo sentido, assumindo um mesmo compromisso, é, sem dúvida, imprescindível para alcançar os 75% de recolha de embalagens de vidro para reciclagem. Esta é uma meta ambiciosa, que antecipa em 5 anos o compromisso nacional para 2030 e, para isso, só mesmo através de uma mesma vontade, de um mesmo objetivo com o qual todos se comprometam e com um plano de ação conjunto é possível lá chegar.

Precisamos ainda de melhorar o serviço, adequando os sistemas de recolha e de mais adesão do canal HORECA à separação. Neste âmbito assinamos recentemente um protocolo de colaboração com a AHRESP para promover as melhores práticas de reciclagem nos estabelecimentos de restauração, similares e alojamentos turísticos. É de extrema importância a promoção de sinergias de atuação como esta, para dar um impulso efetivo no que respeita à reciclagem de embalagens e à sustentabilidade ambiental. Globalmente também irá ter efeitos na eficiência e em ganhos económicos e ambientais em setores estratégicos como são o canal HORECA e o Turismo.

 

Que papel desempenha a inovação na melhoria da reciclagem?

A inovação desempenha um papel fundamental na melhoria da reciclagem, nomeadamente para encontrar as respostas e soluções necessárias para embalagens mais sustentáveis, eficácia da cadeia valor e mobilização dos consumidores conforme referimos atrás. Tem pautado a atividade da SPV ao longo dos seus 25 anos de atividade, é o centro do nosso posicionamento e agora, mais do que nunca, é um dos instrumentos que temos à disposição para impulsionar a reciclagem e a economia circular.

É através da inovação e da tecnologia que conseguiremos atingir o cumprimento das exigentes metas de reciclagem e também cumprir com a regulamentação europeia ao nível da utilização dos plásticos.

A investigação e o desenvolvimento serão a "espinha dorsal" de novos métodos de reciclagem de embalagens e contribuirão até para o desenvolvimento de uma "indústria" da reciclagem em Portugal. A inovação, que é central em toda a estratégia da transição verde, vai desde a procura de embalagens "eco friendly" até ao consumo de produtos com menos impacto no ambiente, passando pela reutilização de embalagens. Melhores embalagens, maior recuperação de material, material com mais qualidade e com melhor capacidade de reintrodução no mercado. Mais circularidade e menos resíduos.

Faz todo o sentido no setor da reciclagem desenvolver conceitos associados à indústria 4.0, aproveitar as potencialidades do ecodesign, estimular novas práticas baseadas na inteligência artificial e na gestão de dados. Através da plataforma Ponto Verde LAB, a SPV tem procurado apoiar projetos de Inovação & Desenvolvimento que constituam soluções para a reciclabilidade das embalagens, beneficiando toda a cadeia de valor: fabricantes, embaladores, municípios, recicladores e demais intervenientes na gestão de embalagens e dos resíduos de embalagens.

 

Há uma forte redução na procura de embalagens de plástico? É expetável ver o fim das embalagens descartáveis de plástico dentro de cinco anos?

A diretiva de Plásticos de Uso Único (SUP), recentemente transposta para os estados-membros da UE e em vigor em Portugal desde 3 de julho deste ano, foi criada com o propósito de resolver o grave problema ambiental que advém do descarte de plástico que ocorre a nível global. Ninguém foi apanhado de surpresa por esta diretiva, pelo problema que existe e é reconhecido por todos na utilização material e pela necessidade de cumprir com as metas da reciclagem.

É de sublinhar que a prioridade não passa por eliminar totalmente o plástico, mas sim por encontrar o melhor plástico e usá-lo da melhor forma possível, até porque se trata de um material com valor e com adequação à proteção de bens alimentares.

 

Em que ponto se encontra Portugal no cumprimento das metas europeias de reciclagem?

Quando olhamos para as metas globais em termos de reciclagem de todos os materiais, a verdade é que Portugal não está a cumprir os objetivos. No entanto, o país tem no setor das embalagens um bom exemplo a seguir. As metas da reciclagem (55%) são cumpridas e no caso do plástico e até do papel-cartão, são ultrapassadas. As embalagens são o único fluxo de resíduos urbanos a cumprir as metas nacionais para a reciclagem.

O desempenho do setor reflete o contributo da Sociedade Ponto Verde (SPV) em articulação com as empresas embaladoras e Sistemas de recolha e gestão de resíduos, para aumentar as quantidades recicladas. Ainda assim, não é altura de parar. Continuamos a precisar de mais e melhor reciclagem, já que o grande objetivo até 2025 é chegar a 65% de reciclagem de todas as embalagens colocadas no mercado.

Para aqui chegarmos, e como já referirmos, é preciso um esforço conjunto de todos os agentes do setor, alicerçado na inovação, investigação, tecnologia e digitalização, assim como do envolvimento do consumidor, a quem precisamos de continuar a sensibilizar para a necessidade e importância de reciclar.

 

Onde existe uma maior consciência da necessidade de reciclar e reduzir a pegada de carbono? Junto do cidadão comum ou das empresas?

Se o que está em causa é a necessidade de uma nova abordagem à forma como se produz e consome a nível global, o que precisamos para aliviar esse problema é combinar uma atuação responsável por parte dos cidadãos e das empresas. Só em conjunto é que é possível impulsionar a mudança. E o que temos assistido é que quer os cidadãos quer as empresas pressionam e são pressionados, seja pela sua consciência, pela legislação ou pelo seu posicionamento.

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